Valência dos verbos de conhecimento do português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Janayna Maria da Rocha Carvalho
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/LETR-8UJM77
Resumo: A perspectiva deste trabalho é descritiva (Perini, 2006, 2008, 2010), com o seguinte pressuposto básico: antes de construção de teorias, deve-se coletar e sistematizar os dados tendo em vista, sempre que possível, o estudo da relação entre a forma e sua semântica, em todos os níveis linguísticos. Tomando essa orientação como pressuposto, objetivamos apresentar um estudo descritivo dos verbos de conhecimento. O estudo descritivo, inserido no Projeto Valências Verbais do Português (doravante, Projeto VVP), se pauta na identificação de relações conceptuais temáticas (doravante RCTs) nos verbos e as relações delas com a expressão sintática de seus argumentos. Em linhas gerais, RCTs correspondem aos frame elements de Ruppenhofer et al. (2006), ou seja, a relação semântica que um determinado argumento tem com o verbo da oração em que se encontra. É um conceito próximo ao de papel temático, com a ressalva de que as RCTs são relações menos esquemáticas que papéis temáticos e, por isso, acessíveis à intuição direta. Definimos verbo de conhecimento como aquele que faz a asserção sobre o estado da informação na memória de alguém. A partir dessa definição, chegamos a uma amostra de 22 verbos que são, exclusiva ou quase que exclusivamente, usados para representar o estado da informação na memória de alguém. Ressaltamos que há outros verbos na língua que, com um determinado objeto ou em uma construção particular, também podem asserir algo sobre o estado da informação, mas, como eles não são exclusivos desse campo semântico, foram ignorados na análise. Exemplos de construções com verbos não explorados na análise são, dentre outros: Bateu uma dúvida e Decifrei a equação. Distinguimos, nos 22 verbos analisados, três relações conceptuais temáticas (RCTs): o Conhecedor, sempre expresso pelo sujeito dos verbos de conhecimento, a Coisa conhecida, expressa pelo objeto direto ou por um complemento preposição + SN (tradicionalmente chamado de objeto indireto) e a Origem do conhecimento, expressa por sintagmas encabeçados por preposições, tradicionalmente chamados de adjuntos. Dessas três relações, a primeira sempre está presente nos verbos, a segunda, às vezes, pode não estar, porque há verbos que podem ter seus complementos omitidos, e a terceira obedece uma restrição das classes acionais dos verbos. Mais especificamente, a Origem do Conhecimento só pode estar presente em verbos que são classificados como atividade, accomplishments ou achievements. ( cf. Vendler (1967)) Essas relações foram definidas semanticamente com vistas a contribuir para as definições de papéis temáticos, uma das preocupações do projeto VVP. Por fim, após descrever a classe de verbos de conhecimento, tentamos fazer algumas aproximações ou separações entre as RCTs definidas para os verbos de conhecimento e os papéis temáticos existentes na literatura linguística. Com base nos critérios de Perini (2008), discordamos que a Relação Conceptual Temática Conhecedor, vinculada ao sujeito dos verbos aqui estudados, seja Experienciador (contra Britto et. alii (2002), Carvalho (2008), Eliseu (2010)), uma vez que este papel temático pode ocorrer em objetos. (cf. Cançado (1995)) e o Conhecedor, em virtude de suas propriedades semânticas, não pode. Além disso, percebemos que a RCT Conhecedor também é vinculada ao sujeito de alguns verbos de percepção - como notar, ver, perceber, todos relacionados com a entrada da informação na mente do falante - e exploramos algumas hipóteses para o estabelecimento de RCTs e papéis temáticos em trabalhos futuros com base nos resultados encontrados.
