Os limites da dignidade humana em As Intermitências da Morte, de José Saramago : alegoria da morte na sociedade contemporânea

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pereira, Maria da Conceição Gomes
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.14/16016
Resumo: A confrontação do homem com a sua finitude é uma temática tão antiga quanto a consciência da sua mortalidade. A morte põe termo a um prazo inevitável que parece inscrever-se na natureza das coisas. Não há remédio que sirva para a evitar por mais que os avanços científicos e tecnológicos se constituam como solução para grandes problemas que afetam aqui e ali uma existência serena e uma felicidade constante. Pensar a morte será uma forma de aprender a viver com o conhecimento pleno da nossa condição humana. Aprender a viver com a convicção clara de que somos seres mortais, efémeros e em viagem, deverá ser entendido como uma oportunidade para crescermos em dignidade e fraternidade. Com As Intermitências da Morte percebemos que o sonho maior da espécie humana – a conquista da imortalidade – rapidamente se transforma no seu revés. O fim da morte, ao contrário de trazer prazer, traz pesadelo. Conduz ao caos, à desorientação, ao desnorte…. Consciencializamo-nos de que viver eternamente seria estar condenado a uma velhice eterna, salvo se o tempo não parasse, coisa que não acontece. Recorrendo magistralmente à alegoria, Saramago deixa claro que temos que morrer para viver. Se assim não fosse, a vida tornar-se-ia insuportável. Põe à vista o modo como a morte afeta a vida, como morte e vida se unem numa necessidade mútua absoluta. Permite-nos ainda analisar o comportamento do homem face a esse mistério. O romance com muito de cómico, de ironia, de fábula e de tragédia, propõe-nos sentidos vários no que toca às vivências do ser humano. Nele são explorados os recantos obscuros do ser humano contemporâneo: a irracionalidade, a erosão da democracia, a solidão, as agressões do mercado capitalista num país em que a economia submete a política e a instrumentaliza numa correlação de forças assimétricas, reduzindo os regimes de soberania popular a engrenagens enormemente atrofiadas. Aproximando vida e morte, As Intermitências da Morte resultam num hino ao amor, à música e à vida humana.
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Com As Intermitências da Morte percebemos que o sonho maior da espécie humana – a conquista da imortalidade – rapidamente se transforma no seu revés. O fim da morte, ao contrário de trazer prazer, traz pesadelo. Conduz ao caos, à desorientação, ao desnorte…. Consciencializamo-nos de que viver eternamente seria estar condenado a uma velhice eterna, salvo se o tempo não parasse, coisa que não acontece. Recorrendo magistralmente à alegoria, Saramago deixa claro que temos que morrer para viver. Se assim não fosse, a vida tornar-se-ia insuportável. Põe à vista o modo como a morte afeta a vida, como morte e vida se unem numa necessidade mútua absoluta. Permite-nos ainda analisar o comportamento do homem face a esse mistério. O romance com muito de cómico, de ironia, de fábula e de tragédia, propõe-nos sentidos vários no que toca às vivências do ser humano. Nele são explorados os recantos obscuros do ser humano contemporâneo: a irracionalidade, a erosão da democracia, a solidão, as agressões do mercado capitalista num país em que a economia submete a política e a instrumentaliza numa correlação de forças assimétricas, reduzindo os regimes de soberania popular a engrenagens enormemente atrofiadas. Aproximando vida e morte, As Intermitências da Morte resultam num hino ao amor, à música e à vida humana.The human conflict with his own finite nature is a topic as old as the awareness of his mortality. Death puts an end to an inevitable period that seems to be part of the nature of things. There is no medicine to avoid it, even if the scientific and technological progress appears to be the solution to the big problems that sometimes affect a calm existence and a constant happiness. Thinking about the death will be a form of learning how to live with the full knowledge of our human condition. Learning to live with the plain conscience that we are mortal and ephemeral beings who are constantly travelling around, should be understood as an opportunity for us to grow in dignity and fraternity. Through As Intermitências da Morte we understand that the humankind’s biggest dream – the achievement of the immortality – turns rapidly into its reverse. Instead of bringing pleasure, the end of death brings a nightmare. It leads to chaos, to disorientation, to confusion… We become aware that living forever would condemn ourselves to an eternal old age, unless the time stopped, and that will never happen. Employing masterly allegories, Saramago makes clear that we have to die if we want to live. Otherwise, our life would be unbearable. He shows us how death affects life and how death and life get together in a mutual and absolute dependency. He also allows us to analyse the behaviour when a man is facing that mystery. Not only is the romance full of comic episodes, irony, fable and tragedy, but it also offers us several meanings for the human being’s experiences. In his romances, Saramago explores the darkest and hiding places of the contemporary human being: the insanity, the destruction of democracy, the loneliness, the aggressions of the capitalist market in a country where the politics is submitted to the economy. The first becomes an instrument of the second. So, there is a fight between two asymmetrical forces which reduces the popular sovereignty to huge decadent machines. By bringing together life and death, the romance As Intermitências da Morte gives birth to a hymn to love, to music and to human life.Martins, José Cândido de OliveiraVeritati - Repositório Institucional da Universidade Católica PortuguesaPereira, Maria da Conceição Gomes2014-12-18T16:07:17Z2014-03-1220132014-03-12T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.14/16016TID:201599805porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-14T01:35:07Zoai:repositorio.ucp.pt:10400.14/16016Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T18:13:22.100175Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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