Os muitos cercos de Lisboa : a reconfiguração ficcional do intertexto historiográfico em História do cerco de Lisboa de José Saramago
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2015 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/131573 |
Resumo: | Esta dissertação tem como objetivo analisar de que maneira a representação dos eventos históricos referentes ao cerco de Lisboa de 1147 empreendida nos textos historiográficos Conquista De Lisboa aos Mouros (1147) de Osberno, Crónica de cinco reis de Portugal atribuído a Fernão Lopes, Crónica de Dom Affonso Henriques, do Frei António Brandão, e História de Portugal: 1.ª época, desde a origem da monarquia até D. Afonso III de Alexandre Herculano, é reconfigurada na narrativa ficcional História do Cerco de Lisboa, do escritor português José Saramago. Especificamente, tencionou-se identificar, por meio do estudo de fontes históricas referentes à conquista de Lisboa de 1147, aspectos característicos da narrativa histórica oficial de tal evento histórico e da apresentação de suas personagens importantes; determinar em que medida textos historiográficos portugueses são intertextualmente apropriados pelo narrador de História do Cerco de Lisboa; averiguar qual é a atitude do narrador em relação ao discurso histórico oficial referente a tal momento histórico; verificar de que maneira as personagens históricas envolvidas no cerco e na tomada de Lisboa são representadas no romance; e determinar em que medida a reescrita do cerco de Lisboa empreendida no romance é dessacralizadora e paródica. A análise do romance foi norteada teoricamente, por um lado, por estudos referentes às muitas instâncias do cruzamento entre discurso literário e discurso histórico – especialmente por obras dos historiadores Hayden White, Paul Ricoeur, Carlo Ginzburg, Saul Friedländer e Dominick LaCapra – e, por outro, pela atribuição do conceito de metaficção historiográfica, de Linda Hutcheon, à narrativa saramaguiana. Depois do estudo do romance à luz das obras históricas, concluiu-se que o narrador de História do cerco de Lisboa reconfigura o intertexto historiográfico de maneiras distintas, que vão da reprodução literal de excertos e da referência nominal a seus autores até a absorção paródica de grandes blocos das obras de origem. Essas citações aparecem em geral emolduradas por comentários irônicos da instância narrativa, conferindo uma apreciação pouco sacralizada e bastante díspar da observada nas fontes históricas consultadas aos eventos e personalidades históricas importantes. Outra forma de retomada intertextual refere-se ao resgate de figuras menores do passado português, o soldado Mogueime e a princesa moura Oureana, e das vozes mouras silenciadas pela conquista. Além de problematizar o passado lusitano por meio da apropriação intertextual de obras que o enfocam, o narrador saramaguiano questiona os métodos de escrita historiográfica ao ficcionalizar o embate de pelo menos duas concepções de história distintas, uma representada pelo Historiador e outra por Raimundo Silva, bem como de sugerir a leitura do passado mediante a técnica do palimpsesto. |
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Especificamente, tencionou-se identificar, por meio do estudo de fontes históricas referentes à conquista de Lisboa de 1147, aspectos característicos da narrativa histórica oficial de tal evento histórico e da apresentação de suas personagens importantes; determinar em que medida textos historiográficos portugueses são intertextualmente apropriados pelo narrador de História do Cerco de Lisboa; averiguar qual é a atitude do narrador em relação ao discurso histórico oficial referente a tal momento histórico; verificar de que maneira as personagens históricas envolvidas no cerco e na tomada de Lisboa são representadas no romance; e determinar em que medida a reescrita do cerco de Lisboa empreendida no romance é dessacralizadora e paródica. A análise do romance foi norteada teoricamente, por um lado, por estudos referentes às muitas instâncias do cruzamento entre discurso literário e discurso histórico – especialmente por obras dos historiadores Hayden White, Paul Ricoeur, Carlo Ginzburg, Saul Friedländer e Dominick LaCapra – e, por outro, pela atribuição do conceito de metaficção historiográfica, de Linda Hutcheon, à narrativa saramaguiana. Depois do estudo do romance à luz das obras históricas, concluiu-se que o narrador de História do cerco de Lisboa reconfigura o intertexto historiográfico de maneiras distintas, que vão da reprodução literal de excertos e da referência nominal a seus autores até a absorção paródica de grandes blocos das obras de origem. Essas citações aparecem em geral emolduradas por comentários irônicos da instância narrativa, conferindo uma apreciação pouco sacralizada e bastante díspar da observada nas fontes históricas consultadas aos eventos