Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gabriela Almeida Moreira Lamounier
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-AYVHBJ
Resumo: Considerando que, no Brasil, as práticas penais estão historicamente associadas com o controle da população negra; o paradigma racista que sustenta sua metodologia determina a dinâmica de funcionamento das prisões: por meio da negação da humanidade das pessoas. Ao denunciar vários abusos aos quais estão submetidas as pessoas presas no Anexo, uma bicha compartilha comigo que a gente tá é preso. Num é morto, nem lixo, nem bicho!. O objetivo principal da pesquisa foi analisar o Programa de Reabilitação, Reintegração Social e Profissionalização (Alas LGBT) do Sistema Prisional de Minas Gerais (MG), a partir da perspectiva das pessoas encarceradas. Deste modo, considerei que as pessoas presas produzem saberes e conhecimento sobre o sistema prisional. Para tanto, realizei visitas, conversas e trocas de afetos com as pessoas que estavam presas no Anexo, a Ala LGBT da unidade prisional do município de Vespasiano; examinei normativas e planos de ação estatais sobre políticas criminais e direitos LGBT; realizei uma entrevista semiestruturada com o atual coordenador da Coordenadoria Especial de Políticas de Diversidade Sexual (CODS) a respeito da realidade de vulnerabilização das pessoas LGBT presas em MG; e analisei matérias jornalísticas a respeito das políticas de Alas em MG e no Brasil. Para desenvolver este trabalho, considerando a potente aproximação entre psicologia social e etnografia, decidi suplementar as análises e descrições com expressões de afeto, gírias, reflexões pessoais e recortes do caderno de campo elaborado durante as visitas no Anexo. As principais questões que nortearam a pesquisa foram: como as pessoas que estão ali, semana após semana, dia após dia, hora após hora, analisam aquele espaço? Quais críticas fazem e o que demandam? O que elas criam, refletem e produzem sobre o tema dos encarceramentos dos gêneros? Como construir um texto que ajude a complexificar o debate sobre gênero e sexualidade no sistema prisional? Denúncias, piadas, carinhos, risadas, lágrimas. Impotência, susto, urgência. A partir da relação que construí com as pessoas presas no Anexo e do contato com referenciais feministas, da criminologia crítica e do anarquismo abolicionista transviado, foi inevitável concluir que as políticas criminais, mesmo aquelas paradoxalmente implementadas em um vocabulário democrático de segurança para a população LGBT, qualificam as bases para um determinado regime: o da punição e encarceramento em massa. Dessa forma, ainda que urgente e necessária a curto prazo, uma política como a de Alas específicas, cujo objetivo seria garantir a segurança das bichas e travestis encarceradas, não pode ser escolhida como a melhor resposta para afirmar a dignidade das pessoas LGBT presas, uma vez que ela colabora para o fortalecimento das políticas criminais, que agem a partir de uma ordem contrária à existência das próprias pessoas transviadas.
id UFMG_6b0f36f1bd845ab0d739f5f80b418523
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-AYVHBJ
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Marco Aurelio Maximo PradoVanessa Andrade de BarrosJuliana Gonzaga JaymeGabriela Almeida Moreira Lamounier2019-08-11T19:44:20Z2019-08-11T19:44:20Z2018-03-01http://hdl.handle.net/1843/BUBD-AYVHBJConsiderando que, no Brasil, as práticas penais estão historicamente associadas com o controle da população negra; o paradigma racista que sustenta sua metodologia determina a dinâmica de funcionamento das prisões: por meio da negação da humanidade das pessoas. Ao denunciar vários abusos aos quais estão submetidas as pessoas presas no Anexo, uma bicha compartilha comigo que a gente tá é preso. Num é morto, nem lixo, nem bicho!. O objetivo principal da pesquisa foi analisar o Programa de Reabilitação, Reintegração Social e Profissionalização (Alas LGBT) do Sistema Prisional de Minas Gerais (MG), a partir da perspectiva das pessoas encarceradas. Deste modo, considerei que as pessoas presas produzem saberes e conhecimento sobre o sistema prisional. Para tanto, realizei visitas, conversas e trocas de afetos com as pessoas que estavam presas no Anexo, a Ala LGBT da unidade prisional do município de Vespasiano; examinei normativas e planos de ação estatais sobre políticas criminais e direitos LGBT; realizei uma entrevista semiestruturada com o atual coordenador da Coordenadoria Especial de Políticas de Diversidade Sexual (CODS) a respeito da realidade de vulnerabilização das pessoas LGBT presas em MG; e analisei matérias jornalísticas a respeito das políticas de Alas em MG e no Brasil. Para desenvolver este trabalho, considerando a potente aproximação entre psicologia social e etnografia, decidi suplementar as análises e descrições com expressões de afeto, gírias, reflexões pessoais e recortes do caderno de campo elaborado durante as visitas no Anexo. As principais questões que nortearam a pesquisa foram: como as pessoas