Déficits cognitivos e estabilidade da dislexia do desenvolvimento em português brasileiro

• Autor(a) principal: Mirelle França Michalick Triginelli
• Data de Publicação: 2018
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/62809
• topic: Dislexia de desenvolvimento; Déficits múltiplos; Português brasileiro; Estabilidade; Psicologia - Teses; Dislexia - Teses; Psicologia do desenvolvimento - Teses

A Dislexia do Desenvolvimento (DD) é um transtorno neurobiológico caracterizado por uma dificuldade específica de aprendizagem da leitura e escrita (American Psychiatric Association [APA], 2014). Há ampla evidência de que essa dificuldade está associada a déficits no processamento fonológico. Recentemente, no entanto, vários autores têm questionado a hipótese de que déficits fonológicos são necessários ou suficientes para o desenvolvimento da DD. De fato, de acordo com o modelo de déficits cognitivos múltiplos (Pennington, 2006), nenhum déficit, incluindo o déficit fonológico, é necessário ou suficiente para explicar o aparecimento da DD. Segundo esse modelo, a DD é mais adequadamente explicada em termos de uma multiplicidade de déficits cognitivos que, em conjunto, caracterizam o perfil cognitivo da DD. O objetivo do presente trabalho consistiu em descrever o perfil cognitivo e a estabilidade da DD em português brasileiro. Dois estudos foram realizados. O Estudo 1 avaliou a adequação do modelo de déficits múltiplos para a DD em português. Participaram do estudo três grupos de crianças entre 7 e 9 anos de idade: 21 crianças com dificuldades de escrita e leitura (DEL), 24 crianças com dificuldades de escrita (DE) e 45 crianças sem dificuldades de aprendizagem. As crianças dos dois primeiros grupos foram individualmente emparelhadas às crianças sem dificuldades de aprendizagem em função da idade e do ano escolar (2o ou 3o ano do Ensino Fundamental). Além de testes de leitura e escrita, as crianças foram submetidas a testes de vocabulário, habilidade visoespacial, consciência fonêmica, nomeação seriada rápida, memória fonológica, memória verbal de trabalho e velocidade de processamento. Em consonância com o modelo de déficits múltiplos, 90,5% das crianças com DEL e 45,8% das crianças com DE apresentaram déficits em duas ou mais habilidades. Em ambos os grupos, o déficit cognitivo mais frequente foi o déficit no processamento fonológico, presente em 100% das crianças com DEL e 58,3% das crianças com DE. Os resultados também mostraram que as crianças com dificuldade de leitura e escrita apresentaram maiores comprometimentos cognitivos do que as crianças com dificuldade de escrita que, por sua vez, tinham mais comprometimentos cognitivos do que as crianças típicas. Vinte e seis crianças com DEL e DE que haviam participado do Estudo 1, assim como de seus respectivos pares, foram submetidas a testes de leitura e escrita de palavras em duas ocasiões diferentes: no final do 2º ano e no final do 3º ano do Ensino Fundamental. Os resultados mostraram grande estabilidade da DD em português brasileiro, com manutenção das dificuldades iniciais de escrita para 81% das crianças. As implicações teóricas e práticas desses resultados são discutidas levando-se em conta a hipótese dos déficits múltiplos e a perspectiva dimensional da dislexia do desenvolvimento.