Fantasmas e sonhos milenaristas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bezerra de Menezes, Eduardo Diatahy
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Texto Completo: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/19961
Resumo: Um povo aterrorizado pela iminência do fim do mundo: no espírito de muitos homens de cultura, essa imagem do Ano Mil permanece viva ainda hoje, a despeito de tudo quanto escreveram para destruí-la Marc Bloch, Henri Focillon ou Edmond Pognon. Isso prova que, na consciência coletiva, os esquemas milenaristas absolutamente não perderam de todo em nossa época o seu poder de sedução. Essa miragem histórica, portanto, ocupou um lugar mui comodamente num universo mental inteiramente disposto a acolhê-Ia. A história romântica a herdara de alguns historiadores e arqueólogos que empreenderam, no século XVII e no XVIII, a exploração científica da Idade Média, dessa época obscura - como diziam -, subjugada, mãe de todas as superstições góticas que as Luzes começavam então a dissipar. E, na verdade, é por certo no fim do século XV, no momento dos triunfos do novo humanismo, que aparece a primeira descrição conhecida dos terrores do Ano Mil. Georges DUBY [1975] "Há algo grande, mas também profundamente irreal, em viver na esperança». Gershom SHOLEM "A religião é mais gigantesca utopia já aparecida na história". Antonio GRAMSCI Este texto posto na primeira das epígrafes acima, que traduzi e cujas passagens mais significativas grifei, para citá-Ia aqui como uma espécie de abertura; eu o extraí do livro sobre O ano mil da era cristã, do grande medievalista francês e um dos principais colaboradores do movimento da J Iistória Nova, Georges Duby (1919-1996), por certo um dos melhores onhecedores dessa temárica escarológica constante de nossas raízes culturais, ao lado de outros estudiosos como Norman Cohn, Henri Desroche, Jacques Lc Goff, V Lanternari, Jean Delumeau erc. O texto mostra, à maravilha, quão antigas são as raízes dos medos, fantasmas, sonhos e esperanças que povoam nossa mentalidade coletiva, estendo-se aos nossos dias, conforme ficou claramente demonstrado por várias manifestações sociais, pelo menos no Ocidente, em torno do ano 2000, inclusive no asséptico mundo da tecnologia informática, segundo as fantasias e temores construídos e amplamente divulgados sobre o bug do milênio, para não falar de medos anteriores em face dos armamentos nucleares, das ondas terroristas ou da nova "peste negra" que nos chegou com a AIOS (SIDA, em vernáculo), assim como de outras ameaças de epidemias ou da terrificante perspectiva de destruição pelo aquecimento global de que nos demos conta com a agudização da consciência ecológica...
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