A língua portuguesa e a identidade do assimilado em Angola: algumas leituras a partir do conto “Mestre Tamoda”, de Uanhenga Xitu
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.2/13747 |
Resumo: | Este trabalho visa apresentar uma análise do uso da língua portuguesa como idioma oficial do estado colonial lusitano, em confronto com a diversidade linguística dos países colonizados, especialmente Angola. Para tanto, analisar-se-á o conto «Mestre Tamoda», do escritor Uanhenga Xitu, para exemplificar e discutir as atitudes linguísticas dos falantes africanos do português. Ademais, averiguar-se-á o papel das políticas linguísticas públicas de Portugal e os processos de (tentativas de) aniquilamento e abolição das línguas autóctones africanas, bem como o modo como a língua portuguesa foi promovida e passou a servir de instrumento de opressão do poder colonial. No texto africano em questão, podemos observar o processo violento pelo qual os sujeitos autóctones foram submetidos em prol da implementação de uma série de medidas políticas que «vendiam» a ideia de civilização, mas que extinguiam ou tentavam diminuir as manifestações das culturas e línguas locais. Tamoda constrói sua identidade buscando, através da cópia dos hábitos e costumes do colonizador, um lugar na sociedade. No contexto lusófono, essa «invenção da cidadania» se deu subvertendo a ideia de que é o invadido que deve aceitar e se adequar aos valores «locais» do invasor e não o contrário. Assim, a língua e a cultura não poderiam apenas ser meramente impostas, mas elas teriam também que oferecer uma esperança de ascensão e ingresso na cidadania. Estas políticas públicas sofisticadas tornaram e tornariam viáveis o projeto moderno de governabilidade, por intermédio da imposição de instrumentos disciplinares, como a promoção da língua portuguesa. |
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A língua portuguesa e a identidade do assimilado em Angola: algumas leituras a partir do conto “Mestre Tamoda”, de Uanhenga XituPortuguese language and the identity of the assimilated in Angola: ome readings from the short story «Mestre Tamoda», by Uanhenga XituColonialismoPolíticas linguísticasLiteratura angolanaLíngua portuguesaColonialismLanguage policiesAngolan literaturePortuguese languageODS::04:Educação de QualidadeEste trabalho visa apresentar uma análise do uso da língua portuguesa como idioma oficial do estado colonial lusitano, em confronto com a diversidade linguística dos países colonizados, especialmente Angola. Para tanto, analisar-se-á o conto «Mestre Tamoda», do escritor Uanhenga Xitu, para exemplificar e discutir as atitudes linguísticas dos falantes africanos do português. Ademais, averiguar-se-á o papel das políticas linguísticas públicas de Portugal e os processos de (tentativas de) aniquilamento e abolição das línguas autóctones africanas, bem como o modo como a língua portuguesa foi promovida e passou a servir de instrumento de opressão do poder colonial. No texto africano em questão, podemos observar o processo violento pelo qual os sujeitos autóctones foram submetidos em prol da implementação de uma série de medidas políticas que «vendiam» a ideia de civilização, mas que extinguiam ou tentavam diminuir as manifestações das culturas e línguas locais. Tamoda constrói sua identidade buscando, através da cópia dos hábitos e costumes do colonizador, um lugar na sociedade. No contexto lusófono, essa «invenção da cidadania» se deu subvertendo a ideia de que é o invadido que deve aceitar e se adequar aos valores «locais» do invasor e não o contrário. Assim, a língua e a cultura não poderiam apenas ser meramente impostas, mas elas teriam também que oferecer uma esperança de ascensão e ingresso na cidadania. Estas políticas públicas sofisticadas tornaram e tornariam viáveis o projeto moderno de governabilidade, por intermédio da imposição de instrumentos disciplinares, como a promoção da língua portuguesa.This paper aims to present an analysis of Portuguese language use as the official language of the Portuguese colonial state, in confrontation with the linguistic diversity of colonized countries, especially Angola. To this end, the short story «Mestre Tamoda», by the writer Uanhenga Xitu, will be analyzed to exemplify and discuss linguistic attitudes of African speakers of Portuguese. In addition, the role of Portuguese public language policies and the processes (attempts) of annihilation and abolition of autochthonous African languages will be analyzed, as well as the way in which the Portuguese language was promoted and served as an instrument of colonial power’s oppression. In the African text in question, we can observe the violent process by which autochthonous subjects were submitted in favor of the implementation of a series of political measures that «sold» the idea of civilization, but that extinguished or tried to diminish manifestations of local cultures and languages. Tamoda builds his identity by seeking, through copying the colonizer’s habits and customs, a place in society. In the Portuguese-speaking context, this «invention of citizenship» took place by subverting the idea that it is the invaded who must accept and adapt to the «local» values of the invader and not the other way around. Thus, language and culture could not only be imposed, but they would also have to offer a hope of ascension and entry into citizenship. These sophisticated public policies have made and would make the modern project of governance viable, through the imposition of disciplinary instruments, such as the promotion of the Portuguese language.Esta publicação foi financiada por Fundos Nacionais através da FCT — Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Projeto UIDB/00077/2020.Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta (CEG/UAb) | Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes (IECCPMA) | Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos (CompaRes)Repositório AbertoPaula, Marcela Magalhães deRodrigues, Lorena da Silva2023-05-11T15:36:39Z20212021-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.2/13747porPaula, Marcela Magalhães de; Rodrigues, Lorena da Silva - A língua portuguesa e a identidade do assimilado em Angola: algumas leituras a partir do conto “Mestre Tamoda”, de Uanhenga Xitu. "e-LCV" [Em linha]. ISSN 2184-4097. Nº 6 (jan.-junho de 2021), p. 117-130https://doi.org/10.53943/ELCV.01212184-4097info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-17T01:48:48Zoai:repositorioaberto.uab.pt:10400.2/13747Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:52:43.652933Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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