Frederico Müller, tradutor de Rudolf Steiner: um estudo de caso

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rui Rothe-neves
Data de Publicação: 1998
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9J2KYX
Resumo: Apresenta-se um estudo de caso sobre os procedimentos de traduçãoutilizados por Frederico i^üller (1898-1982) em suas traduções de obras do filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), fundador da Antroposofia - doutrina que busca ampliar a ciência a partir de uma visão espiritualista do ser humano. Müller foi o primeiro tradutor de Steiner no Brasil e, ao longo de 38 anos (1942-1980), traduziu do alemão e publicou 39 livros, artigos e preleções de Steiner, além de volumes de nove outros autores. O objetivo central é oferecer uma visão detalhada do modo de traduzir de Müller, relacionando-o ao contexto em que surgiu. Para tanto, analisam-se as traduções que Müller fez de obras de Steiner, utilizando entre outros um método computacional de coleta de dados. Mereceu atenção especial o modo como Müller buscou reapresentar os textos de Steiner em português. A análise partiu da opção fundamental pela abordagem descritiva dos procedimentos de tradução utilizados. A investigação baseou-se no modelo conhecido como "Estudos descritivos de Tradução". Procedeu-se ao exame do livro Teosofia (STEINER, 1977), para a coleta dos 'fenômenos de tradução" (cf. TOURY, 1995). Buscou-se então generalizar a importância dos itens para outras obras traduzidas por Müller, coletando informações em um corpus com uma amostra de dez livros (dados: 41694; tipos: 5931; razão t/d: 0.14225), cobrindo um período de 18 anos. Esta metodologia permitiu, por exemplo, levantar todas os neologismos criados por Müller (8,43% do vocabulário total) e avaliar quantitativamente a importância relativa dos procedimentos levantados. Concluiu-se que o fator mais importante dentre os envolvidos nas decisões de Müller no nívelideológico é a noção de uma língua original, indiferenciada. Outros construtos ideológicos importantes são, nesta ordem: autoridade do autor, importância do estilo, autoridade da língua de partida, autoridade do original. No nível poetológico, ou da tradição literária, viu-se que uma das características do sistema de textos filosóficos (a posição de fraqueza do sistema de chegada em relação ao de partida) garanteaceitação à inclusão de glossário e notas terminológicas e à formação de palavras em classes abertas, formadas principalmente por prefixação. O nível discursivo é praticamente inexistente, o que se atribui à "hipertrofia" do nível ideológico. O trabalho de tradução de Müller concentrou-se principalmente no nível lingüístico. O uso especialda oriiografia, os neologismos em classes abertas e fechadas, as inversões sintáticas etc. são procedimentos que ele utilizou para realizar textualmente uma tradução que se queria uma reprodução tanto quanto possível isomórfica do original. Os esforços de Müller no nível lingüístico parecem ser os maiores responsáveis por sua rejeição não apenas no "mainstream" editorial no Brasil, como também em círculos antroposóficos. As obras de Steiner foram republicadas em outras traduções, sem menção ao seu trabalho pioneiro. À luz dos estudos contemporâneos de tradução, os esforços de Müller em mimetizar o discurso de Steiner se constituem numa fábrica significante, capaz de fornecer em português invenções como as de Manoel Odorico Mendes em suas traduções de clássicos gregos e as de Haroldo de Campos em sua tradução do Fausto, de Goethe.
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