e personalidades históricas importantes. Outra forma de retomada intertextual refere-se ao resgate de figuras menores do passado português, o soldado Mogueime e a princesa moura Oureana, e das vozes mouras silenciadas pela conquista. Além de problematizar o passado lusitano por meio da apropriação intertextual de obras que o enfocam, o narrador saramaguiano questiona os métodos de escrita historiográfica ao ficcionalizar o embate de pelo menos duas concepções de história distintas, uma representada pelo Historiador e outra por Raimundo Silva, bem como de sugerir a leitura do passado mediante a técnica do palimpsesto.This thesis aims to analyze how the representation of historical events related to the 1147 siege of Lisbon undertaken in the historiographical texts Conquista De Lisboa aos Mouros (1147) by Osberno, Crónica de cinco reis de Portugal by Fernão Lopes, Crónica de Dom Affonso Henriques by Frei António Brandão, and História de Portugal: 1.ª época, desde a origem da monarquia até D. Afonso III by Alexandre Herculano is reconfigured in the ficcional narrative History of the Siege of Lisbon, by Portuguese writer José Saramago. Specifically, we meant to identify, through the study of historical sources concerning the conquest of Lisbon, characteristic features of the official historical record of this historic event and how the its important characters are presented; to determine to what extent Portuguese historiographical texts are intertextualy appropriated by the History of the Siege of Lisbon narrator; to find out what is the narrator's attitude towards the official historical record concerning such historical moment; to verify how the historical characters involved in the siege and conquest of Lisbon are represented in the novel; and to determine to what extent the rewriting of the siege of Lisbon undertaken in the novel is unsanctified and parodic. The novel’s analysis was theoretically guided, on the one hand, for studies related to the various instances of crossings between literary discourse and historical discourse – especially works by historians Hayden White, Paul Ricoeur, Carlo Ginzburg, Saul Friedlander and Dominick LaCapra – and, on the other hand, the assignment of the concept of historiographic metafiction, by Linda Hutcheon, to Saramago’s narrative. After the study of the novel in the light of the historical sources, it was concluded that the History of the siege of Lisbon’s narrator reconfigures the historiographical intertext in different ways, ranging from literal reproduction of excerpts and nominal reference to their authors to the parodic absorption of large blocks of works. These quotes are usually framed by ironic comments of the narrative instance, giving an assessment that isn’t sanctified and is quite disparate from that given by the consulted historical sources to the historical events and its important figures. Another form of intertextual resumption refers to rescue of smaller figures of Portuguese past, as the soldier Mogueime and the Moorish princess Oureana, as well as the Moorish voices silenced by the conquest. Besides questioning the Lusitanian past through intertextual appropriation of sources, Saramago’s narrator questions the historiographical writing methods by fictionalizing the clash of at least two different conceptions of history, represented by the historian and by Raimundo Silva, as well as suggest the reading of the past throught the use of palimpsest technique.application/pdfporSaramago, José, 1922-2010. História do cerco de Lisboa : Crítica e interpretaçãoCrítica literáriaLiteratura portuguesaLiteratura e HistóriaMetaficção historiográficaIntertextualidadePortuguese literatureLiterature and historyHistoriographic metafictionIntertextualityOs muitos cercos de Lisboa : a reconfiguração ficcional do intertexto historiográfico em História do cerco de Lisboa de José Saramagoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPrograma de Pós-Graduação em LetrasPorto Alegre, BR-RS2015mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000973854.pdf000973854.pdfTexto completoapplication/pdf1423534http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/131573/1/000973854.pdf736c622cee54f086a88c282e4af2d043MD51TEXT000973854.pdf.txt000973854.pdf.txtExtracted Texttext/plain521398http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/131573/2/000973854.pdf.txtf01d1c7e18214b01b5e5157b7b220f18MD52THUMBNAIL000973854.pdf.jpg000973854.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1088http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/131573/3/000973854.pdf.jpgf95c34c74aebfcd3b0ca7062e16db447MD5310183/1315732018-10-25 10:02:49.071oai:www.lume.ufrgs.br:10183/131573Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-25T13:02:49Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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