Os Desafios da Epidemia do Ebola
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2014 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por eng |
Título da fonte: | Revista Brasileira em Promoção da Saúde |
Texto Completo: | https://ojs.unifor.br/RBPS/article/view/3384 |
Resumo: | Desde que se criaram as condições para a existência de aglomerados populacionais, os grandes flagelos sanitários da humanidade sempre estiveram presentes. As condições de vida, os desastres naturais ou provocados, podem agravar consideravelmente o risco de epidemias. Ao largo da história da humanidade, se viu populações de todo o mundo afetadas esporadicamente por surtos devastadores de doenças infecciosas, com destaque para cólera, peste e varíola. Hipocrates (460-377 AC) e Galeno (129-216 DC) já descreveram em suas épocas um doença que provavelmente era a cólera(1).A relação entre doença e civilização tem raízes mais antigas que a historia escrita. Os males sofridos durante os primeiros estágios da evolução humana foram identificados através de estudos arqueológicos(2).A atualidade é marcada por erupções recorrentes de doenças recém- descobertas, como o hantavirus, a AIDS, o ebola e gripes provocadas por vírus de diversas estruturas, entre outras epidemias de doenças que migraram para novas áreas, moléstias que adquiriram importância através de tecnologias humanas, como as síndromes de choques tóxicos, a doença dos legionários e zoonoses, em decorrência da destruição dos habitats naturais dos animais pelo homem. Algumas dessas doenças são potencialmente epidêmicas, e poderão gerar epidemias em grande escala, até mundial, a exemplo da epidemia global do vírus da imunodeficiência humana, a AIDS, considerada a primeira doença infecciosa epidêmica moderna(2,3).O grande aumento da movimentação de pessoas e mercadorias pelo mundo é força motriz por trás da globalização das doenças, tornando o mundo mais rapidamente vulnerável às mesmas e à sua propagação, tanto de antigas como de novas enfermidades. As pessoas e as mercadorias passaram a viajar e circular mais, muito mais rápido e a mais lugares e com elas, transportam-se micro-organismos a locais onde antes inexistiam. A nova epidemia de Ebola traz, no seu bojo, grandes desafios para os serviços de saúde e pesquisadores. Três fatores intervieram para sua eclosão e repercussão. O primeiro está na gravidade da doença, expressa numa letalidade de 50 a 90%. O segundo diz respeito à magnitude, abrangendo três países e cidades altamente populosas, na Libéria, Guiné Conacri e Serra Leoa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS, os surtos surgem, normalmente, em aldeias remotas da África Central e Ocidental, próximo a florestas tropicais. Neste momento, o vírus, que tem cinco estirpes, só existe no continente africano, mas já houve casos nas Filipinas e na China(4,5,6). E o terceiro está ligado à questão cultural, tanto do ponto de vista dos costumes locais que favorecem a transmissão, como da desconfiança da população em relação aos serviços de saúde e seu despreparo. Nesta mescla de cultura apareceu uma nova ameaça vinculada à intensa mobilidade entre países, através da aviação turística e de negócios. A possibilidade de expansão para os países desenvolvidos colocou o mundo em alerta, em particular a OMS. A resposta dos órgãos internacionais foi lenta e limitada quando a epidemia abrangia só os países africanos. O Ebola existe desde 1976 na República Democrática do Congo e no Sudão, quando da primeira epidemia e pouco foi feito, desde então, até esta avassaladora epidemia atual, que já matou em torno de 5.000 africanos. Três estratégias e ao mesmo tempo, desafios, tornaram-se evidentes atualmente, onde a primeira ação deu-se numa localidade onde os Médicos Sem Fronteiras propuseram contratar pessoas curadas do Ebola como agentes multiplicadores, uma espécie de agente comunitário de saúde, e instituíram o ritual do abraço, em que os profissionais de saúde sem seus equipamentos de proteção abraçavam o paciente curado no momento da alta. A confiança da população e o compromisso dos profissionais reduziram a letalidade para 10 a 20%. O segundo evento marcante, a solidariedade