Os africanos Maria Rita da Conceição e José Manoel Antônio: trajetórias afrodiaspóricas de associativismo, parentesco, trabalho e amizade
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2020 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Métis (Caxias do Sul. Online) |
Texto Completo: | http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/9316 |
Resumo: | A pesquisa histórica no Rio Grande do Sul se confunde com investigações que, ao longo de décadas, procuraram, mais do que conhecer as bases de nossa sociedade em seus aspectos políticos, econômicos e culturais, enaltecer troncos familiares e grupos étnico-raciais específicos. Assim, percebe-se um entrelaçamento, por vezes positivo, mas muitas vezes nocivo, entre genealogia e história, já que as histórias familiares que daí provêm não são, em grande parte, de grupos subalternizados. O desenvolvimento de uma identidade de forte verniz eurocêntrico, no Brasil meridional, atingiu os círculos editoriais e mesmo as formas de arranjo documental em muitos lugares gaúchos de memória, fomentando e facilitando pesquisas que projetassem genealogias de famílias brancas ou, pelo menos, socialmente brancas. A proposta deste artigo é propor investimento na pesquisa de trajetórias de indivíduos e famílias negras, protagonizando tais personagens em um processo histórico-regional-nacional marcado pela multirracialidade. Nos deteremos em um núcleo familiar negro em especial, formado pelo africano da costa José Manoel Antônio e pela cassanje Maria Rita da Conceição. Esse casal afrodiaspórico teve dois filhos, o sapateiro José Manoel Antônio Filho e o pedreiro Florêncio Manoel Antônio. Não sabemos no que se ocupava Maria Rita, mas os dois Josés, pai e filho, e Florêncio trabalhavam como artistas, ou seja, trabalhadores manuais especializados. Os dois filhos desse casal africano atuaram na direção da primeira associação negra (não religiosa) do Rio Grande do Sul, a “Sociedade Beneficente Floresta Aurora”, criada em Porto Alegre, em 1872. Focar em um personagem ou grupo familiar nunca é um exercício forjou estratégias sociais que lhe permitiram demarcar seu distanciamento da escravidão. restrito a poucos indivíduos, já que as relações se espraiam em redes de parentesco e familiaridade, amizade, associativismo e devoção. Vivendo a precariedade estrutural da liberdade em uma sociedade ainda escravista, essa família negra, egressa do cativeiro, forjou estratégias sociais que lhe permitiram demarcar seu distanciamento da escravidão. |
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Os africanos Maria Rita da Conceição e José Manoel Antônio: trajetórias afrodiaspóricas de associativismo, parentesco, trabalho e amizadeAssociativismo negro. Direitos. Cidadania.A pesquisa histórica no Rio Grande do Sul se confunde com investigações que, ao longo de décadas, procuraram, mais do que conhecer as bases de nossa sociedade em seus aspectos políticos, econômicos e culturais, enaltecer troncos familiares e grupos étnico-raciais específicos. Assim, percebe-se um entrelaçamento, por vezes positivo, mas muitas vezes nocivo, entre genealogia e história, já que as histórias familiares que daí provêm não são, em grande parte, de grupos subalternizados. O desenvolvimento de uma identidade de forte verniz eurocêntrico, no Brasil meridional, atingiu os círculos editoriais e mesmo as formas de arranjo documental em muitos lugares gaúchos de memória, fomentando e facilitando pesquisas que projetassem genealogias de famílias brancas ou, pelo menos, socialmente brancas. A proposta deste artigo é propor investimento na pesquisa de trajetórias de indivíduos e famílias negras, protagonizando tais personagens em um processo histórico-regional-nacional marcado pela multirracialidade. Nos deteremos em um núcleo familiar negro em especial, formado pelo africano da costa José Manoel Antônio e pela cassanje Maria Rita da Conceição. Esse casal afrodiaspórico teve dois filhos, o sapateiro José Manoel Antônio Filho e o pedreiro Florêncio Manoel Antônio. Não sabemos no que se ocupava Maria Rita, mas os dois Josés, pai e filho, e Florêncio trabalhavam como artistas, ou seja, trabalhadores manuais especializados. Os dois filhos desse casal africano atuaram na direção da primeira associação negra (não religiosa) do Rio Grande do Sul, a “Sociedade Beneficente Floresta Aurora”, criada em Porto Alegre, em 1872. Focar em um personagem ou grupo familiar nunca é um exercício forjou estratégias sociais que lhe permitiram demarcar seu distanciamento da escravidão. restrito a poucos indivíduos, já que as relações se espraiam em redes de parentesco e familiaridade, amizade, associativismo e devoção. Vivendo a precariedade estrutural da liberdade em uma sociedade ainda escravista, essa família negra, egressa do cativeiro, forjou estratégias sociais que lhe permitiram demarcar seu distanciamento da escravidão.Universidade de Caxias do SulStaudt Moreira, Paulo Roberto2020-10-30info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttp://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/9316Métis: história & cultura; v. 19, n. 37 (2020): v. 19, n. 37, jan./jun. 20202236-27621677-0706reponame:Métis (Caxias do Sul. Online)instname:Universidade de Caxias do Sul (UCS)instacron:UCSporhttp://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/9316/4379Direitos autorais 2020 Métis: história & culturainfo:eu-repo/semantics/openAccess2020-10-30T16:10:06Zoai:vkali30.ucs.br:article/9316Revistahttp://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/indexhttp://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/oai||revistametis@ucs.br2236-27621677-0706opendoar:2020-10-30T16:10:06Métis (Caxias do Sul. Online) - Universidade de Caxias do Sul (UCS)false |
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