Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Canto, Filipe Cambraia do
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/199017
Resumo: O presente trabalho toma como objeto de investigação um dos livros do romancista espanhol Javier Cercas, intitulado O impostor. Publicado em 2014, trata-se de uma obra que narra a vida do falsário Enric Marco Batlle, um homem que por quase trinta anos se fizera passar por um resistente ao franquismo e um sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Para além disso, Javier Cercas procura traçar alguns paralelos entre a impostura de seu protagonista e a onda memorial na Espanha. Assim, o objetivo deste estudo é o de analisar as teses históricas desenvolvidas em O impostor. Tratam-se de teses que, por um lado, relacionam o protagonista do livro à maioria da população espanhola e, por outro, querem saber de que forma a impostura memorial sobre a qual se discorre pôde perdurar de 1978 a 2005. Investigou-se, então, de que modo essa “maioria” é construída, em quais argumentos se embasam as teses históricas de Javier Cercas e se tais hipóteses concorrem para uma confrontação e eventual elaboração em nível coletivo de um passado recente povoado por traumas. A fim de oferecer respostas a estas questões, foi preciso defrontar-se com as temáticas que aparecem ao fundo das teses históricas de Cercas, a saber: os efeitos sociais da guerra civil e do franquismo na Espanha atual, a valorização da figura da testemunha, o boom memorial e, por fim, a relação entre história e memória. E uma vez que tais temáticas são igualmente caras à historiografia do tempo presente, empreendeu-se primeiro uma discussão teórica acerca destes temas. Visando tornar mais exequível o escrutínio de O impostor a partir dos campos da teoria da história e da história do tempo presente, optou-se por lê-lo como um texto-investigação. Este conceito permite coadunar uma série bastante heterogênea de textos, sejam os das ciências humanas em geral, sejam os da literatura, unidos pela preocupação de compreender o passado recente e de formular hipóteses acerca deste mesmo passado. Buscou-se demonstrar também que tanto a história como a literatura são capazes de amplificar e dar visibilidade às discussões sobre traumas coletivos e de contribuir para o reconhecimento e a elaboração destes traumas. As análises que constituíram este estudo desaguam finalmente na hipótese de que, em que pese a abordagem frontal da temática candente dos passados traumáticos e do frenesi memorial, as teses históricas de Javier Cercas, pelo rasgo pejorativo que apresentam, possuem pouco valor explicativo. Parecem não oferecer a seu leitor uma chave interpretativa capaz de enxergar o pretérito em sua complexidade e dinamismo, aportando pouco para a superação das feridas históricas que são, em última instância, o pano de fundo do livro.
id URGS_97bd61fba74f6fbd8b271ae8f7303c9e
oai_identifier_str oai:www.lume.ufrgs.br:10183/199017
network_acronym_str URGS
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
repository_id_str 1853
spelling Canto, Filipe Cambraia doNicolazzi, Fernando Felizardo2019-09-10T03:38:20Z2019http://hdl.handle.net/10183/199017001098568O presente trabalho toma como objeto de investigação um dos livros do romancista espanhol Javier Cercas, intitulado O impostor. Publicado em 2014, trata-se de uma obra que narra a vida do falsário Enric Marco Batlle, um homem que por quase trinta anos se fizera passar por um resistente ao franquismo e um sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Para além disso, Javier Cercas procura traçar alguns paralelos entre a impostura de seu protagonista e a onda memorial na Espanha. Assim, o objetivo deste estudo é o de analisar as teses históricas desenvolvidas em O impostor. Tratam-se de teses que, por um lado, relacionam o protagonista do livro à maioria da população espanhola e, por outro, querem saber de que forma a impostura memorial sobre a qual se discorre pôde perdurar de 1978 a 2005. Investigou-se, então, de que modo essa “maioria” é construída, em quais argumentos se embasam as teses históricas de Javier Cercas e se tais hipóteses concorrem para uma confrontação e eventual elaboração em nível coletivo de um passado recente povoado por traumas. A fim de oferecer respostas a estas questões, foi preciso defrontar-se com as temáticas que aparecem ao fundo das teses históricas de Cercas, a saber: os efeitos sociais da guerra civil e do franquismo na Espanha atual, a valorização da figura da testemunha, o boom memorial e, por fim, a relação entre história e memória. E uma vez que tais temáticas são igualmente caras à historiografia do tempo presente, empreendeu-se primeiro uma discussão teórica acerca destes temas. Visando tornar mais exequível o escrutínio de O impostor a partir dos campos da teoria da história e da história