Etnomusicologia, Música e ecologia dos saberes
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2013 |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10773/13519 |
Resumo: | Os debates teóricos em torno do conceito de ecologia aplicado à produção do conhecimento no domínio das ciências sociais e humanas, encontram eco na proposta conceptual da Ecologia dos Saberes, elaborada pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. Entre 1995 e 2010, Santos vem desenvolvendo a sua reflexão crítica baseando-se na existência de uma cartografia epistémica que separa o pensamento ocidental de um outro alternativo, localizado no sul pré-colonial. Santos advoga que para que seja possível gerar uma ecologia de saberes é necessário interrogar a linha de abissalidade que separa o norte do sul, integrando o que designa por Epistemologias do Sul, e gerando assim um discurso horizontal e uma forma democrática de ver e de entender o mundo. Porém, no seu exercício de análise, ao propor a superação da abissalidade entre norte e sul, Santos inscreve, a meu ver, uma dupla fractura. A primeira é de carácter cronocêntrico e reside na crença segundo a qual o Sul deve ser amputado da sua relação com o Norte, ou seja, situado num passado pré-colonial e “desfamiliarizado” do Norte imperial. A segunda é de carácter gnoseocênctrico: ao propor a utilização contra-hegemónica do conhecimento científico através do diálogo com “outras formas de conhecimento”, que designa por “conhecimento não científico”, Sousa Santos faz crer que estes dois tipos de conhecimento (o científico e o “outro”) devem ser equivalentes, só concebendo o outro como alternativo ao científico-racional contribuindo, portanto, para os mesmos fins. Ou seja, todo o conhecimento cujo carácter efémero e transitório não permita a sua transformação em conhecimento global, e, por conseguinte, a sua tradução, não poderá ser considerado na lógica de uma ecologia dos saberes. Ora a música, e outros saberes efémeros e transitórios, porque são incorporados, entoados, improvisados, co-experienciados, tácitos, sensíveis e não verbalizáveis, recusa a tradução, ficando, portanto, em teoria, excluída da lógica da ecologia dos saberes. Esta comunicação procura mostrar, à luz dos conhecimentos e da experiência que o contacto com as diferentes músicas nos tem oferecido, que os saberes efémeros e o Sul pós-colonial, não podem ser excluídos do pensamento pós-abissal e que a Etnomusicologia, através da sua práxis, antecipou, de alguma forma, a proposta de ecologia dos saberes agora em análise. |
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