Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bozza, Fábio da Silva
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPR
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1884/35862
Resumo: Resumo: Desde o início da década de 1980 observa-se nas políticas públicas brasileiras uma forte influência da ideologia que oferece suporte ao modelo econômico neoliberal. A relação entre política e economia se inverte: em vez de a economia ser determinada pela política estatal, é aquela que determina esta. Como parte da política, a política criminal segue a mesma lógica, e passa a ser determinada por fatores econômicos. No modelo neoliberal o Estado passa a ser encarado como obstáculo ao desenvolvimento do livre mercado, e políticas públicas destinadas à inclusão de pessoas excluídas são ressignificadas: de obrigação estatal passam a ser vistas como gastos insuportáveis. Neste contexto, transita-se do enfraquecido Estado-previdência ao forte Estado-penal. Verifica-se a expansão do direito penal em duas dimensões: uma, caracterizada pela flexibilização nas barreiras de imputação, por meio da significativa criação de novos tipos penais, com finalidade manifesta de tutela de novos bens jurídicos coletivos, fazendo uso de novas ("velhas”) técnicas legislativas (tipos de perigo abstrato, delitos de acumulação, técnicas de remissão, responsabilidade penal de pessoa jurídica, etc.); outra, mais perigosa, consistente no grande encarceramento, decorrente da criminalização dos mesmos de sempre. Para os crimes praticados pela canalha (crimes patrimoniais e relacionados às drogas), aumento de penas, redução de direitos no âmbito do processo e da execução penal, etc. Daí a importância de se desvelar os fenômenos encobertos pela ideologia jurídica. Enquanto na primeira dimensão da expansão penal, aquela relacionada à chamada "sociedade de risco”, o chamado "direito penal do risco” aposta num discurso ideológico dirigido ao convencimento de que, ao mesmo tempo em que é uma política criminal dirigida à tutela de bens da coletividade (e não de bens jurídicos individuais burgueses), trata-se de um instrumento jurídico estatal que democratiza a responsabilidade penal, tendo em vista que os "novos” tipos penais possuem como objeto da criminalização pessoas das classes mais favorecidas da população, na segunda dimensão da expansão penal abre-se mão de qualquer disfarce: oficialmente se reconhece que a nova política criminal, chamada de política criminal atuarial, é destinada à neutralização do excesso de mão-de-obra produzido no pós-fordismo. O presente trabalho demonstra as ideologias que encobrem os discursos político-criminais contemporâneos e propõe, como instrumento de contenção à expansão penal, o desenvolvimento teórico das categorias bem jurídico e proibição de excesso em matéria penal, com a finalidade de oferecer suporte dogmático àqueles que têm como objetivo colocar limites ao poder estatal.
id UFPR_2d3f6e1503d80a83af6bfc5aa307ded4
oai_identifier_str oai:acervodigital.ufpr.br:1884/35862
network_acronym_str UFPR
network_name_str Repositório Institucional da UFPR
repository_id_str 308
spelling Bozza, Fábio da SilvaBusato, Paulo CésarSantos, Juarez Cirino dosUniversidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Jurídicas. Programa de Pós-Graduação em Direito2014-08-25T16:47:54Z2014-08-25T16:47:54Z2014http://hdl.handle.net/1884/35862Resumo: Desde o início da década de 1980 observa-se nas políticas públicas brasileiras uma forte influência da ideologia que oferece suporte ao modelo econômico neoliberal. A relação entre política e economia se inverte: em vez de a economia ser determinada pela política estatal, é aquela que determina esta. Como parte da política, a política criminal segue a mesma lógica, e passa a ser determinada por fatores econômicos. No modelo neoliberal o Estado passa a ser encarado como obstáculo ao desenvolvimento do livre mercado, e políticas públicas destinadas à inclusão de pessoas excluídas são ressignificadas: de obrigação estatal passam a ser vistas como gastos insuportáveis. Neste contexto, transita-se do enfraquecido Estado-previdência