O cotidiano na Educação em Química: uma análise bibliográfica a partir da pedagogia histórico-crítica

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Colturato, Andriel Rodrigo
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/214676
Resumo: A concepção de cotidiano, no decorrer da história da área de pesquisa em Educação em Química, percorre rumos contraditórios desde que surge a partir de referenciais fundamentados teoricamente. Na prática, a abordagem do cotidiano perde seu sentido teórico quando passa a ser utilizada como exemplificação e ilustração de fatos, processos e situações científicas e/ou tecnológicas presentes no dia a dia dos alunos, um ensino cuja centralidade é a transmissão dos conceitos científicos de um modo não problematizador. A partir da década de 1990, surgem trabalhos que defendem o uso da contextualização no ensino, criticando essa tendência conteudista com vistas a um ensino com centralidade em temas sociais. Entretanto, o termo cotidiano, destituído de significados claros, continua a ser utilizado e passa a ser sinônimo de contextualização. Nesta dissertação, objetivamos desvelar aspectos da esfera cotidiana, em termos de significados, formas de mobilização e implicações educativas, por meio da análise de artigos e trabalhos que são referências de autores da Educação em Química, apontando limites a partir da concepção da pedagogia histórico-crítica. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que contém procedimentos tanto empíricos como conceituais. Buscamos trabalhos publicados na revista Química Nova na Escola e extraímos os trabalhos que são referências a partir deles. Obtivemos 64 artigos, nos quais analisamos asserções e juízos sobre o que se entende por cotidiano. A maioria dos artigos não atribui significados claros ao termo cotidiano, sendo utilizado como sinônimo de contextualização. Percebemos ainda que ocorrem contradições que dizem respeito à: valorização de aspectos que envolvem o indivíduo e valorização de aspectos que envolvem sociedade; priorização de conceitos científicos e a priorização de temas sociais; separação dos conceitos cotidianos em relação aos conceitos científicos. Utilizamos essas contradições como eixo de análise de 13 trabalhos que são referências, discutindo-as de acordo com os seguintes enfoques: o embate entre cotidiano e contextualização; o pragmatismo presente no critério de “útil” para o ensino; o cotidiano na inter-relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade; a centralidade do cotidiano na abordagem dos temas geradores; a unidade das relações entre cotidiano o sistema produtivo; os conceitos cotidianos supervalorizados na teoria do perfil conceitual. Concluímos que as perspectivas analisadas, mesmo não reconhecendo, recaem sobre a prática cotidiana com base no cotidiano imediato dos indivíduos, pois partem de aspectos pragmáticos, espontâneos e imediatos dos alunos, centrando-se em aspectos singulares da realidade em detrimento dos aspectos universais. Priorizam, deste modo, aspectos relacionados à reprodução do indivíduo, pautados na heterogeneidade e na fragmentação da realidade, excluindo os aspectos da reprodução da sociedade. Associa-se a esses aspectos a minimização da transmissão dos conceitos científicos, causando prejuízos para a transmissão da cultura humana e para a compreensão da realidade em sua totalidade social. Em nossa concepção, essas perspectivas favorecem a alienação da vida cotidiana, sobretudo no sistema capitalista de modo de produção. Como contraponto a esses trabalhos, defendemos que o ensino deve ser pautado na realidade concreta a partir da prática social, que deve ser pensada pela mediação de uma prática pedagógica moldada pela lógica dialética. Esse movimento oferece a problematização da prática com a finalidade de buscar o entendimento da realidade e os instrumentos para a luta política. Defende-se, ainda, que a prática social não está relacionada somente com o indivíduo singular na sua cotidianidade, mas também com a prática em geral, universal, social e histórica do gênero humano. Deste modo, não se deve excluir a prática cotidiana da prática social, mas promover a complexificação e a condução do cotidiano pela mediação dos conceitos científicos.
