A construção da subjetividade de um aluno surdo bimodal no contexto da pandemia da COVID-19

• Autor(a) principal: Cleuzilaine Vieira da Silva
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/54077
• topic: Psicologia histórico-cultural; Etnografia em Educação; Aluno surdo bimodal; Oralidade/gestualidade; Subjetividade; Educação; Educação especial; Surdos - Educação; Surdos - Linguagem; Ensino à distância; Oralidade; Subjetividade

A presente tese investiga a construção da subjetividade de um aluno surdo bimodal, tendo como processos educacionais a implantação do Ensino Remoto Emergencial, e o retorno presencial das aulas na Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais no contexto da COVID-19. Desta forma, tendo como arcabouço teórico-metodológico a Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski em diálogo com a Etnografia em Educação como lógica de investigação guiada pela Análise do Discurso, foi produzido um material empírico denso durante o ano de 2021. Esse material e o contexto social situado nos levaram a eleger Otto, um aluno surdo bimodal, como caso expressivo, tendo como critérios: (I) a tomada de consciência de Otto, de si e dos outros; (II) a mediação das linguagens em uso, Libras e LO (Língua Oral), nas relações sociais e discursivas de Otto com sua mãe e com os profissionais da educação; e por fim, (III) a construção de conceitos, sentidos e significados por Otto a partir das práticas pedagógicas dos profissionais da educação nas aulas remotas e presencial. Nesse sentido, a partir do constructo teórico-metodológico ACCL – Afeto-cognição social situada-culturas- linguagens em uso, que abrange em sua totalidade como unidade os critérios que justificam Otto como caso expressivo, identificamos uma menor unidade de análise [oralidade-gestualidade] que é central na construção da subjetividade de Otto. A tese que defendemos é a construção de uma subjetividade a partir das relações sociais de Otto nos meios familiar e escolar. Mesmo que Otto entenda diferenças entre ele e os outros, a sua tomada de consciência sobre si e sobre os outros parece, a princípio, confusa, pois não lhe é oportunizado, pelas linguagens em uso, construir o conhecimento a partir das suas próprias vivências. Não lhes são abertas oportunidades de aprender em colaboração com o outro; o que há é uma imposição do conhecimento pelo outro, o que nos revela que a construção da subjetividade do estudante tem estreita ligação com as linguagens em uso, a língua de sinais (LS) e a língua oral (LO). Compreende-se também que o modelo de inclusão proposto nas escolas estaduais de Minas Gerais, ainda é precário no sentido de atender às peculiaridades educativas e linguísticas do estudante surdo e que a influência de correntes teóricas e práticas de ensino que foram identificadas no decorrer deste trabalho, dificultaram a construção de conhecimento com o aluno de forma colaborativa com os outros participantes por meio da relação instrução-desenvolvimento e da unidade de análise [oralidade-gestualidade]. Diante desse quadro, quando Otto pode se expressar, ser sujeito do discurso, ele diz preferir o uso da Libras para se comunicar com as pessoas e, ao fazer uso de gestos, sinais, oralizar, usar o corpo todo para se comunicar e produzir sentido para as ações de instrução-desenvolvimento que vivenciou, ele nos mostra que se vê como uma pessoa surda bimodal.