do tempo presente, optou-se por lê-lo como um texto-investigação. Este conceito permite coadunar uma série bastante heterogênea de textos, sejam os das ciências humanas em geral, sejam os da literatura, unidos pela preocupação de compreender o passado recente e de formular hipóteses acerca deste mesmo passado. Buscou-se demonstrar também que tanto a história como a literatura são capazes de amplificar e dar visibilidade às discussões sobre traumas coletivos e de contribuir para o reconhecimento e a elaboração destes traumas. As análises que constituíram este estudo desaguam finalmente na hipótese de que, em que pese a abordagem frontal da temática candente dos passados traumáticos e do frenesi memorial, as teses históricas de Javier Cercas, pelo rasgo pejorativo que apresentam, possuem pouco valor explicativo. Parecem não oferecer a seu leitor uma chave interpretativa capaz de enxergar o pretérito em sua complexidade e dinamismo, aportando pouco para a superação das feridas históricas que são, em última instância, o pano de fundo do livro.The present work takes as object of investigation one of the books of the Spanish novelist Javier Cercas, titled The impostor. Published in 2014, it is a work that tells the life of the forger Enric Marco Batlle, a man who for almost thirty years had made himself a FrancoResistant man and a survivor of the Nazi concentration camps. In addition, Javier Cercas tries to draw some parallels between the imposture of its protagonist and the wave of memory in Spain. Thus, the objective of this study is to analyze the historical theses developed in The impostor. These are theses that, on the one hand, relate the protagonist of the book to the majority of the Spanish population and, on the other hand, they want to know in what way the memorial imposture on which it is argued could last from 1978 to 2005. It was investigated, then, in what way is this "majority" constructed, in which arguments are the historical theses of Javier Cercas based and if such hypotheses contribute to a confrontation and eventual elaboration at a collective level of a recent past populated by traumas. In order to offer answers to these questions, we had to confront the themes that appear in the background of the historical theses of Cercas, namely the social effects of the civil war and the Franco regime in Spain today, the valorization of the figure of the witness, the memorial boom and, finally, the relation between history and memory. And since such themes are equally important to the historiography of the present time, a theoretical discussion about these themes was first undertaken. In order to make the impostor's scrutiny more feasible from the fields of history theory and the history of present time, it was chosen to read it as a text-investigation. This concept allows us to combine a very heterogeneous series of texts, both those of the social sciences in general and those of literature, united by the concern to understand the recent past and to formulate hypotheses about this past. It was also tried to demonstrate that both history and literature are capable of amplifying and giving visibility to the discussions about collective traumas and of contributing to the recognition and elaboration of these traumas. The analysis that constituted this study finally leads to the hypothesis that, despite the frontal approach of the hot topic of the traumatic past and the memorial frenzy, the historical theses of Javier Cercas, due to the pejorative feature they present, have little explanatory value. They do not seem to offer their reader an interpretive key capable of seeing the past in its complexity and dynamism, contributing little to overcoming the historical wounds that are, in the last analysis, the background of the book.application/pdfporCercas, Javier, 1962-Análise históricaMemóriaHistoria novaCiência políticaThe impostorText-researchHistorical woundsHistory and memoryTestimonyAporias da memória : em o impostor, de Javier Cercasinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Filosofia e Ciências HumanasPrograma de Pós-Graduação em HistóriaPorto Alegre, BR-RS2019mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001098568.pdf.txt001098568.pdf.txtExtracted Texttext/plain542052http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/199017/2/001098568.pdf.txtfa989c8e95ccb35dc363fa64e1083924MD52ORIGINAL001098568.pdfTexto completoapplication/pdf1461730http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/199017/1/001098568.pdfd98df45da09ff3ad90fa6094c8e65be0MD5110183/1990172019-09-11 03:40:01.604593oai:www.lume.ufrgs.br:10183/199017Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532019-09-11T06:40:01Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
title Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
