Processos de medicalização e trabalho docente : reflexões sobre o adoecimento de professoras da rede pública de Salvador/BA.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Érika Carvalho
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32989
Resumo: Os processos de medicalização da educação e da sociedade envolvem uma racionalidade determinista que apaga a complexidade da vida e acaba por reduzi-la a questões de ordem individual em seus diferentes âmbitos, orgânico e/ou psíquico. No sistema educacional tem se tentado homogeneizar as diferenças e responsabilizar indivíduos por sua não adequação à ordem dominante. Assim como os alunos estão sendo rotulados, diagnosticados e tratados com supostos transtornos, tal captura tem se repetido com as docentes, cujas angústias, aflições e inquietações que têm atravessado a práxis vêm sendo naturalizadas e muitas vezes até patologizadas, categorizadas como síndromes e transtornos mentais. O objetivo deste estudo foi analisar de que forma os processos de medicalização têm atravessado o trabalho docente, mais especificamente o processo saúde/doença relacionado ao trabalho de professoras da educação básica da rede pública de Salvador. Quanto ao método trata-se de uma pesquisa empírica, de abordagem qualitativa, fundamentada na perspectiva sócio-histórica a partir dos autores: Lancillotti (2008); Saviani (1994; 2015); Oliveira, (2004; 2013); Hypólito (1991); Louro (1997); Paparelli (2009); Buss (2007); Canguilhem (1990); Foucault (1992, 2008); Lacaz (2014); Collares e Moysés (2014); Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade (2015); Oliveira; Viégas; Harayama (2016) e Patto (1992; 2005; 2007; 2015). Utilizamos como instrumentos observações diretas e entrevistas semiestruturadas. Os dados foram transcritos e sistematizados em categorias semânticas segundo a técnica de análise do conteúdo. Os resultados apontaram que as professoras reconhecem ligação entre o adoecimento e o trabalho, porém por ser um fenômeno recorrente, elas passaram a naturalizar o adoecimento como inerente ao trabalho e como “o mal da profissão”. Além disso, diferentes nuances do atravessamento dos processos de medicalização na relação saúde-doença vinculada ao trabalho das professoras foram evidenciadas: a naturalização, culpabilização e individualização do sofrimento gerado pelo trabalho, o relato do uso (abusivo ou não) de medicamentos e/ou psicofármacos para lidar com aflições do trabalho e o uso de terapias convencionais e consideradas alternativas como forma de intervenção em problemas oriundos do processo de trabalho e para auxiliar a suportar as adversidades do cotidiano escolar. O estudo sinaliza o quanto o adoecimento relacionado ao trabalho docente é deslocado de suas determinações políticas, socioeconômicas, trabalhistas e ideológicas e é atribuído tão somente para o organismo das professoras. Assim como denuncia que os processos de medicalização têm atuado como tentativa de ocultar desigualdades historicamente estruturadas.
