NÃO em formações nominais no português: morfologização versus gramaticalização

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pamella Alves Pereira
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/LETR-8SSVEG
Resumo: Esta tese analisa o NÃO anteposto a nomes no português. NÃO seria um prefixo? Ou parte de um composto? Para respondermos essas perguntas, consideramos os pressupostos da Morfologia e Fonologia Lexical (KIPARSKY, 1982) e postulamos, inicialmente, outra questão: as formações com NÃO (não + nome) estariam localizadas no nível morfológico ou no nível pós-lexical (componente sintático)? Silva e Mioto (2009) propõem que as formações não + nome seriam sintaticamente transparentes, isto é, aceitariam a concordância negativa e, por isso, o NÃO não poderia ser um prefixo nem membro de um composto, pois essas formações atuariam no nível pós-lexical. Fizemos uma coleta no Corpus do Português, de Davies e Ferreira (2006-) e constituímos um corpus com dados do século XIV ao XX. Constatamos que as formações com NÃO mostraram-se mais produtivas no século XX, e os casos de não + substantivo foram os que tiveram aumento mais significativo nesse século. Realizamos testes envolvendo as formações com NÃO e a concordância negativa que nos mostraram serem mais transparentes as estruturas com particípio, e mais opacas algumas formações com substantivo. Fizemos, então, uma coleta na base de dados Google de estruturas não + substantivo deverbal e observamos que o tipo de nominalização interfere no uso da concordância negativa. Assim, detectamos dois tipos de estrutura: uma mais opaca, localizada no nível morfológico, em que o NÃO constituiria um prefixo composicional (SCHWINDT, 2000), e outra mais transparente que estaria no nível pós-lexical. Entendemos que as formações mais opacas podem ser consideradas um processo de morfologização que não implica necessariamente em gramaticalização. Analisamos, ainda, a expressão NÃO OBSTANTE separadamente, considerando a hipótese de que tal construção teria passado por um processo de gramaticalização no português, conforme Hopper e Traugott (1993). Na análise do NÃO OBSTANTE em diferentes épocas da língua, encontramos evidências das etapas da gramaticalização da construção, constituída, inicialmente, por um elemento de negação mais o particípio presente do verbo OBSTAR e, depois, reanalisada como locução conjuntiva concessiva, selecionando exclusivamente verbos no subjuntivo. Utilizamos os pressupostos teóricos da Teoria da Variação e Mudança (LABOV, 1972) para a análise da competição entre o NÃO OBSTANTE em função mais gramatical e o item EMBORA desempenhando essa mesma função. Foi possível observar que a variação entre tais estruturas interferiu no processo de gramaticalização do NÃO OBSTANTE. Concluímos, considerando várias épocas, que existem dois processos atuando nas formações não + nome no português: morfologização e gramaticalização.
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spelling Maria do Carmo ViegasMonica Guieiro Ramalho de AlkmimJosé da Silva SimõesLorenzo Teixeira VitralCesar Nardelli CambraiaPamella Alves Pereira2019-08-14T09:22:59Z2019-08-14T09:22:59Z2012-02-24http://hdl.handle.net/1843/LETR-8SSVEGEsta tese analisa o NÃO anteposto a nomes no português. NÃO seria um prefixo? Ou parte de um composto? Para respondermos essas perguntas, consideramos os pressupostos da Morfologia e Fonologia Lexical (KIPARSKY, 1982) e postulamos, inicialmente, outra questão: as formações com NÃO (não + nome) estariam localizadas no nível morfológico ou no nível pós-lexical (componente sintático)? Silva e Mioto (2009) propõem que as formações não + nome seriam sintaticamente transparentes, isto é, aceitariam a concordância negativa e, por isso, o NÃO não poderia ser um prefixo nem membro de um composto, pois essas formações atuariam no nível pós-lexical. Fizemos uma coleta no Corpus do Português, de Davies e Ferreira (2006-) e constituímos um corpus com dados do século XIV ao XX. Constatamos que as formações com NÃO mostraram-se mais produtivas no século XX, e os casos de não + substantivo foram os que tiveram aumento mais significativo nesse século. Realizamos testes envolvendo as formações com NÃO e a concordância negativa que nos mostraram serem mais transparentes as estruturas com particípio, e mais opacas algumas formações com substantivo. Fizemos, então, uma coleta na base de dados Google de estruturas não + substantivo deverbal e observamos que o tipo de nominalização interfere no uso da concordância negativa. Assim, detectamos dois tipos de estrutura: uma mais opaca, localizada no nível morfológico, em que o NÃO constituiria um prefixo composicional (SCHWINDT, 2000), e outra mais transparente que estaria no nível pós-lexical. Entendemos que as formações mais opacas podem ser