A relação médico-doente face aos avanços tecnológicos da medicina nos séculos XIX e XX : haverá sempre ganhos?

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Tadeu, José Pedro de Sousa
Data de Publicação: 2009
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.6/3333
Resumo: Introdução: Estes são tempos estranhos, em que estamos mais saudáveis que nunca, mas simultaneamente, mais ansiosos com a nossa saúde (Roy Porter). Os séculos XIX e XX foram os mais ricos em termos de avanços médicos, mudanças sociais e penetração da profissão médica na sociedade. Esta mudança radical da saúde levantou questões que ainda hoje se mantêm. Tentarei dar resposta a estas perguntas no texto que se segue. Objectivo: Realizar uma reflexão histórica sobre a evolução da relação médico-doente focada na influência determinante dos avanços tecnológicos verificados no campo da medicina, durante os séculos XIX e XX. Métodos: pesquisa bibliográfica em livros, artigos e conteúdos online usando palavras-chave associadas ao tema. Discussão: O século XIX foi caracterizado por revoluções em todos os sectores da sociedade. Marcado pela Revolução Napoleónica, o ensino médico foi modificado. A anatomia, o laboratório e a epidemiologia tornaram-se parte fundamental do exercício da medicina. As descobertas de novos métodos diagnósticos sucediam-se a uma velocidade estonteante. Concomitantemente, a Revolução Industrial provocou profundas alterações sóciodemográficas. O ambiente nefasto das novas metrópoles levou a novas crises sociais, com epidemias e taxas de mortalidade nunca antes vistas. Criou-se o ambiente propício ao desenvolvimento de sistemas públicos de saúde, controlados pelo Estado, que pudessem solucionar estes problemas da população. Apesar dos avanços presentes, as grandes mudanças deveram-se à intervenção do Estado na melhoria das condições de vida das pessoas. A Medicina era impotente perante a doença, embora soubesse, melhor do que nunca, diagnosticá-la. Tudo mudou no século XX. As infecções foram finalmente vencidas, a cirurgia realizava verdadeiros milagres, novas técnicas diagnósticas permitiam visualizar directamente o órgão vivo. Mas toda esta tecnologia levou a um distanciamento entre médico e doente. As novas patologias crónicas continuavam sem cura. E a medicina não conseguiu cumprir a sua promessa de curar todas as doenças. Tensões profissionais e sociais também foram parte do novo dilema da medicina: a própria humanidade. Conclusão: A melhor hora da medicina pode ser também o amanhecer dos seus problemas. Durante muitos séculos a medicina foi impotente mas não era problemática. Dos gregos até à Primeira Guerra Mundial, as suas funções eram simples. Hoje, tendo controlado muitas doenças, antes mortais, aprimorado o parto e dominado a dor, desígnio magnânimo, os seus triunfos dissolvem-se na sua desorientação. A medicina levou a expectativas inflacionadas, que o público rapidamente aceitou como verdades. Mas à medida que as expectativas sobem, mais inatingíveis se tornam. A medicina tem pois um árduo trabalho à sua frente: estabelecer os seus limites e redefinir os seus objectivos.
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Discussão: O século XIX foi caracterizado por revoluções em todos os sectores da sociedade. Marcado pela Revolução Napoleónica, o ensino médico foi modificado. A anatomia, o laboratório e a epidemiologia tornaram-se parte fundamental do exercício da medicina. As descobertas de novos métodos diagnósticos sucediam-se a uma velocidade estonteante. Concomitantemente, a Revolução Industrial provocou profundas alterações sóciodemográficas. O ambiente nefasto das novas metrópoles levou a novas crises sociais, com epidemias e taxas de mortalidade nunca antes vistas. Criou-se o ambiente propício ao desenvolvimento de sistemas públicos de saúde, controlados pelo Estado, que pudessem solucionar estes problemas da população. Apesar dos avanços presentes, as grandes mudanças deveram-se à intervenção do Estado na melhoria das condições de vida das pessoas. A Medicina era impotente perante a doença, embora soubesse, melhor do que nunca, diagnosticá-la. Tudo mudou no século XX. As infecções foram finalmente vencidas, a cirurgia realizava verdadeiros milagres, novas técnicas diagnósticas permitiam visualizar directamente o órgão vivo. Mas toda esta tecnologia levou a um distanciamento entre médico e doente. As novas patologias crónicas continuavam sem cura. E a medicina não conseguiu cumprir a sua promessa de curar todas as doenças. Tensões profissionais e sociais também foram parte do novo dilema da medicina: a própria humanidade. Conclusão: A melhor hora da medicina pode ser também o amanhecer dos seus problemas. Durante muitos séculos a medicina foi impotente mas não era problemática. Dos gregos até à Primeira Guerra Mundial, as suas funções eram simples. Hoje, tendo controlado muitas doenças, antes mortais, aprimorado o parto e dominado a dor, desígnio magnânimo, os seus triunfos dissolvem-se na sua desorientação. A medicina levou a expectativas inflacionadas, que o público rapidamente aceitou como verdades. Mas à medida que as expectativas sobem, mais inatingíveis se tornam. A medicina tem pois um árduo trabalho à sua frente: estabelecer os seus limites e redefinir os seus objectivos.Introduction: These are strange times, in which we are healthier then ever but, simultaneously, more anxious about our health (Roy Porter). The centuries 19th and 20th were the richest in terms of medical breakthroughs, social changes and penetration of the medical profession into society. This radical change in health raised questions that are still today standing. I will try to answer them in the following text. Objective: To make a historical reflexion about the evolution of the relationship physicianpatient focused in the determinant influence of technological breakthroughs verified in the medical field, during the 19th and 20th centuries. Methods: Bibliographic research in books, articles and online contents using keywords associated with the main subject. Discussion: The 19th century was characterized by revolutions in every of society’s sectors. Marked by the Napoleonic Revolution, medical teaching was modified. Anatomy, laboratory and epidemiology became a fundamental part of medical practice. The discoveries of new diagnostic methods followed at an astonishing speed. At the same time, the Industrial Revolution provoked profound socio-demographic changes. The toxic environment of the new metropolis led to new social crisis, with epidemics and mortality rates never seen before. The mood was set for the creation of public health systems, controlled by the state, was set which could control the population’s problems. Albeit all the advances present, the great changes were due to the intervention of the state in bettering the living standards of the people. Medicine was powerless against the disease, although it knew, better then ever, how to diagnose it. Everything changed in the 20th century. Infections were finally beaten, surgery performed true miracles, new diagnostic techniques allowed the direct visualization of the living organ. But al this technology led to physicians and patients to grow apart. New chronic pathologies remained incurable. And medicine couldn’t follow up to its promise of healing all the diseases. Professional and social tensions were also part of the new medical dilemma: humanity itself. Conclusion: The finest hour of medicine may be, as well, the dawn of all its problems. During many centuries medicine was impotent but was not problematic. From the Greeks until the First World War, its mission was simple. Today, having controlled many diseases, before deadly, having expertise on child labour and dominated pain, its ultimate goal, its triumphs meld in its disorientation. Medicine took to over inflated expectative, which the public quickly accepted as the truth. But as expectations rise, the more unreachable they become. Medicine has laborious work ahead of it: establish its limits and redefine its objectives.Gonçalves, António Lourenço MarquesuBibliorumTadeu, José Pedro de Sousa2015-05-12T11:24:56Z20092009-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.6/3333porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-15T09:39:42Zoai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/3333Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:44:47.018012Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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