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spelling Silva, Érika CarvalhoOliveira, Elaine Cristina deAraújo, Marcos Vinicius RibeiroSouza, Denise Silva deViégas, Lygia de SousaGuimarães, Rafael Siqueira deOliveira, Elaine Cristina deAraújo, Marcos Vinicius Ribeiro2021-03-09T17:24:36Z2021-03-09T17:24:36Z2021-03-092020-12-03Dissertaçãohttp://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32989Os processos de medicalização da educação e da sociedade envolvem uma racionalidade determinista que apaga a complexidade da vida e acaba por reduzi-la a questões de ordem individual em seus diferentes âmbitos, orgânico e/ou psíquico. No sistema educacional tem se tentado homogeneizar as diferenças e responsabilizar indivíduos por sua não adequação à ordem dominante. Assim como os alunos estão sendo rotulados, diagnosticados e tratados com supostos transtornos, tal captura tem se repetido com as docentes, cujas angústias, aflições e inquietações que têm atravessado a práxis vêm sendo naturalizadas e muitas vezes até patologizadas, categorizadas como síndromes e transtornos mentais. O objetivo deste estudo foi analisar de que forma os processos de medicalização têm atravessado o trabalho docente, mais especificamente o processo saúde/doença relacionado ao trabalho de professoras da educação básica da rede pública de Salvador. Quanto ao método trata-se de uma pesquisa empírica, de abordagem qualitativa, fundamentada na perspectiva sócio-histórica a partir dos autores: Lancillotti (2008); Saviani (1994; 2015); Oliveira, (2004; 2013); Hypólito (1991); Louro (1997); Paparelli (2009); Buss (2007); Canguilhem (1990); Foucault (1992, 2008); Lacaz (2014); Collares e Moysés (2014); Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade (2015); Oliveira; Viégas; Harayama (2016) e Patto (1992; 2005; 2007; 2015). Utilizamos como instrumentos observações diretas e entrevistas semiestruturadas. Os dados foram transcritos e sistematizados em categorias semânticas segundo a técnica de análise do conteúdo. Os resultados apontaram que as professoras reconhecem ligação entre o adoecimento e o trabalho, porém por ser um fenômeno recorrente, elas passaram a naturalizar o adoecimento como inerente ao trabalho e como “o mal da profissão”. Além disso, diferentes nuances do atravessamento dos processos de medicalização na relação saúde-doença vinculada ao trabalho das professoras foram evidenciadas: a naturalização, culpabilização e individualização do sofrimento gerado pelo trabalho, o relato do uso (abusivo ou não) de medicamentos e/ou psicofármacos para lidar com aflições do trabalho e o uso de terapias convencionais e consideradas alternativas como forma de intervenção em problemas oriundos do processo de trabalho e para auxiliar a suportar as adversidades do cotidiano escolar. O estudo sinaliza o quanto o adoecimento relacionado ao trabalho docente é deslocado de suas determinações políticas, socioeconômicas, trabalhistas e ideológicas e é atribuído tão somente para o organismo das professoras. Assim como denuncia que os processos de medicalização têm atuado como tentativa de ocultar desigualdades historicamente estruturadas.ABSTRACT The processes of medicalize the education and society involve a deterministic rationality that erases the complexity of life and ends up reducing it to individual issues in its different areas, organic and/or psychic. At Education system, it has been made attempts to homogenize differences and hold individuals responsible for their inability to adapt to the dominant order. Just as students are being labeled, diagnosed and treated with supposed illnesses, this scenario has been replicated with the teachers, whose anguish, afflictions and concerns that have gone through the praxis have been naturalized and often make them pathologies, categorized as syndromes and mental disorders. The purpose of this study was to analyze how are occurring the processes of medicalize the teaching work, specifically the health / disease process related to the work of Salvador city primary, elementary and high school public schools teachers. The method applied is an empirical research, a qualitative method, substantiated on the authors' social historical perspective: Lancillotti (2008); Saviani (1994; 2015); Oliveira, (2004; 2013); Hypólito (1991); Louro (1997); Paparelli (2009); Buss (2007); Canguilhem (1990); Foucault (1992, 2008); Lacaz (2014); Collares e Moysés (2014); Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade (2015); Oliveira; Viégas; Harayama (2016) e Patto (1992; 2005; 2007; 2015). As instruments, we use straight observations and semi-structured interviews. The data were transcribed and systematized into semantic categories according to the content analysis technique. The results presented that the teachers recognize a tie between illness and work