Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pinto, João Ricardo da Silva
Data de Publicação: 2004
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/90883
Resumo: A tese que apresento tem por finalidade mostrar de que forma um elemento das Marchas Populares de Lisboa (MPL) – a música – tem desempenhado um papel importante na construção dos parâmetros de identidade social da cidade e dos seus bairros. A música é aqui entendida como a expressão ao nível sonoro de uma actividade complexa, que se desenvolve em sociedade. Isto é, as MPL não acontecem na sociedade, mas fazem parte desta e ajudam a construí-la. Consequentemente, não é só a música que acontece em sociedade, mas a sociedade é algo que também acontece na música. Esta dialéctica dá-se a conhecer na performação musical. “Prática que evoca e organiza memórias colectivas e experiências presentes de um lugar com uma intensidade, poder e simplicidade incomparável com qualquer outra actividade social”. (Stokes 1994:3, trad. autor) Esta capacidade da performação justifica o seu estudo, pois fornece os significados através dos quais as identidades bairristas são construídas e modificadas. Torna-se assim um elemento analítico para conhecermos os “lugares” construídos 7 através da música e as hierarquias sociais de ordem moral e política. Ou seja, a cidade, os bairros e as suas gentes. O envolvimento do nome de uma cidade numa actividade, não é por si só reveladora da presença de uma actividade urbana. Contudo, no caso em estudo estamos perante uma actividade cultural urbana, pelo facto de esta se apoiar num conceito urbano: o bairrismo. Outro facto que caracteriza as MPL como uma actividade urbana é a sua organização nocturna. Na década de 1930 seria impossível a sua organização num espaço rural, pois não existia iluminação pública. Segundo alguns autores, as MPL surgiram da necessidade de controlar as antigas marchas que aconteciam espontaneamente nos bairros fora do domínio do poder político. Mas o facto do concurso das MPL ter surgido em plena ascensão do regime político salazarista, e de ter sido idealizado por Leitão de Barros, um nome ligado ao mesmo regime, serão razões suficientes para se afirmar que estamos perante uma tradição inventada pelo poder político? E terá sido o povo pelo seu entusiasmo que levou a Câmara Municipal de Lisboa (CML) a organizar as MPL em 1934, na sua segunda edição, conforme se pode ler na literatura jornalística da época? O que não deixa dúvidas é a organização das MPL, em 1932, por parte de Leitão de Barros a convite do então director do Parque Mayer, Dr. Campos Figueiredo, com o objectivo de dinamizar uma das mais recentes sala de espectáculos da cidade, tendo utilizado elementos pré-existentes da cultura bairrista, aos quais juntou uma componente competitiva.
id RCAP_a8da87e1ad2b788a9019ff72f1c658cb
oai_identifier_str oai:run.unl.pt:10362/90883
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairristaMarchas popularesIdentidade socialMúsica popularDomínio/Área Científica::Humanidades::ArtesA tese que apresento tem por finalidade mostrar de que forma um elemento das Marchas Populares de Lisboa (MPL) – a música – tem desempenhado um papel importante na construção dos parâmetros de identidade social da cidade e dos seus bairros. A música é aqui entendida como a expressão ao nível sonoro de uma actividade complexa, que se desenvolve em sociedade. Isto é, as MPL não acontecem na sociedade, mas fazem parte desta e ajudam a construí-la. Consequentemente, não é só a música que acontece em sociedade, mas a sociedade é algo que também acontece na música. Esta dialéctica dá-se a conhecer na performação musical. “Prática que evoca e organiza memórias colectivas e experiências presentes de um lugar com uma intensidade, poder e simplicidade incomparável com qualquer outra actividade social”. (Stokes 1994:3, trad. autor) Esta capacidade da performação justifica o seu estudo, pois fornece os significados através dos quais as identidades bairristas são construídas e modificadas. Torna-se assim um elemento analítico para conhecermos os “lugares” construídos 7 através da música e as hierarquias sociais de ordem moral e política. Ou seja, a cidade, os bairros e as suas gentes. O envolvimento do nome de uma cidade numa actividade, não é por si só reveladora da presença de uma actividade urbana. Contudo, no caso em estudo estamos perante uma actividade cultural urbana, pelo facto de esta se apoiar num conceito urbano: o bairrismo. Outro facto que caracteriza as MPL como uma actividade urbana é a sua organização nocturna. Na década de 1930 seria impossível a sua organização num espaço rural, pois não existia iluminação pública. Segundo alguns autores, as MPL surgiram da necessidade de controlar as antigas marchas que aconteciam espontaneamente nos bairros fora do domínio do poder político. Mas o facto do concurso das MPL ter surgido em plena ascensão do regime político salazarista, e de ter sido idealizado por Leitão de Barros, um nome ligado