consideradas um processo de morfologização que não implica necessariamente em gramaticalização. Analisamos, ainda, a expressão NÃO OBSTANTE separadamente, considerando a hipótese de que tal construção teria passado por um processo de gramaticalização no português, conforme Hopper e Traugott (1993). Na análise do NÃO OBSTANTE em diferentes épocas da língua, encontramos evidências das etapas da gramaticalização da construção, constituída, inicialmente, por um elemento de negação mais o particípio presente do verbo OBSTAR e, depois, reanalisada como locução conjuntiva concessiva, selecionando exclusivamente verbos no subjuntivo. Utilizamos os pressupostos teóricos da Teoria da Variação e Mudança (LABOV, 1972) para a análise da competição entre o NÃO OBSTANTE em função mais gramatical e o item EMBORA desempenhando essa mesma função. Foi possível observar que a variação entre tais estruturas interferiu no processo de gramaticalização do NÃO OBSTANTE. Concluímos, considerando várias épocas, que existem dois processos atuando nas formações não + nome no português: morfologização e gramaticalização.This thesis analyzes the word NÃO (non/not) prepended to names in Portuguese. Would the word NÃO be a prefix? Or would this word be a member of a compound? To answer these questions, we consider the assumptions of Lexical Morphology and Phonology (KIPARSKY, 1982) and propose another question: would formations with the word NÃO (não + nominal) be located on a morphological level or post-lexicallevel (syntactic component)? Silva & Mioto (2009) propose that formations like não + nominal would be syntactically transparent; that is, this type of formation accepts negative agreement and, therefore, the word NÃO could not be a prefix or a member of a compound, since these formations would act at the post-lexical level. We collected data on the Corpus do Português website by Davies & Ferreira (2006-), and formed a corpus with data from the fourteenth century to the twentieth. We found thatformations with the word NÃO were more productive in the twentieth century, and the cases of NÃO + noun were increase in this century. We conducted tests involving the formations with the word NÃO and negative agreement, and these tests showed us that the structures with participle are more transparent, and certain structures with noun are more opaque. After that, we collected at the Google database formations like não + noun and observed that the type of nominalization interfere with the use ofnegative agreement. Thus, we detected two types of structure: one is more opaque, located on the morphological level, where the word NÃO constitute a compositional prefix (SCHWINDT, 2000), and another that is more transparent and it would be at the post-lexical level. We understand that more opaque formations can be considered a process of morphologization that does not imply in grammaticalization. We realized also the structure NÃO OBSTANTE (although) separately, considering the hypothesis that such a construction would have gone through a process of grammaticalization in Portuguese, like Hopper and Traugott (1993). In the analysis of NÃO OBSTANTE in different periods of time, we found evidence of grammticalization stages of the construction NÃO OBSTANTE, initially formed by a negation particle plus the present participle of the verb OBSTAR, and then re-analyzed as concessiveconjunctive expression, selecting only verbs in the subjunctive. We used the theoretical assumptions of the Theory of Variation and Change (LABOV, 1972) forthe analysis of competition between NÃO OBSTANTE in more grammatical function and the item EMBORA performing the same function. It was observed that the variation between these structures interfered with the process of grammaticalization of NÃO OBSTANTE. We conclude by considering several times that there are two processesacting in formations like não + nominal in Portuguese.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGLingua portuguesa NegaçãoLíngua portuguesa GramáticaLíngua portuguesa Morfologiagramaticalizaçãomorfologizaçãonão + nomeNÃO OBSTANTENÃO em formações nominais no português: morfologização versus gramaticalizaçãoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINAL1300d.pdfapplication/pdf4052406https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-8SSVEG/1/1300d.pdf98e5871e05e53d2386ea83ae087e9e51MD51TEXT1300d.pdf.txt1300d.pdf.txtExtracted texttext/plain569118https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-8SSVEG/2/1300d.pdf.txt1e583ac0d04a8b8edf95f901d2d00ea0MD521843/LETR-8SSVEG2019-11-14 16:54:42.686oai:repositorio.ufmg.br:1843/LETR-8SSVEGRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T19:54:42Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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