and, although it is a recurring phenomenon, they lean to naturalize illness as inherent in work and as “the craft's evil”. Beyond that, were pointed different nuances in crossing processes of medicalize at health disease relation bound to teachers work: naturalizing, blaming and singularising the suffering caused by work, the report of use, abusive or not, of medicines and/or psychotropic drugs to deal with the work' distresses and the use of orthodox and alternative therapies regarded as interventions ways at complications arising from the work process and support the adversities of school routine. The study exhibits that falling ill because of teaching work fend from their political, socioeconomic, labor and ideological determinations and is only related to teachers organization. As well as it denounces that the processes of medicalize have functioned as an attempt of hide historically inequalities structured.Submitted by ERIKA SILVA (eryka-95@hotmail.com) on 2021-03-05T01:24:58Z No. of bitstreams: 1 Dissertação ERIKA CARVALHO SILVA.pdf: 1310973 bytes, checksum: 15caf0be05c29d1390efb1eba66c67d3 (MD5)Rejected by Eleonora Guimaraes (esilva@ufba.br), reason: Caro docente, Favor realizar as seguintes correções e submeter novamente a dissertação: nome autor e dos membros da Banca completo e sem maiúscula, inserir palavras-chave do segundo idioma escolhido e o respectivo resumo. Atenciosamente, Eleonora Guimarães Bibliotecária/Faced esilva@ufba.br on 2021-03-08T19:26:50Z (GMT)Submitted by ERIKA SILVA (eryka-95@hotmail.com) on 2021-03-08T23:08:25Z No. of bitstreams: 1 Dissertação ERIKA CARVALHO SILVA.pdf: 1310973 bytes, checksum: 15caf0be05c29d1390efb1eba66c67d3 (MD5)Approved for entry into archive by Ana Miria Moreira (anamiriamoreira@hotmail.com) on 2021-03-09T17:24:36Z (GMT) No. of bitstreams: 1 Dissertação ERIKA CARVALHO SILVA.pdf: 1310973 bytes, checksum: 15caf0be05c29d1390efb1eba66c67d3 (MD5)Made available in DSpace on 2021-03-09T17:24:36Z (GMT). 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description Os processos de medicalização da educação e da sociedade envolvem uma racionalidade determinista que apaga a complexidade da vida e acaba por reduzi-la a questões de ordem individual em seus diferentes âmbitos, orgânico e/ou psíquico. No sistema educacional tem se tentado homogeneizar as diferenças e responsabilizar indivíduos por sua não adequação à ordem dominante. Assim como os alunos estão sendo rotulados, diagnosticados e tratados com supostos transtornos, tal captura tem se repetido com as docentes, cujas angústias, aflições e inquietações que têm atravessado a práxis vêm sendo naturalizadas e muitas vezes até patologizadas, categorizadas como síndromes e transtornos mentais. O objetivo deste estudo foi analisar de que forma os processos de medicalização têm atravessado o trabalho docente, mais especificamente o processo saúde/doença relacionado ao trabalho de professoras da educação básica da rede pública de Salvador. Quanto ao método trata-se de uma pesquisa empírica, de abordagem qualitativa, fundamentada na perspectiva sócio-histórica a partir dos autores: Lancillotti (2008); Saviani (1994; 2015); Oliveira, (2004; 2013); Hypólito (1991); Louro (1997); Paparelli (2009); Buss (2007); Canguilhem (1990); Foucault (1992, 2008); Lacaz (2014); Collares e Moysés (2014); Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade (2015); Oliveira; Viégas; Harayama (2016) e Patto (1992; 2005; 2007; 2015). Utilizamos como instrumentos observações diretas e entrevistas semiestruturadas. Os dados foram transcritos e sistematizados em categorias semânticas segundo a técnica de análise do conteúdo. Os resultados apontaram que as professoras reconhecem ligação entre o adoecimento e o trabalho, porém por ser um fenômeno recorrente, elas passaram a naturalizar o adoecimento como inerente ao trabalho e como “o mal da profissão”. Além disso, diferentes nuances do atravessamento dos processos de medicalização na relação saúde-doença vinculada ao trabalho das professoras foram evidenciadas: a naturalização, culpabilização e individualização do sofrimento gerado pelo trabalho, o relato do uso (abusivo ou não) de medicamentos e/ou psicofármacos para lidar com aflições do trabalho e o uso de terapias convencionais e consideradas alternativas como forma de intervenção em problemas oriundos do processo de trabalho e para auxiliar a suportar as adversidades do cotidiano escolar. O estudo sinaliza o quanto o adoecimento relacionado ao trabalho docente é deslocado de suas determinações políticas, socioeconômicas, trabalhistas e ideológicas e é atribuído tão somente para o organismo das professoras. Assim como denuncia que os processos de medicalização têm atuado como tentativa de ocultar desigualdades historicamente estruturadas.
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