O herói pícaro na Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto e em Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Martinho, Ivone Dias Pereira
Data de Publicação: 2010
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.6/1795
Resumo: Numa época em que as obras de ficção eram povoadas por personagens fantásticas ou heróicas presentes em romances bizantinos, romances de cavalaria, romances mouriscos e tantos outros, La vida de Lazarillo de Tormes de autor desconhecido, publicado em 1554, marca a diferença e dá origem a um novo género que se começou a chamar Romance Picaresco. Um narrador, que é ao mesmo tempo protagonista da história, conta “sus fortunas y adversidades”. A sua narração é marcada por temas recorrentes que constituem a base do romance picaresco: a fome, a representação de certos tipos sociais (o nobre, o eclesiástico, o fidalgo, o louco, o mendigo, entre outros, ou a transgressão de valores sociais da época. A novela Guzmán de Alfarache3, publicada em 1599, ou seja, quarenta e cinco anos depois da publicação de La vida de Lazarillo de Tormes, definiu e deu as características ao romance picaresco, apresentando uma narração de um anti-herói. Assim, o pícaro apresentou-se como um mendigo de baixa condição social e com vontade de mudar e subir de condição social. Para o conseguir, o herói pícaro não hesita em recorrer à fraude e ao engano para tentar escapar à fome e à pobreza. Retomando o modelo epistolar, o romance picaresco apresenta-se como um romance autobiográfico cuja leitura é ditada pelos acontecimentos. Contado na primeira pessoa, o romance picaresco abre geralmente com a narração das origens, onde o mendigo apresenta a sua genealogia. O seu nascimento e a sua infância situam-se no oposto do cavaleiro ou do herói. Ao mesmo tempo narrador e protagonista, o pícaro revela-nos o seu passado e o seu presente, inspirando-se em escritos, autobiografias de personagens ilustres e de soldados, querendo deixar um testemunho das suas aventuras para a prosperidade. O carácter moralizador parece ser indissociável do género picaresco. Ao contrário dos livros de contos medievais e dos sermões, onde podemos ver exemplos de comportamentos censurados, o romance picaresco aparece como uma sucessão de episódios que conduzem o protagonista a uma mudança e a um enriquecimento pessoal. Neste tipo de romances, podemos ver uma crítica aos costumes da época, mas os elementos sociais ou morais são ultrapassados por elementos estéticos que caracterizam o romance picaresco. O protagonista é um pícaro de baixa condição social, um marginal, um bastardo, um órfão ou um delinquente. Este género tem uma estrutura, pressupostamente autobiográfica, visto que o romance é em primeira pessoa, como se a personagem estivesse a contar as suas próprias aventuras, começando, por vezes, com a sua genealogia e narrando todas as suas peripécias com o objectivo de lutar por uma vida melhor. No entanto, um pícaro será sempre um pícaro e o estatuto social que parece querer alcançar acaba por ser uma miragem. Este herói pícaro, vamos encontrá-lo em dois romances ibéricos: Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto e El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. São ambos referências no mundo das letras e da cultura em Portugal e em Espanha. Um aluno de Português e de Espanhol não pode passar a sua escolaridade sem ter lido e analisado alguns extractos destas obras por serem importantíssimas e fazerem parte do património cultural universal. Neste trabalho, propomo-nos abordar o capítulo CLXXIX de Peregrinação e o Capítulo I de El Quijote de la Mancha. Deparar-nos-emos com uma descrição picaresca do herói em ambos os casos e teremos como objectivo elaborar duas planificações de aulas para as disciplinas de Português e de Espanhol, destinadas aos alunos de 9º Ano de Escolaridade.
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