As memórias colectivas do descobrimento do Brasil: imagem comum e juízos diferenciados nas populações portuguesa e brasileira
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2003 |
Outros Autores: | , |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492003000200002 |
Resumo: | O artigo trata da actualização da memória do descobrimento do Brasil em função da comemoração do seu quinto centenário. Considerando a memória colectiva como o conjunto de representações sociais acerca do passado, tomou-se como referencial teórico a abordagem psicossocial estrutural, segundo a qual o sistema central de uma representação está ligado à memória colectiva e à história do grupo que a sustenta. Para o levantamento do conteúdo do sistema central e dos elementos periféricos, aplicou-se, por volta de Abril de 2000, a técnica de evocação livre a sujeitos adultos com escolarização mínima de oito anos, sendo 500 portugueses, em Lisboa, e 789 brasileiros, distribuídos pelas cinco regiões geográficas do país. Os dados foram tratados através do software EVOC, de análise das evocações. Os resultados obtidos a partir das duas amostras globais mostram que o central na representação social do descobrimento é a imagem descritiva maciçamente divulgada no nível elementar da educação escolar: os índios, as caravelas, Cabral, o mar (para os brasileiros) e as praias (para os portugueses). A essa memória primordial acrescentam-se, em nível periférico, duas outras ordens de evocação: em primeiro lugar, a escravidão e a exploração das riquezas brasileiras, como um juízo crítico consolidado no âmbito das duas amostras; em segundo lugar e evocados apenas pela amostra brasileira, o massacre dos índios e o termo invasão, para desqualificar o descobrimento, como críticas mais recentes, geradas no contexto polémico da comemoração do quinto centenário de 1492. Em lugar deste último juízo, os portugueses preferem exaltar a figura dos navegadores e a aventura a que se lançaram para descobrir o Brasil. São, ainda, apresentados e discutidos resultados comparativos entre os seguintes recortes da amostra brasileira: quanto ao grau de escolaridade (primária, média, superior); quanto à idade (18 a 34 anos, 35 a 49 anos, 50 anos ou mais); quanto à orientação política (direita, esquerda e sem definição política); quanto à pertença ou referência nacional / étnica (brasileira, latino-americana, descendente de portugueses, branca, índia e descendente, negra e descendente). Conclui-se que as estruturas das representações dessas subdivisões da população brasileira são muito semelhantes, mas apresentam diferenças suficientes para confirmar a proposição clássica de que as memórias colectivas são tão numerosas quanto os grupos sociais que buscam recordar o seu passado ou representá-lo. |
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