Manifestações neurológicas e psiquiátricas na cardiopatia reumática crônica

• Autor(a) principal: Luiz Paulo Bastos Vasconcelos
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/34678
• topic: Cardiopatia reumática crônica; Disfunção motora dos núcleos da base; Sintomas obsessivo-compulsivos; Transtornos de humor; Migrânea; Cardiopatia Reumática; Doenças dos Gânglios da Base; Transtorno Obsessivo-Compulsivo; Transtornos do Humor; Enxaqueca sem Aura

Introdução: A cardiopatia reumática crônica (CRC) representa a manifestação mais grave de febre reumática (FR) aguda, resultante de uma resposta imune anormal à faringite estreptocócica a qual desencadeia tanto o dano valvar quanto a potenciais danos ao sistema nervoso central. O presente estudo avaliou a prevalência de transtornos neurológicos e psiquiátricos em pacientes com CRC e apresenta as características associadas à disfunção motora dos núcleos da base nessa população. Métodos: Realizamos avaliação clínica, neurológica e psiquiátrica estruturada de pacientes com CRC recrutados de um centro especializado em tratamento de doenças valvares. Foram aplicados questionários validados para avaliação da cognição, depressão, ansiedade e sintomas obsessivo-compulsivos. A disfunção motora dos núcleos da base (DMNB) foi definida como a presença de disfunção clínica dos circuitos motores fronto-estriatais, tendo como base a detecção de distúrbios do movimento hipercinéticos ao exame neurológico. Resultados: Cinquenta pacientes foram incluídos com a média de idade de 43,2 ± 10,8 anos, nos quais 42 pacientes (84%) foram do sexo feminino. A valva mitral foi acometida em 47 pacientes (94%) e 21 deles (42%) também tiveram acometimento da valva aórtica. A prevalência de transtornos neurológicos e psiquiátricos foi alta representado por coreia (22%), tiques crônicos (18%), sintomas obsessivo-compulsivos (48%), transtorno depressivo maior (34%), transtorno de ansiedade generalizada (54%), queixas cognitivas (66%), migrânea (52%) e crises epilépticas (18%). Os fatores independentemente associados aos sinais clínicos de DMNB foram a idade (odds ratio ajustada [OR]: 0,916, intervalo de confiança de 95% [IC]: 0,853 - 0,985; p = 0,018), a depressão maior (OR ajustada: 7,534, IC 95%: 1,528 - 37,148; p = 0,013) e o escore de sintomas obsessivo-compulsivos Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale (Y-BOCS) (OR ajustado: OR: 1,101, IC 95%: 1,022 - 1,187; p = 0,011). A gravidade da doença cardíaca não se associou à DMNB. Conclusões: As manifestações neurológicas e comportamentais são frequentes em pacientes com CRC, as quais podem persistir por até 3 décadas desde a FR aguda. A idade, o transtorno depressivo maior e o escore Y-BOCS foram associados à DMNB. Estas manifestações merecem uma atenção especial de clínicos e pesquisadores que lidam com pacientes adultos com CRC.