Caminhada, canto, conversação: mise-en-scène reversa em três filmes do Coletivo Mbyá-Guarani de Cinema

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Moacir Francisco de Sant'ana Barros
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-ADCQ8J
Resumo: O projeto Vídeo nas Aldeias (VNA) propõe a realização de filmes a partir da formação de cineastas e coletivos indígenas, permitindo que grupos de diferentes etnias possam, eles próprios, se filmar. Se, inicialmente, esses filmes circulavam entre aldeias, agora muitos deles ganham projeção em mostras, festivais, cineclubes e salas de cinema. Essa experiência, de dimensões profundas e complexas, confere visibilidade a um pensamento nativo, reelaborando a imagem do indígena por meio de autoetnografias fílmicas, que não apenas registram traços culturais e cosmológicos específicos, mas também se endereçam ao diálogo intercultural, ampliando conceitos e imaginários metropolitanos. Desse modo, nossa investigação tem como objetivo identificar e analisar os procedimentos constitutivos da mise-en-scène de filmes do VNA, especificamente aqueles realizados pelo coletivo Mbyá-Guarani, em um corpus constituído pelos seguintes títulos: Duas aldeias, uma caminhada (VNA, 63 min, 2008), Bicicletas de Nhanderú (VNA, 45min, 2011) e Tava a casa de pedra (VNA, 78 min, 2012). Para nos ajudar a pensar essa cinematografia, buscamos uma aproximação a teorias antropológicas contemporâneas, sem, contudo, nos distanciarmos das questões propriamente fílmicas. Esses filmes manifestam-se como cultura com aspas (segundo formulação de Manuela Carneiro da Cunha), na medida em que os indígenas valem-se de definições metropolitanas para performar e citar, reflexivamente, sua própria cultura em seu cotidiano. Essas experiências aproximam-se, ainda, de uma antropologia reversa (Roy Wagner), configurando uma mise-en-scène que permite refletir, em cena, a relação estabelecida com a cultura do branco. Em nossas análises fílmicas, identificamos procedimentos cinematográficos e estilísticos que constituem os filmes por meio das categorias do campo, do antecampo e do extracampo, nos quais se observam entrelaçamentos entre o dentro e o fora da cultura, o dentro e o fora da aldeia, o dentro e o fora do filme. Como tentaremos demonstrar, a cinematografia do Coletivo Mbyá-Guarani é rica na produção de processos reversos, revelando-se, a nosso ver, como um cinema da caminhada, da conversação e do canto. Esses são os elementos que possibilitam aos personagens e aos próprios diretores atravessarem fronteiras tanto geográficas, quanto simbólicas.
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Desse modo, nossa investigação tem como objetivo identificar e analisar os procedimentos constitutivos da mise-en-scène de filmes do VNA, especificamente aqueles realizados pelo coletivo Mbyá-Guarani, em um corpus constituído pelos seguintes títulos: Duas aldeias, uma caminhada (VNA, 63 min, 2008), Bicicletas de Nhanderú (VNA, 45min, 2011) e Tava a casa de pedra (VNA, 78 min, 2012). Para nos ajudar a pensar essa cinematografia, buscamos uma aproximação a teorias antropológicas contemporâneas, sem, contudo, nos distanciarmos das questões propriamente fílmicas. Esses filmes manifestam-se como cultura com aspas (segundo formulação de Manuela Carneiro da Cunha), na medida em que os indígenas valem-se de definições metropolitanas para performar e citar, reflexivamente, sua própria cultura em seu cotidiano. Essas experiências aproximam-se, ainda, de uma antropologia reversa (Roy Wagner), configurando uma mise-en-scène que permite refletir, em cena, a relação estabelecida com a cultura do branco. Em nossas análises fílmicas, identificamos procedimentos cinematográficos e estilísticos que constituem os filmes por meio das categorias do campo, do antecampo e do extracampo, nos quais se observam entrelaçamentos entre o dentro e o fora da cultura, o dentro e o fora da aldeia, o dentro e o fora do filme. Como tentaremos demonstrar, a cinematografia do Coletivo Mbyá-Guarani é rica na produção de processos reversos, revelando-se, a nosso ver, como um cinema da caminhada, da conversação e do canto. Esses são os elementos que possibilitam aos personagens e aos próprios diretores atravessarem fronteiras tanto geográficas, quanto simbólicas.Le projet Vidéo dans les Aldeias (VNA) propose la réalisation de films à partir de la formation de cinéastes et des collectifs indiens, en permettant que les groupes de différentes ethnies peuvent eux-mêmes être filmés. Si, initialement, ces films-là circulaient parmi les aldeias, maintenant, beaucoup deux commencent à circuler plus largement dans des expositions, des festivals, des ciné-clubs et les cinémas. Cette expérience, de dimensions profondes et complexes, permet une visibilité à une pensée indigène et de retravailler l'image de l' indigène par «autoethnographies filmiques» qui non seulement enregistrent les caractéristiques culturelles et cosmologiques spécifiques, mais aussi traitent le dialogue interethnique, expansion les concepts et imaginaire métropolitain. Ainsi, notre recherche vise à identifier et analyser les procédures constitutives de mise -en- scène des films VDA, en particulier ceux réalisés par le collectif Mbyá - Guarani, dans un corpus qui comprend les titres suivants : Duas aldeias, uma caminhada( VDA, 63 min , 2008), Bicicletas de Nhanderú (VDA , 45min , 2011) et Tava a casa de pedra (VDA, 78 min , 2012). Pour penser cette cinématographie, nous avons opté pour une approche à des théories anthropologiques contemporaines, sans toutefois nous éloigner des questions filmiques. Dans la mesure où présentent leur vie quotidienne à travers le cinéma, ces films se manifestent comme « la culture avec guillemets » (selon la formulation de Manuela Carneiro da Cunha), car les indigènes se prévaloient de paramètres métropolitaines pour la mise en scène et citation raisonnable de leur propre culture. Ces expériences se rappochent à une anthropologie renversée ( Roy Wagner ), constituant une mise en scène qui permet une réflexion sur la scène, la relation avec la culture du blanc. Lanalyse du corpus nous a permis lidentification des procédures cinématographiques et stylistiques filmiques renvoient à des catégories du champ, hors-champ et ante-champ qui nous permettent dobserver des mailles entre l'intérieur et l'extérieur de la culture, l'intérieur et l'extérieur de laldeia, l'intérieur et l'extérieur du film. Enfin, la cinématographie du Collectif Mbyá-Guarani est riche dans la production de processus inverse en configurant comme un film de la promenade, la conversation et la musique. Ce sont ces éléments qui permettent aux personnages et aux réalisateurs dépasser les limites soit géographique, soit symbolique.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGÍndiosDocumentário (Cinema)Comunicação de massaCinemaDocumentário indígenaMise-en-scèneAntecampoCaminhada, canto, conversação: mise-en-scène reversa em três filmes do Coletivo Mbyá-Guarani de Cinemainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALpdf_final_2016.pdfapplication/pdf8831668https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-ADCQ8J/1/pdf_final_2016.pdf35c6ecae12185b9055773f3bdcab9614MD51TEXTpdf_final_2016.pdf.txtpdf_final_2016.pdf.txtExtracted texttext/plain488939https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-ADCQ8J/2/pdf_final_2016.pdf.txtcadde376e12a33ec005bcd278a6a64fdMD521843/BUBD-ADCQ8J2019-11-14 03:32:46.115oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-ADCQ8JRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T06:32:46Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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