Materialidade e Desejo de Ficção: A canção em quatro “momentos musicais” do cinema de Miguel Gomes

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pellerin, Agnès
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: https://doi.org/10.14591/aniki.v8n2.785
Resumo: A canção é um objeto ambivalente que faz referência à imaterialidade musical mas que tem uma relação forte com a materialidade sonora. É o efémero que, pelo seu formato curto, não dura, mas que sempre se quer prolongar no tempo, através da repetição (as rimas e o refrão apoiando a memorização) e por meio da sua “reprodutibilidade técnica”. A hipótese desenvolvida neste artigo é que o cinema contemporâneo de Miguel Gomes, enquadrando-se na história do cinema cantado, muitas vezes considerado como entretenimento ou alienação ideológica, explora, através de um tratamento particularmente original e rico da materialidade fílmica da canção, o seu paradoxo temporal. Ou seja, argumento que o uso da canção permite ao realizador transformar de forma duradoura a relação com o espectador, ao qual “passa o testemunho” da ficção. De facto, como analisamos através de quatro exemplos, o cinema de Gomes constrói “momentos musicais”, no sentido proposto por Amy Herzog. Estas sequências, além dos seus sentidos representativos (em primeiro lugar, a letra e o papel da canção na economia narrativa do filme), criam “presentes suspensos” que cristalizam o valor intrínseco do “desejo de ficção” humano. Este torna-se uma condição de possibilidade do cinema, subvertendo o monopólio da intenção artística e propondo uma reconfiguração da “partilha do sensível” como teorizado por Jacques Rancière.
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