que estão ali, semana após semana, dia após dia, hora após hora, analisam aquele espaço? Quais críticas fazem e o que demandam? O que elas criam, refletem e produzem sobre o tema dos encarceramentos dos gêneros? Como construir um texto que ajude a complexificar o debate sobre gênero e sexualidade no sistema prisional? Denúncias, piadas, carinhos, risadas, lágrimas. Impotência, susto, urgência. A partir da relação que construí com as pessoas presas no Anexo e do contato com referenciais feministas, da criminologia crítica e do anarquismo abolicionista transviado, foi inevitável concluir que as políticas criminais, mesmo aquelas paradoxalmente implementadas em um vocabulário democrático de segurança para a população LGBT, qualificam as bases para um determinado regime: o da punição e encarceramento em massa. Dessa forma, ainda que urgente e necessária a curto prazo, uma política como a de Alas específicas, cujo objetivo seria garantir a segurança das bichas e travestis encarceradas, não pode ser escolhida como a melhor resposta para afirmar a dignidade das pessoas LGBT presas, uma vez que ela colabora para o fortalecimento das políticas criminais, que agem a partir de uma ordem contrária à existência das próprias pessoas transviadas.In Brazil, criminal practices are historically associated with the control of the black population. Therefore, the racist paradigm that underpins the methodology determines the working dynamics of prisons: the denial of the humanity of people who are incarcerated. When denouncing various abuses to which people that are living in the LGBT Wards are subjected to, a queer prisoner shared with me that we are prisoners. We are not dead, or trash, or animals. The main research goal was to analyse the Reabilitation, Social Reintegration and Professionalization Program (LGBT Wards) of the Minas Gerais (MG) Prison System, from the perspective of the prisoners. Thus, I considered that incarcerated people produce knowledge about the prison system. To this end, I realized visits, conversations and exchanged affection with the people who were incarcerated in the Annex, name for the LGBT Ward in the prison of Vespasiano; I examined legislation and state action plans on criminal policies and LGBT rights; I conducted a semi-structured interview with the current coordinator of the Special Office for Sexual Diversity Policies of Minas Gerais (CODS) about the work done regarding the reality of vulnerability of bichas and travestis imprisoned in MG; and I analised journalistic pieces regarding the LGBT Wards policies in MG and in Brazil. By considering the powerful approchement between social psychology and ethnography, I choose to complement the analyzes and descriptions with expressions of affection, slangs, personal reflections and clippings from the field book elaborated for the visits in the Annex. The main questions that guided this research were: how do the people who are there, imprisoned, week after week, day after day, hour after hour, analyze that space? What criticisms do they make? What changes they demand? What do the people in prison create, reflect, and produce on the subject of gender incarceration? How to build a text that helps complexifying the debate on gender and sexuality in the prison system? Complaints, jokes, affection, laughter, tears. Impotence, fear, urgency. From the relationship I build with people incarcerated in Vespasianos Annex and from the contact with feminist references, critical criminology and queer abolitionist anarchism, it was inevitable to conclude that the criminal policies, even those paradoxically implemented in a democratic vocabulary of security for the LGBT population, work to qualify the basis for a unrighteous policy of livelihoods: the politics of punishment and mass imprisonment. Thus, although urgent and necessary in the short term, a LGBT Ward policy may collaborate to strengthen criminal policies that act from an order that is contrary to the very existence of queer and deviant people.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGMinorias sexuaisTravestisPrisõesRelações de gêneroPsicologiaTravestisSistema prisionalNormas de gêneroAlas LGBTGêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Geraisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINAL2018._lamounier._generos_encarcerados.pdfapplication/pdf4701827https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AYVHBJ/1/2018._lamounier._generos_encarcerados.pdf023e842877e911db213314a33e3d9e30MD51TEXT2018._lamounier._generos_encarcerados.pdf.txt2018._lamounier._generos_encarcerados.pdf.txtExtracted texttext/plain594345https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AYVHBJ/2/2018._lamounier._generos_encarcerados.pdf.txte6a99ff17984b253a109780909196fbcMD521843/BUBD-AYVHBJ2019-11-14 11:28:21.129oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-AYVHBJRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T14:28:21Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais
title Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais
