Variação na concordância verbal - um estudo sobre o verbo haver existencial

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fernandes, Vera Catarina Neves
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/151703
Resumo: A estrutura com o verbo haver existencial encontra-se em variação no sistema. Possui uma forma normativa consagrada em gramáticas e dicionários que é ensinada nas escolas, mas também uma forma não normativa que é utilizada pelos falantes, tanto que, apesar de ser normativamente um verbo impessoal transitivo direto, é possível encontrar dados empíricos em textos veiculadores da norma-padrão em que manifesta concordância com o seu argumento interno. Segundo Raposo (2013b), a construção sintática com concordância em número dá-se principalmente quando o verbo haver está no pretérito imperfeito do indicativo ou quando ocorre como verbo pleno em perífrases verbais. O verbo haver existencial não atribui papel temático externo e ainda assim atribui Caso acusativo, contrariando a Generalização de Burzio (Burzio, 1986) e tornando-se um verbo atípico no sistema. As estruturas com concordância vão no sentido de o tornar mais regular e de o fazer funcionar como os outros verbos inacusativos em que o argumento interno passa a funcionar como sujeito gramatical e recebe caso nominativo. Esta reanálise do verbo haver existencial como sendo um verbo inacusativo é um fenómeno que pode ser enquadrado com outros fenómenos na língua portuguesa, nos quais também se verifica variação. Pode enquadrar-se numa família de construções que envolvem expletivos na posição de sujeito (Cardoso, Carrilho & Pereira, 2011; Carrilho, 2003), à semelhança do que se verifica, por exemplo, no inglês com o contraste entre os expletivos it e there. Também no caso do verbo haver existencial poderão ocorrer dois expletivos nulos: um com traços de pessoa e número e que verifica a concordância com o verbo (construção sem concordância, 3ª pessoa do singular); e outro que não tem traços de pessoa - número e faz uma relação de associação com o SN pós-verbal e é esse SN que acaba por verificar os traços (construção com concordância, 3ª pessoa do plural). O objetivo deste trabalho foi estudar o grau de aceitabilidade das estruturas com e sem concordância do verbo haver existencial e verificar até que ponto as estruturas com concordância estão integradas na gramática implícita dos falantes e quais os fatores condicionadores dos padrões de concordância. Neste estudo, 28 falantes monolingues de português europeu, a frequentar o ensino superior, realizaram duas tarefas de juízo de aceitabilidade: uma com pressão de tempo e outra sem pressão de tempo. Os participantes tinham de avaliar a aceitabilidade de frases com o verbo haver numa escala de Likert. Foram manipuladas diferentes variáveis linguísticas, incluindo a concordância (com e sem concordância), o tipo de forma verbal (simples ou perifrástica), o tempo verbal (pretérito perfeito ou imperfeito) e o tipo de verbo auxiliar (semiauxiliar modal ou temporal). A análise mostrou que, na tarefa sem pressão de tempo, as construções com concordância são mais aceites com formas verbais perifrásticas do que com verbos simples, com os quais tendem a ser rejeitadas; e as construções sem concordância são mais aceites com verbos simples do que com formas perifrásticas. Na tarefa com pressão de tempo, as construções com concordância são aceites tanto com formas verbais simples como perifrásticas; e as construções sem concordância são mais aceites com as formas verbais simples do que com as perifrásticas. Estes resultados confirmam que existe sensibilidade a diferentes fatores linguísticos na manifestação de concordância com o verbo haver e parecem indicar que a construção com concordância, em alguns contextos, está já integrada na gramática implícita dos falantes.