internacional, teve a expressão maior nos Médicos Sem Fronteiras e no envio de 250 profissionais pelo governo Cubano, entre médicos e enfermeiros. O Terceiro evento, que se reverte de importância fundamental nas doenças virais, foi o impulso da pesquisa, no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o Ebola(4,5,6). São os maiores desafios diante da nova possível epidemia de Ebola: a integração dos serviços de saúde com a população local, levando em conta os aspectos culturais e a realidade das desigualdades em saúde. Assumir o conceito de equidade, enfrentando a distribuição desigual dos fatores de exposição aos riscos de adoecer e morrer e do acesso a bens e serviços de saúde entre grupos populacionais distintos, através do aporte de maiores recursos, a solidariedade internacional e a pesquisa aplicada para responder às necessidades da população.Por último, é fundamental e indispensável a colaboração internacional em todos os procedimentos de vigilância epidemiológica e sanitária nas fronteiras e nas entradas em aeroportos em cada país, para a identificação precoce dos casos suspeitos, o cuidado no manejo e o tratamento temporário para evitar a disseminação do vírus e surtos epidêmicos em outros países.Estando sempre disposta a esclarecer dúvidas sobre o Ebola ou qualquer enfermidade de risco mundial, a Revista Brasileira em Promoção da Saúde ficará atenta às novidades científicas acerca dessa alastrante epidemia, como a divulgação de novas vacinas e tratamentos, e comunicará a seus leitores, para juntos com o Ministério da Saúde e OMS conseguirmos controlar o Ebola. doi: 10.5020/18061230.2014.p291 |
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Os males sofridos durante os primeiros estágios da evolução humana foram identificados através de estudos arqueológicos(2).A atualidade é marcada por erupções recorrentes de doenças recém- descobertas, como o hantavirus, a AIDS, o ebola e gripes provocadas por vírus de diversas estruturas, entre outras epidemias de doenças que migraram para novas áreas, moléstias que adquiriram importância através de tecnologias humanas, como as síndromes de choques tóxicos, a doença dos legionários e zoonoses, em decorrência da destruição dos habitats naturais dos animais pelo homem. Algumas dessas doenças são potencialmente epidêmicas, e poderão gerar epidemias em grande escala, até mundial, a exemplo da epidemia global do vírus da imunodeficiência humana, a AIDS, considerada a primeira doença infecciosa epidêmica moderna(2,3).O grande aumento da movimentação de pessoas e mercadorias pelo mundo é força motriz por trás da globalização das doenças, tornando o mundo mais rapidamente vulnerável às mesmas e à sua propagação, tanto de antigas como de novas enfermidades. As pessoas e as mercadorias passaram a viajar e circular mais, muito mais rápido e a mais lugares e com elas, transportam-se micro-organismos a locais onde antes inexistiam. A nova epidemia de Ebola traz, no seu bojo, grandes desafios para os serviços de saúde e pesquisadores. Três fatores intervieram para sua eclosão e repercussão. O primeiro está na gravidade da doença, expressa numa letalidade de 50 a 90%. O segundo diz respeito à magnitude, abrangendo três países e cidades altamente populosas, na Libéria, Guiné Conacri e Serra Leoa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS, os surtos surgem, normalmente, em aldeias remotas da África Central e Ocidental, próximo a florestas tropicais. Neste momento, o vírus, que tem cinco estirpes, só existe no continente africano, mas já houve casos nas Filipinas e na China(4,5,6). E o terceiro está ligado à questão cultural, tanto do ponto de vista dos costumes locais que favorecem a transmissão, como da desconfiança da população em relação aos serviços de saúde e seu despreparo. Nesta mescla de cultura apareceu uma nova ameaça vinculada à intensa mobilidade entre países, através da aviação turística e de negócios. A possibilidade de expansão para os países desenvolvidos colocou o mundo em alerta, em particular a OMS. A resposta dos órgãos internacionais foi lenta e limitada quando a epidemia abrangia só os países africanos. O Ebola existe desde 1976 na República