spellingShingle Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
Canto, Filipe Cambraia do
Cercas, Javier, 1962-
Análise histórica
Memória
Historia nova
Ciência política
The impostor
Text-research
Historical wounds
History and memory
Testimony
title_short Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
title_full Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
title_fullStr Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
title_full_unstemmed Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
title_sort Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
author Canto, Filipe Cambraia do
author_facet Canto, Filipe Cambraia do
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Canto, Filipe Cambraia do
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Nicolazzi, Fernando Felizardo
contributor_str_mv Nicolazzi, Fernando Felizardo
dc.subject.por.fl_str_mv Cercas, Javier, 1962-
Análise histórica
Memória
Historia nova
Ciência política
topic Cercas, Javier, 1962-
Análise histórica
Memória
Historia nova
Ciência política
The impostor
Text-research
Historical wounds
History and memory
Testimony
dc.subject.eng.fl_str_mv The impostor
Text-research
Historical wounds
History and memory
Testimony
description O presente trabalho toma como objeto de investigação um dos livros do romancista espanhol Javier Cercas, intitulado O impostor. Publicado em 2014, trata-se de uma obra que narra a vida do falsário Enric Marco Batlle, um homem que por quase trinta anos se fizera passar por um resistente ao franquismo e um sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Para além disso, Javier Cercas procura traçar alguns paralelos entre a impostura de seu protagonista e a onda memorial na Espanha. Assim, o objetivo deste estudo é o de analisar as teses históricas desenvolvidas em O impostor. Tratam-se de teses que, por um lado, relacionam o protagonista do livro à maioria da população espanhola e, por outro, querem saber de que forma a impostura memorial sobre a qual se discorre pôde perdurar de 1978 a 2005. Investigou-se, então, de que modo essa “maioria” é construída, em quais argumentos se embasam as teses históricas de Javier Cercas e se tais hipóteses concorrem para uma confrontação e eventual elaboração em nível coletivo de um passado recente povoado por traumas. A fim de oferecer respostas a estas questões, foi preciso defrontar-se com as temáticas que aparecem ao fundo das teses históricas de Cercas, a saber: os efeitos sociais da guerra civil e do franquismo na Espanha atual, a valorização da figura da testemunha, o boom memorial e, por fim, a relação entre história e memória. E uma vez que tais temáticas são igualmente caras à historiografia do tempo presente, empreendeu-se primeiro uma discussão teórica acerca destes temas. Visando tornar mais exequível o escrutínio de O impostor a partir dos campos da teoria da história e da história do tempo presente, optou-se por lê-lo como um texto-investigação. Este conceito permite coadunar uma série bastante heterogênea de textos, sejam os das ciências humanas em geral, sejam os da literatura, unidos pela preocupação de compreender o passado recente e de formular hipóteses acerca deste mesmo passado. Buscou-se demonstrar também que tanto a história como a literatura são capazes de amplificar e dar visibilidade às discussões sobre traumas coletivos e de contribuir para o reconhecimento e a elaboração destes traumas. As análises que constituíram este estudo desaguam finalmente na hipótese de que, em que pese a abordagem frontal da temática candente dos passados traumáticos e do frenesi memorial, as teses históricas de Javier Cercas, pelo rasgo pejorativo que apresentam, possuem pouco valor explicativo. Parecem não oferecer a seu leitor uma chave interpretativa capaz de enxergar o pretérito em sua complexidade e dinamismo, aportando pouco para a superação das feridas históricas que são, em última instância, o pano de fundo do livro.
publishDate 2019
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-09-10T03:38:20Z
dc.date.issued.fl_str_mv 2019
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10183/199017
dc.identifier.nrb.pt_BR.fl_str_mv 001098568
url http://hdl.handle.net/10183/199017
identifier_str_mv 001098568
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron:UFRGS
instname_str Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron_str UFRGS
institution UFRGS
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
bitstream.url.fl_str_mv http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/199017/2/001098568.pdf.txt
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/199017/1/001098568.pdf
bitstream.checksum.fl_str_mv fa989c8e95ccb35dc363fa64e1083924
d98df45da09ff3ad90fa6094c8e65be0
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
repository.mail.fl_str_mv lume@ufrgs.br||lume@ufrgs.br
_version_ 1810085497299533824