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O verbo haver existencial não atribui papel temático externo e ainda assim atribui Caso acusativo, contrariando a Generalização de Burzio (Burzio, 1986) e tornando-se um verbo atípico no sistema. As estruturas com concordância vão no sentido de o tornar mais regular e de o fazer funcionar como os outros verbos inacusativos em que o argumento interno passa a funcionar como sujeito gramatical e recebe caso nominativo. Esta reanálise do verbo haver existencial como sendo um verbo inacusativo é um fenómeno que pode ser enquadrado com outros fenómenos na língua portuguesa, nos quais também se verifica variação. Pode enquadrar-se numa família de construções que envolvem expletivos na posição de sujeito (Cardoso, Carrilho & Pereira, 2011; Carrilho, 2003), à semelhança do que se verifica, por exemplo, no inglês com o contraste entre os expletivos it e there. Também no caso do verbo haver existencial poderão ocorrer dois expletivos nulos: um com traços de pessoa e número e que verifica a concordância com o verbo (construção sem concordância, 3ª pessoa do singular); e outro que não tem traços de pessoa - número e faz uma relação de associação com o SN pós-verbal e é esse SN que acaba por verificar os traços (construção com concordância, 3ª pessoa do plural). O objetivo deste trabalho foi estudar o grau de aceitabilidade das estruturas com e sem concordância do verbo haver existencial e verificar até que ponto as estruturas com concordância estão integradas na gramática implícita dos falantes e quais os fatores condicionadores dos padrões de concordância. Neste estudo, 28 falantes monolingues de português europeu, a frequentar o ensino superior, realizaram duas tarefas de juízo de aceitabilidade: uma com pressão de tempo e outra sem pressão de tempo. Os participantes tinham de avaliar a aceitabilidade de frases com o verbo haver numa escala de Likert. Foram manipuladas diferentes variáveis linguísticas, incluindo a concordância (com e sem concordância), o tipo de forma verbal (simples ou perifrástica), o tempo verbal (pretérito perfeito ou imperfeito) e o tipo de verbo auxiliar (semiauxiliar modal ou temporal). A análise mostrou que, na tarefa sem pressão de tempo, as construções com concordância são mais aceites com formas verbais perifrásticas do que com verbos simples, com os quais tendem a ser rejeitadas; e as construções sem concordância são mais aceites com verbos simples do que com formas perifrásticas. Na tarefa com pressão de tempo, as construções com concordância são aceites tanto com formas verbais simples como perifrásticas; e as construções sem concordância são mais aceites com as formas verbais simples do que com as perifrásticas. Estes resultados confirmam que existe sensibilidade a diferentes fatores linguísticos na manifestação de concordância com o verbo haver e parecem indicar que a construção com concordância, em alguns contextos, está já integrada na gramática implícita dos falantes.The structure with the existential verb haver is in variation in the system. It has a normative form enshrined in grammars and dictionaries that is taught in schools, but also a non-normative form that is used by speakers, so much so that, although it is normatively a direct transitive impersonal verb, it is possible to find empirical data in standard texts in which it occurs in agreement with its internal argument. According to Raposo (2013b), the syntactic construction with number agreement occurs mainly when the verb haver is in the imperfect tense of the indicative or when it occurs as a main verb in verbal periphrases. The existential verb haver does not assign an external thematic role and yet it assigns accusative case, contrary to Burzio's generalization (Burzio 1986) and becoming an atypical verb in the system. The structures with agreement make it more regular and make it function like the other unaccusative verbs, where the internal argument functions as the grammatical subject and receives nominative case. This reanalysis of the existential verb haver as an unaccusative verb is a phenomenon that can be framed with other phenomena in the Portuguese language, in which variation also occurs. It may fit into a family of constructions involving expletives in the subject position (Cardoso, Carrilho & Pereira, 2011; Carrilho, 2003), similarly to what happens, for example, in English with the contrast between the expletives it and there. Also, in the case of the existential verb haver there may be two null expletives: one with person-number features that check the agreement with the verb (construction without agreement, 3rd person singular); and another that has no person-number features and establishes an association relation with the post-verbal NP and it is this NP that ends up checking the features (construction with agreement, 3rd person plural). The objectives of this dissertation are to study the degree of acceptability of the structures with and without agreement of the existential verb haver and to examine to what extent the structures with agreement are part of the implicit grammar of the speakers and what factors condition the agreement patterns. In this study, 28 monolingual speakers of European Portuguese, attending higher education, performed two acceptability judgement tasks: a speeded task and an untimed task. Participants had to rate the acceptability of sentences with the verb haver on a Likert scale. Different linguistic variables were manipulated, including agreement (with and without agreement), verb form (simple vs. periphrastic), verb tense (preterite vs. imperfect) and auxiliary verb (modal or temporal semiauxiliary). The analysis showed that, in the untimed task, constructions with agreement are more accepted with periphrastic verb forms than with simple verbs, with which they tend to be rejected; and constructions without agreement are more accepted with simple verbs than with periphrastic forms. In the timed task, constructions with agreement are accepted with both simple and periphrastic verb forms; and constructions without agreement are accepted more with simple than with periphrastic verb forms. These results confirm that different linguistic factors condition the use of agreement with the verb haver and seem to indicate that the construction with agreement, in some contexts, is already integrated into the speakers’ implicit grammar.Teixeira, Joana Alexandra VazGonçalves, Maria Fernandes Homem de Sousa LoboRUNFernandes, Vera Catarina Neves2023-04-10T14:32:15Z2023-01-052022-11-142023-01-05T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/151703TID:203212150porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T05:34:05Zoai:run.unl.pt:10362/151703Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:54:40.390723Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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