O gênero crônica: um estudo sob o enforque da teoria da estrutura retórica em interface com a linguistica textual

• Autor(a) principal: Emanuel da Silva Fontel
• Data de Publicação: 2019
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/LETR-BAXMTT
• topic: Funcionalismo; Gênero crônica brasileira; Linguística Textual; Relações retóricas; Teoria da Estrutura Retórica; Análise do discurso; Funcionalismo (Linguística); Crônicas; Gêneros textuais; Retóricas; Gêneros discursivos; Linguística textual

A crônica brasileira, ao passar a circular nos jornais locais do século XIX, assumiu feição própria: deixou de ser relato histórico, configuração com a qual se mantém em muitas outras culturas, para constituir-se em um gênero discursivo que atua na esfera dos debates sobre questões políticas, sociais, culturais, existenciais, estéticas etc., suscitadas por fatos comuns e triviais do cotidiano. Os textos que lhe dão vazão, normalmente, conjugam aspectos dos estilos e dos discursos literário e jornalístico; apresentam linguagem simples e, algumas vezes, disposição do cronista para uma interlocução direta com o leitor; comumente, apresentam heterogeneidade tipológica. Esses traços, embora recorrentes, parecem não ser capazes de responder sozinhos por uma caracterização satisfatória da crônica. A existência de inúmeras categorias desse gênero identificamos referência a aproximadamente trinta tipos baseadas em critérios muito díspares entre si é emblemática quanto a esse aspecto. Dessa forma, buscando contribuir para uma melhor caracterização, a presente tese de doutorado analisa um corpus de vinte crônicas brasileiras, focalizando a estrutura retórica que nelas se expressa em arranjos prototípicos, nos termos da Rhetorical Strucuture Theory RST ou Teoria da Estrutura Retórica. Esses arranjos, juntamente com outros indicadores já bem consolidados nos estudos que tratam sobre a crônica, concorrem para a formulação de mais um parâmetro para a caracterização desse gênero discursivo. O referencial teórico-metodológico sustenta-se na interface do Funcionalismo com a Linguística Textual. De forma mais específica, acionamos pelo lado funcionalista, principalmente, os trabalhos precursores de Mann e Thompson (1983, 1987, 1988, 2000) e de Matthiessen e Thompson (1988), além de outros que, a partir desses, foram desenvolvidos, tais como os de Taboada (2006, 2009), Redeker e Gruber (2014), Decat (1993, 2010a, 2010b, 2012, 2015), Antônio (2003, 2004, 2009). Pelo lado da Linguística Textual, acionamos as propostas de Coutinho (2007, 2009) e de Coutinho e Miranda (2009) relativamente à noção de parâmetros de gênero em conexão com a visão bakhtiniana de gênero discursivo proposta, sobretudo, em Bakhtin/Volochínov (2014/1929) e Bakhtin (2011/1979). Acionamos, ainda, Bronckart (1996, 2007, 2010) no que se refere à determinação dos mundos discursivos e dos tipos de discurso que semiotizam os textos. Como imperativo metodológico da RST, que exige a segmentação em porções de texto, acionamos Brown e Yule (1983), Jubran et al. (1992) e Jubran (2006) na determinação do tópico discursivo, que se apresenta, nesta pesquisa, como as unidades de informação entre as quais emergem as relações retóricas. Quanto à investigação das características da crônica, baseamo-nos em estudiosos clássicos das literaturas brasileira e portuguesa: Coutinho (1971), Candido, (1992), Arrigucci (1987) e também em outros que atualizam o tema: Calhoub, Neves e Pereira (2005), Neves (2007), Costa (2014), Reis (2015) e Gabriel Jr. (2015). A hipótese, que foi confirmada, é a de que ocorreriam, nos textos do gênero crônica brasileira, relações de Preparação, Atribuição, Fundo, Evidência e Justificativa. Os resultados demonstram que, no nível tópico II, no qual se situam os tópicos particularizadores, ocorrem arranjos prototípicos que atuam no nível genérico, isto é, no nível das caraterísticas que atribuem identidade em função da relativa estabilidade do gênero. Esses arranjos marcam-se pela emergência das relações retóricas de Preparação, Atribuição e Fundo, atuando nas condições de abertura; Evidência, Justificativa, Contraste, Elaboração, Lista e Sequência, atuando no desenvolvimento; Avaliação, Resumo e Justificativa, atuando no acabamento do gênero. Além dessa configuração composicional, identificamos que essa rede de relações se justifica em virtude de sua ligação com variados aspectos do componente temático e em razão dos diferentes propósitos sociodiscursivos que as crônicas brasileiras permitem que os usuários da língua concretizem nas diferentes esferas sociais e ideológicas em que esse gênero circula.