ao mesmo regime, serão razões suficientes para se afirmar que estamos perante uma tradição inventada pelo poder político? E terá sido o povo pelo seu entusiasmo que levou a Câmara Municipal de Lisboa (CML) a organizar as MPL em 1934, na sua segunda edição, conforme se pode ler na literatura jornalística da época? O que não deixa dúvidas é a organização das MPL, em 1932, por parte de Leitão de Barros a convite do então director do Parque Mayer, Dr. Campos Figueiredo, com o objectivo de dinamizar uma das mais recentes sala de espectáculos da cidade, tendo utilizado elementos pré-existentes da cultura bairrista, aos quais juntou uma componente competitiva.Carvalho, João Soeiro deRUNPinto, João Ricardo da Silva2020-01-08T11:19:24Z20042020-01-082004-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/90883porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:40:19Zoai:run.unl.pt:10362/90883Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:37:11.382725Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista
title Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista
spellingShingle Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista
Pinto, João Ricardo da Silva
Marchas populares
Identidade social
Música popular
Domínio/Área Científica::Humanidades::Artes
title_short Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista
title_full Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista
title_fullStr Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista
title_full_unstemmed Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista
title_sort Marchas populares de Lisboa : a performação musical na identidade bairrista
author Pinto, João Ricardo da Silva
author_facet Pinto, João Ricardo da Silva
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Carvalho, João Soeiro de
RUN
dc.contributor.author.fl_str_mv Pinto, João Ricardo da Silva
dc.subject.por.fl_str_mv Marchas populares
Identidade social
Música popular
Domínio/Área Científica::Humanidades::Artes
topic Marchas populares
Identidade social
Música popular
Domínio/Área Científica::Humanidades::Artes
description A tese que apresento tem por finalidade mostrar de que forma um elemento das Marchas Populares de Lisboa (MPL) – a música – tem desempenhado um papel importante na construção dos parâmetros de identidade social da cidade e dos seus bairros. A música é aqui entendida como a expressão ao nível sonoro de uma actividade complexa, que se desenvolve em sociedade. Isto é, as MPL não acontecem na sociedade, mas fazem parte desta e ajudam a construí-la. Consequentemente, não é só a música que acontece em sociedade, mas a sociedade é algo que também acontece na música. Esta dialéctica dá-se a conhecer na performação musical. “Prática que evoca e organiza memórias colectivas e experiências presentes de um lugar com uma intensidade, poder e simplicidade incomparável com qualquer outra actividade social”. (Stokes 1994:3, trad. autor) Esta capacidade da performação justifica o seu estudo, pois fornece os significados através dos quais as identidades bairristas são construídas e modificadas. Torna-se assim um elemento analítico para conhecermos os “lugares” construídos 7 através da música e as hierarquias sociais de ordem moral e política. Ou seja, a cidade, os bairros e as suas gentes. O envolvimento do nome de uma cidade numa actividade, não é por si só reveladora da presença de uma actividade urbana. Contudo, no caso em estudo estamos perante uma actividade cultural urbana, pelo facto de esta se apoiar num conceito urbano: o bairrismo. Outro facto que caracteriza as MPL como uma actividade urbana é a sua organização nocturna. Na década de 1930 seria impossível a sua organização num espaço rural, pois não existia iluminação pública. Segundo alguns autores, as MPL surgiram da necessidade de controlar as antigas marchas que aconteciam espontaneamente nos bairros fora do domínio do poder político. Mas o facto do concurso das MPL ter surgido em plena ascensão do regime político salazarista, e de ter sido idealizado por Leitão de Barros, um nome ligado ao mesmo regime, serão razões suficientes para se afirmar que estamos perante uma tradição inventada pelo poder político? E terá sido o povo pelo seu entusiasmo que levou a Câmara Municipal de Lisboa (CML) a organizar as MPL em 1934, na sua segunda edição, conforme se pode ler na literatura jornalística da época? O que não deixa dúvidas é a organização das MPL, em 1932, por parte de Leitão de Barros a convite do então director do Parque Mayer, Dr. Campos Figueiredo, com o objectivo de dinamizar uma das mais recentes sala de espectáculos da cidade, tendo utilizado elementos pré-existentes da cultura bairrista, aos quais juntou uma componente competitiva.
publishDate 2004
dc.date.none.fl_str_mv 2004
2004-01-01T00:00:00Z
2020-01-08T11:19:24Z
2020-01-08
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10362/90883
url http://hdl.handle.net/10362/90883
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799137988981030912