Desenhar uma linha

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bernardino, Maria Leonor de Melo Esteves
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.8/2863
Resumo: Este texto procura refletir acerca de algumas questões que resultam diretamente da prática do desenho. O desenho é visto aqui enquanto acontecimento diretamente associado à linha, uma linha ativa que se vai movendo de acordo com as forças encontradas; entre as quais se incluem as agitações, as dúvidas, os desejos e os medos que atravessam o corpo do desenhador – e do próprio desenho – naquele exato instante em que ficam gravados no papel. Por vezes o traçado da linha avança lentamente, outras vezes entra em ondulações, curvando-se gradualmente. Mas também se pode impor direito para, logo de seguida, retomar o seu percurso num outro ponto, qualquer — retirando um prazer inusitado dessa mobilidade. A linha ao ser inscrita está sempre sujeita a turbulências; os acidentes que surgem no percurso desta têm de ser aprisionados, seguidos por um gesto que não pode deixar de ser emprestado do presente que é esse desenho. E assim se verifica um abandono da vontade, no sentido em que o que conta já não é a representação disto ou daquilo, mas antes o próprio uso intensivo das formas: na sua leitura os desenhos podem ser percorridos de cima para baixo ou num ou noutro sentido, pois a tónica não se encontra agora na representação, mas antes no próprio percurso, na sua história e significados. Não são raras as vezes em que, naturalmente, emergem associações e formas reconhecíveis. Ora associadas a um ambiente urbano onde se entreveem traços arquitetónicos, encruzilhadas, estruturas compostas, fundidas umas com as outras, indiciando casas ou terrenos, ora a sugerir figuras com um aspecto biomórfico. A inscrição acontece mais por atraso, por dissonância, do que pela intencionalidade na realização de formas elegantes e harmoniosas. Esta é antes uma tentativa de desorganizar as formas e encontrar um certo estranhamento dos conteúdos. O gesto fluente e decidido dá lugar ao aparecimento de formas mais frágeis que se deixam arrastar pela força da aridez e que renunciam às qualidades virtuosas da mão.
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