Democrática do Congo e no Sudão, quando da primeira epidemia e pouco foi feito, desde então, até esta avassaladora epidemia atual, que já matou em torno de 5.000 africanos. Três estratégias e ao mesmo tempo, desafios, tornaram-se evidentes atualmente, onde a primeira ação deu-se numa localidade onde os Médicos Sem Fronteiras propuseram contratar pessoas curadas do Ebola como agentes multiplicadores, uma espécie de agente comunitário de saúde, e instituíram o ritual do abraço, em que os profissionais de saúde sem seus equipamentos de proteção abraçavam o paciente curado no momento da alta. A confiança da população e o compromisso dos profissionais reduziram a letalidade para 10 a 20%. O segundo evento marcante, a solidariedade internacional, teve a expressão maior nos Médicos Sem Fronteiras e no envio de 250 profissionais pelo governo Cubano, entre médicos e enfermeiros. 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Algumas dessas doenças são potencialmente epidêmicas, e poderão gerar epidemias em grande escala, até mundial, a exemplo da epidemia global do vírus da imunodeficiência humana, a AIDS, considerada a primeira doença infecciosa epidêmica moderna(2,3).O grande aumento da movimentação de pessoas e mercadorias pelo mundo é força motriz por trás da globalização das doenças, tornando o mundo mais rapidamente vulnerável às mesmas e à sua propagação, tanto de antigas como de novas enfermidades. As pessoas e as mercadorias passaram a viajar e circular mais, muito mais rápido e a mais lugares e com elas, transportam-se micro-organismos a locais onde antes inexistiam. A nova epidemia de Ebola traz, no seu bojo, grandes desafios para os serviços de saúde e pesquisadores. Três fatores intervieram para sua eclosão e repercussão. O primeiro está na gravidade da doença, expressa numa letalidade de 50 a 90%. O segundo diz respeito à magnitude, abrangendo três países e cidades altamente populosas, na Libéria, Guiné Conacri e Serra Leoa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS, os surtos surgem, normalmente, em aldeias remotas da África Central e Ocidental, próximo a florestas tropicais. Neste momento, o vírus, que tem cinco estirpes, só existe no continente africano, mas já houve casos nas Filipinas e na China(4,5,6). E o terceiro está ligado à questão cultural, tanto do ponto de vista dos costumes locais que favorecem a transmissão, como da desconfiança da população em relação aos serviços de saúde e seu despreparo. Nesta mescla de cultura apareceu uma nova ameaça vinculada à intensa mobilidade entre países, através da aviação turística e de negócios. A possibilidade de expansão para os países desenvolvidos colocou o mundo em alerta, em particular a OMS. A resposta dos órgãos internacionais foi lenta e limitada quando a epidemia abrangia só os países africanos. O Ebola existe desde 1976 na República Democrática do Congo e no Sudão, quando da primeira epidemia e pouco foi feito, desde então, até esta avassaladora epidemia atual, que já matou em torno de 5.000 africanos. Três estratégias e ao mesmo tempo, desafios, tornaram-se evidentes atualmente, onde a primeira ação deu-se numa localidade onde os Médicos Sem Fronteiras propuseram contratar pessoas curadas do Ebola como agentes multiplicadores, uma espécie de agente comunitário de saúde, e instituíram o ritual do abraço, em que os profissionais de saúde sem seus equipamentos de proteção abraçavam o paciente curado no momento da alta. A confiança da população e o compromisso dos profissionais reduziram a letalidade para 10 a 20%. O segundo evento marcante, a solidariedade internacional, teve a expressão maior nos Médicos Sem Fronteiras e no envio de 250 profissionais pelo governo Cubano, entre médicos e enfermeiros. O Terceiro evento, que se reverte de importância fundamental nas doenças virais, foi o impulso da pesquisa, no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o Ebola(4,5,6). São os maiores desafios diante da nova possível epidemia de Ebola: a integração dos serviços de saúde com a população local, levando em conta os aspectos culturais e a realidade das desigualdades em saúde. 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