O Galo de Propércio no Monobiblos: amizade poética e rivalidade amorosa.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Martins, Paulo
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Phaos (Online)
Texto Completo: https://revistas.iel.unicamp.br/index.php/phaos/article/view/6000
Resumo: Cinco referências a Galo ocorrem no Monobiblos de Propércio, nas elegias 5, 10, 13, 20 e 21. A fortuna crítica muito discutiu a fim de encontrar nessas construções poéticas referências concretas da vida romana histórica. Nesse sentido, Goold (1990, 476), por exemplo, as apresentou como: a) um aristocrata, amigo de Propércio; b) um parente de Propércio, morto na Guerra da Perúgia em 41 a.C.; c) um filho de Árria e d) o poeta Cornélio Galo, mesmo que nem todas essas ocorram no primeiro livro. Tais possibilidades, ainda que pudessem estar decalcadas em estudos bem fundamentados, partiam de um princípio equivocado: o de supor, como necessidade obrigatória, a existência concreta de pessoas equivalentes aos nomes próprios apontados pelo poeta.Parece-me que todas essas indicações nominais se resumem a uma única: Cornélio Galo, como indubitavelmente é apresentado em 2B.34.91. Defendo que Galo, em Propércio, ora está a serviço da demarcação do gênero elegíaco e suas características; ora opera a figuração de um rival na narrativa amorosa do livro; ora estrutura parte do projeto editorial do Monobiblos. Devemos sempre ter em mente que o Galo assim evocado não é histórico, mas persona ficta, cujo ἦθος é construído de acordo com o programa poético de Propércio e cuja fides ocorre por contiguidade com poeta elegíaco homônimo, poeta-amante, cuja amada é Licóride, sua scripta puella. Assim, ainda que tais personagens possam ser reais, elas passam ainda pelo filtro do gênero poético.Esta minha hipótese encontra amparo nos trabalhos de Skutsch (1906, pp. 144 ss.), Alfonsi (1943, pp. 46-56), Ross (1975, p. 67, n. 66), Thomas (1979, pp. 203 ss.), King (1980, pp. 212-4), Cairns (1983, pp. 84-95), (2006a, pp. 70-103) e (2006b, pp. 69-96), Keith (1999, p. 54, n.43) e Heyworth (2007, p. 99), bem como na similaridade de ocorrência do nome “Galo” na 6a e 10a Écloga de Virgílio, cujo registro nominal descortina, a meu ver, a elegia contida em gêneros hexamétricos (ἔπος), a serviço da sua confinidade genérica e também a favor de uma estrutura editorial daquele livro.Assim, este artigo visa, observando os poemas a Galo em Propércio no Monobiblos, buscar elementos que justifiquem a posição da persona Galo como um representante da poesia elegíaca, tanto na perspectiva amorosa e poética, como na posição de elemento funcional na confinidade genérica e na estrutura do Monobiblos.
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