‘Caramuru’ e a segunda queda do ameríndio
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2011 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Matraga (Online) |
Texto Completo: | https://www.e-publicacoes.uerj.br/matraga/article/view/26067 |
Resumo: | O descobrimento da América suscitou surpresa e questionamentos vários sobre a noção de humanidade, o sentido da história, os fundamentos das organizações sociais… Nessa linha de pensamento surgiram reflexões (Thomas More, Montaigne, Rousseau…) acentuando as diferenças culturais e insistindo na ruptura de perspectivas, seja para redefinir o télos europeu, seja para fundar suas críticas do Velho Mundo. Contudo, dentro da lógica cristã, a exigência era pelo contrário reintegrar o Ameríndio no universo das Sagradas Escrituras, demonstrando que Deus não abandonara a América – tendo mandado santos (por ex. são Tomé), e deixado sinais múltiplos da Revelação –, mas que o “Americano” ou “Brasílico”, ele sim, tinha se desviado de Deus e das verdades divinas originais. Assim, aqueles que possivelmente não moravam tão longe de vestígios do Paraíso Terreal foram submetidos a um segundo processo de condenação, à imagem da Queda que conheceram Adão e Eva. Talvez o poema épico de Santa Rita Durão, Caramuru (1781), seja o último exemplo desse raciocínio, no mundo colonial luso-brasileiro; no momento em que o conceito de “degenerescência” estava sendo assimilado pelo discurso racionalista e científico de parte do contexto iluminista e pelas políticas civilizatórias do século XIX. |
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‘Caramuru’ e a segunda queda do ameríndio‘Caramuru’ and the second fall of the American indianCaramuruAmerindianSaint ThomasMonogenismoDegeneracy.CaramuruAmeríndiossão ToméMonogenismoDegenerescênciaO descobrimento da América suscitou surpresa e questionamentos vários sobre a noção de humanidade, o sentido da história, os fundamentos das organizações sociais… Nessa linha de pensamento surgiram reflexões (Thomas More, Montaigne, Rousseau…) acentuando as diferenças culturais e insistindo na ruptura de perspectivas, seja para redefinir o télos europeu, seja para fundar suas críticas do Velho Mundo. Contudo, dentro da lógica cristã, a exigência era pelo contrário reintegrar o Ameríndio no universo das Sagradas Escrituras, demonstrando que Deus não abandonara a América – tendo mandado santos (por ex. são Tomé), e deixado sinais múltiplos da Revelação –, mas que o “Americano” ou “Brasílico”, ele sim, tinha se desviado de Deus e das verdades divinas originais. Assim, aqueles que possivelmente não moravam tão longe de vestígios do Paraíso Terreal foram submetidos a um segundo processo de condenação, à imagem da Queda que conheceram Adão e Eva. Talvez o poema épico de Santa Rita Durão, Caramuru (1781), seja o último exemplo desse raciocínio, no mundo colonial luso-brasileiro; no momento em que o conceito de “degenerescência” estava sendo assimilado pelo discurso racionalista e científico de parte do contexto iluminista e pelas políticas civilizatórias do século XIX.America’s discovery evoked surprise and several questions about the notion of humanity, the meanings of History, the foundations of social organizations… In this line of thought many reflections arose (Thomas More, Montaigne, Rousseau…) making prominent the cultural differences and insisting on a rupture of perspective, be it to redefine the European télos, or to found their criticism of the Old-World. Within the Christian logic, to the contrary, there was a demand for the reintegration of the Amerindian to the sacred scriptures universe, demonstrating that God had not abandoned America – for He sent saints (e.g. Saint Thomas) and left many revelation signs –; however, the “American” or “Brasílico”, he was the one who had diverted from God and from the original sacred truth. Therefore, those who possibly didn’t live far from vestiges of the terrestrial paradise were submitted to a second process of condemnation, just as the Fall experienced by Adam and Eve. Perhaps the epic poem by Santa Rita Durão , Caramuru (1781), is the last example of this kind of reasoning inside the Luso- Brazilian colonial world in the moment that concept of “degeneracy” was being assimilated by the rationalism and scientific discourse within the Illuminist perspective and the civilizational politics of the 19th century.Universidade do Estado do Rio de Janeiro2011-12-19info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionartigo de literaturaartigos de literaturaapplication/pdfhttps://www.e-publicacoes.uerj.br/matraga/article/view/26067Matraga - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ; v. 18 n. 29 (2011): Século XVIIIMATRAGA - Journal published by the Graduate Program in Letters at Rio de Janeiro State University (UERJ); Vol. 18 No. 29 (2011): The 18th Century2446-69051414-7165reponame:Matraga (Online)instname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)instacron:UERJporhttps://www.e-publicacoes.uerj.br/matraga/article/view/26067/18659Riaudel, Michelinfo:eu-repo/semantics/openAccess2019-07-09T04:04:38Zoai:ojs.www.e-publicacoes.uerj.br:article/26067Revistahttps://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matragaPUBhttps://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/oai||letrasmatraga@uerj.br2446-69051414-7165opendoar:2019-07-09T04:04:38Matraga (Online) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)false |
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