ao forte Estado-penal. Verifica-se a expansão do direito penal em duas dimensões: uma, caracterizada pela flexibilização nas barreiras de imputação, por meio da significativa criação de novos tipos penais, com finalidade manifesta de tutela de novos bens jurídicos coletivos, fazendo uso de novas ("velhas”) técnicas legislativas (tipos de perigo abstrato, delitos de acumulação, técnicas de remissão, responsabilidade penal de pessoa jurídica, etc.); outra, mais perigosa, consistente no grande encarceramento, decorrente da criminalização dos mesmos de sempre. Para os crimes praticados pela canalha (crimes patrimoniais e relacionados às drogas), aumento de penas, redução de direitos no âmbito do processo e da execução penal, etc. Daí a importância de se desvelar os fenômenos encobertos pela ideologia jurídica. Enquanto na primeira dimensão da expansão penal, aquela relacionada à chamada "sociedade de risco”, o chamado "direito penal do risco” aposta num discurso ideológico dirigido ao convencimento de que, ao mesmo tempo em que é uma política criminal dirigida à tutela de bens da coletividade (e não de bens jurídicos individuais burgueses), trata-se de um instrumento jurídico estatal que democratiza a responsabilidade penal, tendo em vista que os "novos” tipos penais possuem como objeto da criminalização pessoas das classes mais favorecidas da população, na segunda dimensão da expansão penal abre-se mão de qualquer disfarce: oficialmente se reconhece que a nova política criminal, chamada de política criminal atuarial, é destinada à neutralização do excesso de mão-de-obra produzido no pós-fordismo. O presente trabalho demonstra as ideologias que encobrem os discursos político-criminais contemporâneos e propõe, como instrumento de contenção à expansão penal, o desenvolvimento teórico das categorias bem jurídico e proibição de excesso em matéria penal, com a finalidade de oferecer suporte dogmático àqueles que têm como objetivo colocar limites ao poder estatal.application/pdfTesesBem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penalinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisporreponame:Repositório Institucional da UFPRinstname:Universidade Federal do Paraná (UFPR)instacron:UFPRinfo:eu-repo/semantics/openAccessORIGINALR - T - FABIO DA SILVA BOZZA.pdfapplication/pdf1838566https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/1884/35862/1/R%20-%20T%20-%20FABIO%20DA%20SILVA%20BOZZA.pdfda97cc88cdb1febb0c3903b03839ac94MD51open accessTEXTR - T - FABIO DA SILVA BOZZA.pdf.txtR - T - FABIO DA SILVA BOZZA.pdf.txtExtracted Texttext/plain651941https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/1884/35862/2/R%20-%20T%20-%20FABIO%20DA%20SILVA%20BOZZA.pdf.txt78585b6520e62bcb3f51ff31709876ebMD52open accessTHUMBNAILR - T - FABIO DA SILVA BOZZA.pdf.jpgR - T - FABIO DA SILVA BOZZA.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1130https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/1884/35862/3/R%20-%20T%20-%20FABIO%20DA%20SILVA%20BOZZA.pdf.jpgb139fe4f8d0145aff0fbfbf7bc72e46fMD53open access1884/358622016-04-07 10:08:12.351open accessoai:acervodigital.ufpr.br:1884/35862Repositório de PublicaçõesPUBhttp://acervodigital.ufpr.br/oai/requestopendoar:3082016-04-07T13:08:12Repositório Institucional da UFPR - Universidade Federal do Paraná (UFPR)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal
title Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal
spellingShingle Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal
Bozza, Fábio da Silva
Teses
title_short Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal
title_full Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal
title_fullStr Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal
title_full_unstemmed Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal
title_sort Bem jurídico e proibição de excesso como limites à expansão penal
author Bozza, Fábio da Silva
author_facet Bozza, Fábio da Silva
author_role author
dc.contributor.other.pt_BR.fl_str_mv Busato, Paulo César
Santos, Juarez Cirino dos
Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Jurídicas. Programa de Pós-Graduação em Direito