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A partir da década de 1990, surgem trabalhos que defendem o uso da contextualização no ensino, criticando essa tendência conteudista com vistas a um ensino com centralidade em temas sociais. Entretanto, o termo cotidiano, destituído de significados claros, continua a ser utilizado e passa a ser sinônimo de contextualização. Nesta dissertação, objetivamos desvelar aspectos da esfera cotidiana, em termos de significados, formas de mobilização e implicações educativas, por meio da análise de artigos e trabalhos que são referências de autores da Educação em Química, apontando limites a partir da concepção da pedagogia histórico-crítica. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que contém procedimentos tanto empíricos como conceituais. Buscamos trabalhos publicados na revista Química Nova na Escola e extraímos os trabalhos que são referências a partir deles. Obtivemos 64 artigos, nos quais analisamos asserções e juízos sobre o que se entende por cotidiano. A maioria dos artigos não atribui significados claros ao termo cotidiano, sendo utilizado como sinônimo de contextualização. Percebemos ainda que ocorrem contradições que dizem respeito à: valorização de aspectos que envolvem o indivíduo e valorização de aspectos que envolvem sociedade; priorização de conceitos científicos e a priorização de temas sociais; separação dos conceitos cotidianos em relação aos conceitos científicos. Utilizamos essas contradições como eixo de análise de 13 trabalhos que são referências, discutindo-as de acordo com os seguintes enfoques: o embate entre cotidiano e contextualização; o pragmatismo presente no critério de “útil” para o ensino; o cotidiano na inter-relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade; a centralidade do cotidiano na abordagem dos temas geradores; a unidade das relações entre cotidiano o sistema produtivo; os conceitos cotidianos supervalorizados na teoria do perfil conceitual. Concluímos que as perspectivas analisadas, mesmo não reconhecendo, recaem sobre a prática cotidiana com base no cotidiano imediato dos indivíduos, pois partem de aspectos pragmáticos, espontâneos e imediatos dos alunos, centrando-se em aspectos singulares da realidade em detrimento dos aspectos universais. Priorizam, deste modo, aspectos relacionados à reprodução do indivíduo, pautados na heterogeneidade e na fragmentação da realidade, excluindo os aspectos da reprodução da sociedade. Associa-se a esses aspectos a minimização da transmissão dos conceitos científicos, causando prejuízos para a transmissão da cultura humana e para a compreensão da realidade em sua totalidade social. Em nossa concepção, essas perspectivas favorecem a alienação da vida cotidiana, sobretudo no sistema capitalista de modo de produção. Como contraponto a esses trabalhos, defendemos que o ensino deve ser pautado na realidade concreta a partir da prática social, que deve ser pensada pela mediação de uma prática pedagógica moldada pela lógica dialética. Esse movimento oferece a problematização da prática com a finalidade de buscar o entendimento da realidade e os instrumentos para a luta política. Defende-se, ainda, que a prática social não está relacionada somente com o indivíduo singular na sua cotidianidade, mas também com a prática em geral, universal, social e histórica do gênero humano. Deste modo, não se deve excluir a prática cotidiana da prática social, mas promover a complexificação e a condução do cotidiano pela mediação dos conceitos científicos.The concept of everyday life, throughout the history of the area of research in Education in Chemistry, has followed contradictory paths since it emerged from theoretically grounded references. In practice, the everyday approach loses its theoretical meaning when it is used as an example and illustration of scientific and/or technological facts, processes and situations present in the daily lives of students, a teaching whose centrality is the transmission of scientific concepts in a non-problematic mode. From the 1990s onwards, there have been works that defend the use of contextualization in teaching, criticizing this content-oriented trend with a view to teaching with a centrality in social themes. However, the everyday term, devoid of clear meanings, continues to be used and becomes synonymous with contextualization. In this dissertation, we aim to unveil aspects of the everyday sphere, in terms of meanings, forms of mobilization and educational implications, through the analysis of articles and works that are reference authors of Education in Chemistry, pointing out limits from the conception of historical pedagogy. critical. This is a bibliographical research, which contains both empirical and conceptual procedures. We look for works published in the journal Química Nova na Escola and extract the works that are referenced from them. We obtained 64 articles, in which we analyzed assertions and judgments about what is meant by daily life. Most articles do not give clear meanings to the everyday term, being used as a synonym for contextualization. We also noticed that there are contradictions regarding: valuing aspects that involve the individual and valuing aspects that involve society; prioritization of scientific concepts and prioritization of social issues; separation of everyday concepts from scientific concepts. We use these contradictions as the axis of analysis of 13 works that are reference, discussing them according to the following approaches: the clash between daily life and contextualization; the pragmatism present in the criterion of “useful” for teaching; daily life in the interrelationship between Science, Technology and Society; the centrality of everyday life in the approach to generating themes; the unity of the relationships between the daily life and the production system; the everyday concepts overvalued in the conceptual profile theory. We conclude that the analyzed perspectives, even not recognizing them, fall on daily practice based on the immediate daily life of individuals, as they start from pragmatic, spontaneous and immediate aspects of the students, focusing on singular aspects of reality to the detriment of universal aspects. In this way, they prioritize aspects related to the individual's reproduction, based on the heterogeneity and fragmentation of reality, excluding aspects of the reproduction of society. These aspects are associated with the minimization of the transmission of scientific concepts, causing damage to the transmission of human culture and to the understanding of reality in its social totality. In our view, these perspectives favor the alienation of everyday life, especially in the capitalist system of production mode. As a counterpoint to these works, we defend that teaching should be based on the concrete reality based on social practice, which should be thought through the mediation of a pedagogical practice shaped by dialectical logic. This movement offers the problematization of practice to seek an understanding of reality and instruments for political struggle. It is also defended that social practice is not only related to the singular individual in his daily life, but also to the general, universal, social and historical practice of humankind. In this way, everyday practice should not be excluded from social practice, but rather to promote the complexity and conduct of everyday life through the mediation of scientific concepts.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)001Universidade Estadual Paulista (Unesp)Massi, Luciana [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Colturato, Andriel Rodrigo2021-10-05T19:38:24Z2021-10-05T19:38:24Z2021-07-28info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/21467633004056079P0porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2023-10-27T06:11:19Zoai:repositorio.unesp.br:11449/214676Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T16:10:52.455256Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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