Os significados do uso de álcool entre os/as jovens quilombolas de Garanhuns/PE: uma perspectiva interseccional

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Roseane Amorim da
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPE
dARK ID: ark:/64986/001300000fv0q
Texto Completo: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/10344
Resumo: Este estudo buscou investigar os significados do uso de álcool entre os/as jovens quilombolas do município de Garanhuns/PE, em interface com as questões de gênero, classe social e raça/etnia. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de inspiração feminista, realizada com jovens na faixa etária entre 18 e 24 anos, moradores/as de duas comunidades quilombolas localizadas na área rural de Garanhuns/PE. A realização deste estudo ocorreu em três momentos: no primeiro, realizamos observação participante nas comunidades; no segundo, 20 entrevistas semiestruturadas com os/as jovens, e, no terceiro momento, os dados construídos foram analisados a partir da perspectiva da análise do discurso e da interseccionalidade. A perspectiva interseccional possibilitou a percepção da existência da opressão, mas principalmente seus desdobramentos a partir do efeito do cruzamento entre os diversos marcadores sociais (gênero, classe, raça/etnia) e a repercussão destes nas significações sobre o uso de álcool. Observamos o modo de vida dos/as jovens quilombolas e vimos como estes/as percebem o lugar onde moram: alguns e algumas satisfeitos/as, outros/as queixam-se da necessidade de melhorias para as comunidades. Constatamos que não há uma mobilização explícita dos/as jovens na luta por mudanças, e vários fatores se fazem presentes para que esses/as não se engajem na transformação social das condições de vida de sua coletividade. A condição de jovem e quilombola é marcada pelo preconceito, discriminação e opressão por sua identidade étnico-racial e por habitarem na área rural. As situações juvenis no contexto quilombola são diversas, há os/as jovens que trabalham, que estudam, que não trabalham e não estudam, que são mães, pais, casados/as, esses/as fazem uso de álcool nos bares das comunidades, em suas casas, sozinhos/as, acompanhados/as por parentes e amigos/as. As percepções sobre o uso diferem quando o consumidor é homem (naturalização) e quando é mulher (difamação, principalmente para o consumo nos bares). As motivações para o uso de álcool entre os/as jovens são diversas: diversão, lazer, meio de esquecer os problemas e lidar com as dificuldades cotidianas, entre outras. Constatamos também que o uso de álcool é uma prática cultural nas comunidades, visto que sempre esteve presente mediando às atividades realizadas pelos/as quilombolas. No entanto, ressaltamos que há uma necessidade de um olhar cuidadoso para essa prática, pois o uso abusivo tem apresentado consequências negativas nas comunidades, a exemplo dos acidentes automobilísticos e da violência contra as mulheres em espaços público e privado. Percebemos também que o uso de álcool aproxima os/as jovens rurais e urbanos/as nas comunidades quilombolas, funcionando como um elemento de mediação entre os contextos, mas também ressaltando as condições desiguais de acesso e circulação nesses. O estudo indica a necessidade de reflexões e ações sobre as condições desiguais que têm marcado a existência dos/das quilombolas e sobre estratégias que possam ser acionadas/desenvolvidas em prol da agentividade política dessa população, considerando as repercussões do uso de álcool em seus projetos de vida.
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A perspectiva interseccional possibilitou a percepção da existência da opressão, mas principalmente seus desdobramentos a partir do efeito do cruzamento entre os diversos marcadores sociais (gênero, classe, raça/etnia) e a repercussão destes nas significações sobre o uso de álcool. Observamos o modo de vida dos/as jovens quilombolas e vimos como estes/as percebem o lugar onde moram: alguns e algumas satisfeitos/as, outros/as queixam-se da necessidade de melhorias para as comunidades. Constatamos que não há uma mobilização explícita dos/as jovens na luta por mudanças, e vários fatores se fazem presentes para que esses/as não se engajem na transformação social das condições de vida de sua coletividade. A condição de jovem e quilombola é marcada pelo preconceito, discriminação e opressão por sua identidade étnico-racial e por habitarem na área rural. 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