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(2006), ou seja, a relação semântica que um determinado argumento tem com o verbo da oração em que se encontra. É um conceito próximo ao de papel temático, com a ressalva de que as RCTs são relações menos esquemáticas que papéis temáticos e, por isso, acessíveis à intuição direta. Definimos verbo de conhecimento como aquele que faz a asserção sobre o estado da informação na memória de alguém. A partir dessa definição, chegamos a uma amostra de 22 verbos que são, exclusiva ou quase que exclusivamente, usados para representar o estado da informação na memória de alguém. Ressaltamos que há outros verbos na língua que, com um determinado objeto ou em uma construção particular, também podem asserir algo sobre o estado da informação, mas, como eles não são exclusivos desse campo semântico, foram ignorados na análise. Exemplos de construções com verbos não explorados na análise são, dentre outros: Bateu uma dúvida e Decifrei a equação. Distinguimos, nos 22 verbos analisados, três relações conceptuais temáticas (RCTs): o Conhecedor, sempre expresso pelo sujeito dos verbos de conhecimento, a Coisa conhecida, expressa pelo objeto direto ou por um complemento preposição + SN (tradicionalmente chamado de objeto indireto) e a Origem do conhecimento, expressa por sintagmas encabeçados por preposições, tradicionalmente chamados de adjuntos. Dessas três relações, a primeira sempre está presente nos verbos, a segunda, às vezes, pode não estar, porque há verbos que podem ter seus complementos omitidos, e a terceira obedece uma restrição das classes acionais dos verbos. Mais especificamente, a Origem do Conhecimento só pode estar presente em verbos que são classificados como atividade, accomplishments ou achievements. ( cf. Vendler (1967)) Essas relações foram definidas semanticamente com vistas a contribuir para as definições de papéis temáticos, uma das preocupações do projeto VVP. Por fim, após descrever a classe de verbos de conhecimento, tentamos fazer algumas aproximações ou separações entre as RCTs definidas para os verbos de conhecimento e os papéis temáticos existentes na literatura linguística. Com base nos critérios de Perini (2008), discordamos que a Relação Conceptual Temática Conhecedor, vinculada ao sujeito dos verbos aqui estudados, seja Experienciador (contra Britto et. alii (2002), Carvalho (2008), Eliseu (2010)), uma vez que este papel temático pode ocorrer em objetos. (cf. Cançado (1995)) e o Conhecedor, em virtude de suas propriedades semânticas, não pode. Além disso, percebemos que a RCT Conhecedor também é vinculada ao sujeito de alguns verbos de percepção - como notar, ver, perceber, todos relacionados com a entrada da informação na mente do falante - e exploramos algumas hipóteses para o estabelecimento de RCTs e papéis temáticos em trabalhos futuros com base nos resultados encontrados.This is a descriptive work, and presupposes that before building thories, we should accumulate and systematize data with the aim of studying the relation between form and semantics. Starting from that, I attempt to present a description of knowledge verbs in Brazilian Portuguese. This description depends on the definition of conceptual thematic relations (RCT, its acronym in Portuguese) associated with verbs, and their syntactic expression in verbal complements. In general terms, a RCT corresponds to a frame element as defined by Ruppenhofer et al. (2006), that is, the semantic relation between a complement and the verb in its clause. It is a concept akin to the thematic role, but a RCT is less schematic, to the point of being accessible to direct intuition. A verb of knowledge is one that asserts something about the state of information in somebodys memory. Starting from that definition, we arrived to a sample of 22 verbs which are, exclusively or almost exclusively, used to represent the state of information in memory. There are other verbs in the language which, according to their object or in particular constructions, can also assert something about the state of information, but these verbs are not exclusive of this semantic field and were ignored in the analysis. Three RCTs were defined in relation to verbs of knowledge: Knower (Conhecedor), which is always expressed by the subject; Thing known (Coisa conhecida), expressed by the object or by a prepositional phrase tradicionally termed indirect object; and Source of knowledge (Origem do conhecimento), expressed by a prepositional phrase, traditionally termed adjunct. The first of these RCTs is always expressed; the second RCT may be omitted; and the third one follows a restriction which has to do with the Aktionsart of the verb. More specifically, the Source of knowledge appears only in connection with verbs of accomplishment or achievement (cf. Vendler, 1967). Finally, I make some approximations between the RCTs defined here and the thematic roles current in the literature. Following Perinis (2008) criteria, I do not identify the Knower as a case of Experiencer (contra Britto et al., 2002; Cavalho, 2008; Eluseu, 2010), because this thematic role can be expressed by an object, whereas the Knower cannot. I also found that the RCT Knower is associated to the subject of some perception verbs like notar, ver, perceber, all related to the entry of information into memory; and I explore some hypotheses on the definition of thematic roles from RCTs, to be developed in future work.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGLingüísticaLíngua portuguesa GramáticaLíngua portuguesa Verbosportugues brasileiroVerbosValência dos verbos de conhecimento do português brasileiroinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINAL1484m.pdfapplication/pdf1307140https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-8UJM77/1/1484m.pdfcb1dd87d3541c5335675d5b13703d0a2MD51TEXT1484m.pdf.txt1484m.pdf.txtExtracted texttext/plain189764https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-8UJM77/2/1484m.pdf.txt8851f9b620ea0d97b9aa9a7a20f535fdMD521843/LETR-8UJM772019-11-14 08:19:57.637oai:repositorio.ufmg.br:1843/LETR-8UJM77Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T11:19:57Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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