spellingShingle Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais
Gabriela Almeida Moreira Lamounier
Travestis
Sistema prisional
Normas de gênero
Alas LGBT
Minorias sexuais
Travestis
Prisões
Relações de gênero
Psicologia
title_short Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais
title_full Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais
title_fullStr Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais
title_full_unstemmed Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais
title_sort Gêneros encarcerados: uma análise trans.viada da política de alas LGBT no Sistema Prisional de Minas Gerais
author Gabriela Almeida Moreira Lamounier
author_facet Gabriela Almeida Moreira Lamounier
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Marco Aurelio Maximo Prado
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Vanessa Andrade de Barros
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Juliana Gonzaga Jayme
dc.contributor.author.fl_str_mv Gabriela Almeida Moreira Lamounier
contributor_str_mv Marco Aurelio Maximo Prado
Vanessa Andrade de Barros
Juliana Gonzaga Jayme
dc.subject.por.fl_str_mv Travestis
Sistema prisional
Normas de gênero
Alas LGBT
topic Travestis
Sistema prisional
Normas de gênero
Alas LGBT
Minorias sexuais
Travestis
Prisões
Relações de gênero
Psicologia
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Minorias sexuais
Travestis
Prisões
Relações de gênero
Psicologia
description Considerando que, no Brasil, as práticas penais estão historicamente associadas com o controle da população negra; o paradigma racista que sustenta sua metodologia determina a dinâmica de funcionamento das prisões: por meio da negação da humanidade das pessoas. Ao denunciar vários abusos aos quais estão submetidas as pessoas presas no Anexo, uma bicha compartilha comigo que a gente tá é preso. Num é morto, nem lixo, nem bicho!. O objetivo principal da pesquisa foi analisar o Programa de Reabilitação, Reintegração Social e Profissionalização (Alas LGBT) do Sistema Prisional de Minas Gerais (MG), a partir da perspectiva das pessoas encarceradas. Deste modo, considerei que as pessoas presas produzem saberes e conhecimento sobre o sistema prisional. Para tanto, realizei visitas, conversas e trocas de afetos com as pessoas que estavam presas no Anexo, a Ala LGBT da unidade prisional do município de Vespasiano; examinei normativas e planos de ação estatais sobre políticas criminais e direitos LGBT; realizei uma entrevista semiestruturada com o atual coordenador da Coordenadoria Especial de Políticas de Diversidade Sexual (CODS) a respeito da realidade de vulnerabilização das pessoas LGBT presas em MG; e analisei matérias jornalísticas a respeito das políticas de Alas em MG e no Brasil. Para desenvolver este trabalho, considerando a potente aproximação entre psicologia social e etnografia, decidi suplementar as análises e descrições com expressões de afeto, gírias, reflexões pessoais e recortes do caderno de campo elaborado durante as visitas no Anexo. As principais questões que nortearam a pesquisa foram: como as pessoas que estão ali, semana após semana, dia após dia, hora após hora, analisam aquele espaço? Quais críticas fazem e o que demandam? O que elas criam, refletem e produzem sobre o tema dos encarceramentos dos gêneros? Como construir um texto que ajude a complexificar o debate sobre gênero e sexualidade no sistema prisional? Denúncias, piadas, carinhos, risadas, lágrimas. Impotência, susto, urgência. A partir da relação que construí com as pessoas presas no Anexo e do contato com referenciais feministas, da criminologia crítica e do anarquismo abolicionista transviado, foi inevitável concluir que as políticas criminais, mesmo aquelas paradoxalmente implementadas em um vocabulário democrático de segurança para a população LGBT, qualificam as bases para um determinado regime: o da punição e encarceramento em massa. Dessa forma, ainda que urgente e necessária a curto prazo, uma política como a de Alas específicas, cujo objetivo seria garantir a segurança das bichas e travestis encarceradas, não pode ser escolhida como a melhor resposta para afirmar a dignidade das pessoas LGBT presas, uma vez que ela colabora para o fortalecimento das políticas criminais, que agem a partir de uma ordem contrária à existência das próprias pessoas transviadas.
publishDate 2018
dc.date.issued.fl_str_mv 2018-03-01
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-11T19:44:20Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-11T19:44:20Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/BUBD-AYVHBJ
url http://hdl.handle.net/1843/BUBD-AYVHBJ
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AYVHBJ/1/2018._lamounier._generos_encarcerados.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AYVHBJ/2/2018._lamounier._generos_encarcerados.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 023e842877e911db213314a33e3d9e30
e6a99ff17984b253a109780909196fbc
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1801676685301514240