“Wetland” como unidade hidrogeomorfológica na transição entre o cerrado e o semiárido mineiro: análise da dinâmica do Pantanal da bacia de drenagem do rio Pandeiros - MG

• Autor(a) principal: Diego Alves de Oliveira
• Data de Publicação: 2019
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/37807; https://orcid.org/0000-0002-6325-0459
• topic: Áreas úmidas; Hidrogeomorfologia; Pantanal do rio Pandeiros; Bacia do rio Pandeiros; Rio São Francisco; Geomorfologia – Minas Gerais; Hidrologia – Minas Gerais; Terras inundáveis – Conservação – Minas Gerais –

O Pantanal do rio Pandeiros (PRP), localizado na região Norte de Minas Gerais, Brasil, é uma importante wetland para a bacia do rio São Francisco contribuindo parcialmente com o aprisionamento de carbono e contenção de sedimentos transportados para o rio São Francisco, que, de outra maneira, contribuiriam para o seu assoreamento. Resultante da interação entre vários fatores como a geologia, geomorfologia e variações climáticas em região de transição de uma área tropical úmida para o semiárido, sua principal fonte de umidade são as monções que ocorrem na América do Sul, as quais possibilitam a ocorrência dos pulsos de inundação, alterando temporariamente seus níveis de base e permitindo a inundação das wetlands, demonstrando a importância de sua análise por meio de uma abordagem hidrogeomorfológica. O objetivo principal da pesquisa é o de compreender a dinâmica desta wetland como unidade hidrogeomorfológica e não apenas ecossistêmica, como normalmente ocorre na literatura. Foram realizadas análises dos pulsos de inundação com o uso de dados de estações fluviométricas e climatológicas instaladas no PRP, os quais apresentaram variações cíclicas no aporte de umidade. Os resultados indicam que nos últimos anos, foi registrada uma redução no nível do rio São Francisco e na vazão do rio Pandeiros implicando em uma redução das inundações do PRP em todos os aspectos investigados: duração, frequência, intensidade e magnitude, principalmente a partir da década de 1990. A alteração do nível de base, neste caso o nível do rio São Francisco na foz do rio Pandeiros, é fator importante pois por meio de análise de Modelos Digitais de Elevação com resolução de 12,5 m foi possível identificar que a wetland é topograficamente uma depressão cuja altitude é em grande parte, similar à do canal do rio São Francisco, o que implica em inundações muito mais longitudinais do que laterais no PRP. Foram aplicadas técnicas para caracterização da assinatura geoquímica da água superficial como: pH, alcalinidade, condutividade elétrica (CE), sólidos totais dissolvidos, turbidez, sílica e análise em ICP, que revelou abundância de cálcio e magnésio dissolvidos. A dinâmica de circulação da água com o uso de traçadores isotópicos 2H e 18O demonstrou as interações que ocorrem na foz do rio Pandeiros durante as diferentes fases da inundação. O monitoramento longitudinal do nível da água ao longo da área do PRP foi realizado com o monitoramento de 5 piezômetros cujos dados, analisados em conjunto às outras técnicas, indicaram a existência de quatro diferentes subunidades hidrogeomorfológicas no interior do PRP. Em cada uma destas, foram realizadas amostragens das geocoberturas superficiais, submetidas às análises laboratoriais de granulometria, pH, CE, carbono orgânico (CO), sódio, potássio, alumínio, ferro, cálcio e magnésio que também apresentam variação lateral e principalmente longitudinal ao longo do PRP. Subsuperficialmente, por meio do uso de ground penetrating radar, foi identificada a predominância de camadas horizontalizadas; contudo, a partir de 3-4 m de profundidade, há a ocorrência de diversos paleocanais e seixos angulosos, indicando ambiente de alta energia no período da deposição. Ainda foi analisada a dinâmica de desnudação da bacia do rio Pandeiros, através do uso do 10Be, com a estimativa da perda média de material alterado por milhão de anos (Ma) em quatro pontos da bacia, indicando um grande aporte de sedimentos oriundos da escarpa de dissecação das chapadas que contornam boa parte da bacia do rio Pandeiros foram, e continuam sendo direcionados para o PRP. Também foram datados sedimentos orgânicos, a 150 cm de profundidade, por meio do 14C (TPM), que apresentaram idades de até 3.246 anos A.P. e deposição em um ambiente paleoclimático muito úmido, relativamente constante, como indicou a composição isotópica de 13C. Os resultados indicam que esta wetland é dependente de condições multiescalares, em uma complexa dinâmica hidrogeomorfológica, em uma situação de equilíbrio ambiental sutil.