dc.contributor.author.fl_str_mv Bozza, Fábio da Silva
dc.subject.por.fl_str_mv Teses
topic Teses
description Resumo: Desde o início da década de 1980 observa-se nas políticas públicas brasileiras uma forte influência da ideologia que oferece suporte ao modelo econômico neoliberal. A relação entre política e economia se inverte: em vez de a economia ser determinada pela política estatal, é aquela que determina esta. Como parte da política, a política criminal segue a mesma lógica, e passa a ser determinada por fatores econômicos. No modelo neoliberal o Estado passa a ser encarado como obstáculo ao desenvolvimento do livre mercado, e políticas públicas destinadas à inclusão de pessoas excluídas são ressignificadas: de obrigação estatal passam a ser vistas como gastos insuportáveis. Neste contexto, transita-se do enfraquecido Estado-previdência ao forte Estado-penal. Verifica-se a expansão do direito penal em duas dimensões: uma, caracterizada pela flexibilização nas barreiras de imputação, por meio da significativa criação de novos tipos penais, com finalidade manifesta de tutela de novos bens jurídicos coletivos, fazendo uso de novas ("velhas”) técnicas legislativas (tipos de perigo abstrato, delitos de acumulação, técnicas de remissão, responsabilidade penal de pessoa jurídica, etc.); outra, mais perigosa, consistente no grande encarceramento, decorrente da criminalização dos mesmos de sempre. Para os crimes praticados pela canalha (crimes patrimoniais e relacionados às drogas), aumento de penas, redução de direitos no âmbito do processo e da execução penal, etc. Daí a importância de se desvelar os fenômenos encobertos pela ideologia jurídica. Enquanto na primeira dimensão da expansão penal, aquela relacionada à chamada "sociedade de risco”, o chamado "direito penal do risco” aposta num discurso ideológico dirigido ao convencimento de que, ao mesmo tempo em que é uma política criminal dirigida à tutela de bens da coletividade (e não de bens jurídicos individuais burgueses), trata-se de um instrumento jurídico estatal que democratiza a responsabilidade penal, tendo em vista que os "novos” tipos penais possuem como objeto da criminalização pessoas das classes mais favorecidas da população, na segunda dimensão da expansão penal abre-se mão de qualquer disfarce: oficialmente se reconhece que a nova política criminal, chamada de política criminal atuarial, é destinada à neutralização do excesso de mão-de-obra produzido no pós-fordismo. O presente trabalho demonstra as ideologias que encobrem os discursos político-criminais contemporâneos e propõe, como instrumento de contenção à expansão penal, o desenvolvimento teórico das categorias bem jurídico e proibição de excesso em matéria penal, com a finalidade de oferecer suporte dogmático àqueles que têm como objetivo colocar limites ao poder estatal.
publishDate 2014
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2014-08-25T16:47:54Z
dc.date.available.fl_str_mv 2014-08-25T16:47:54Z
dc.date.issued.fl_str_mv 2014
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1884/35862
url http://hdl.handle.net/1884/35862
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFPR
instname:Universidade Federal do Paraná (UFPR)
instacron:UFPR
instname_str Universidade Federal do Paraná (UFPR)
instacron_str UFPR
institution UFPR
reponame_str Repositório Institucional da UFPR
collection Repositório Institucional da UFPR
bitstream.url.fl_str_mv https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/1884/35862/1/R%20-%20T%20-%20FABIO%20DA%20SILVA%20BOZZA.pdf
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/1884/35862/2/R%20-%20T%20-%20FABIO%20DA%20SILVA%20BOZZA.pdf.txt
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/1884/35862/3/R%20-%20T%20-%20FABIO%20DA%20SILVA%20BOZZA.pdf.jpg
bitstream.checksum.fl_str_mv da97cc88cdb1febb0c3903b03839ac94
78585b6520e62bcb3f51ff31709876eb
b139fe4f8d0145aff0fbfbf7bc72e46f
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFPR - Universidade Federal do Paraná (UFPR)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1801860266259906560