A atribuição de gênero gramatical a novas formações em português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Surreaux, Pedro Perini
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/264210
Resumo: Esta dissertação aborda o fenômeno de gênero gramatical e processos com que se relaciona, visando, primeiramente, a contribuir descritivamente para discussões sobre o tema. Toma-se como foco o sistema de gênero do português brasileiro e o processo de atribuição de gênero a substantivos novos na língua. Em português, todo substantivo em uso conta com um valor de gênero gramatical nuclear, uma vez que determina a flexão de seus determinantes, como artigos e adjetivos, na concordância nominal. Embora só seja possível se atestar o gênero de um substantivo pela sintaxe, no modo como se flexionam, por exemplo, artigos e adjetivos associados, há uma variedade de correlações entre o sistema de gênero e outros domínios linguísticos e extralinguísticos. Em PB, propriedades da forma fonológica dos nomes, como as terminações a e agem, podem indicar o feminino em muitos casos, assim como ocorre com substantivos que designam referentes do sexo feminino. Buscando apreender o fenômeno da atribuição de gênero a novos substantivos formados na língua, um objetivo inicial é reunir trabalhos relacionados ao tema, com uma revisão bibliográfica que se pretende abrangente, incluindo, de um lado, estudos que buscam caracterizar o gênero gramatical enquanto fato linguístico, de outro, investigações sobre o fenômeno da adaptação morfológica de substantivos a sistemas de gênero. A partir da compreensão que esperamos fornecer através desse compilado bibliográfico, partimos para a exposição de nossos empreendimentos metodológicos de análise in loco, em maior ou menor grau, do fenômeno; sejam eles: (i) a formação de empréstimos nominais em português derivados do inglês, do tupi e do árabe; (ii) e experimentos com falantes de português brasileiro utilizando-se experimento psicolinguístico com pseudopalavras, que deve testar critérios formais possivelmente atuantes no processo. Entendemos ter papel nesses fenômenos o conhecimento internalizado dos falantes quanto a regras e padrões lexicais do português. Os dados de nossas análises de corpora de empréstimo sugerem que os 1.150 substantivos formados a partir de empréstimos do inglês, em grande parte, adquirem gênero por processos de analogia semântica, como o sexo do referente ou uma palavra equivalente em português, uma vez que estruturas relevantes para o funcionamento do fenômeno são restringidas pela fonotática do inglês. Por outro lado, dentre os 827 empréstimos do árabe e os 2.544 de línguas tupi em português, apontamos para o fato de que substantivos femininos que terminados em a, em português, como alcatra e capivara, já possuíam segmentos análogos em suas línguas de origem — nesses exemplos, <al.qatra> e <kapi'iûara>. Por fim, o experimento psicolinguístico online que realizamos com 133 nativos de PB apontou para um papel de radicais de palavras naturais do português na atribuição do feminino a palavras como brincadeirofe e televiséi, entendidas como femininas por 68,4 e 70% dos falantes, respectivamente. No entanto, o teste de terminações como ção e agem parece estar envolvidos de maneira mais incisiva no processamento de gênero gramatical: as pseudopalavras testadas nafiquência e matidade foram entendidas como femininas por 98,5 e 97% dos participantes, respectivamente. Nossa expectativa com as discussões e análises de dados empíricos aqui propostas é contribuir para pesquisas futuras sobre o gênero gramatical e elucidar o seu processamento enquanto categoria cognitiva. Por fim, ainda que de maneira mais tangencial, com nossa compilação e classificação específica de vocábulos de origens árabe e de línguas tupi, esperamos também oferecer possibilidades de estudo para a linguística histórica.
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Em PB, propriedades da forma fonológica dos nomes, como as terminações a e agem, podem indicar o feminino em muitos casos, assim como ocorre com substantivos que designam referentes do sexo feminino. Buscando apreender o fenômeno da atribuição de gênero a novos substantivos formados na língua, um objetivo inicial é reunir trabalhos relacionados ao tema, com uma revisão bibliográfica que se pretende abrangente, incluindo, de um lado, estudos que buscam caracterizar o gênero gramatical enquanto fato linguístico, de outro, investigações sobre o fenômeno da adaptação morfológica de substantivos a sistemas de gênero. A partir da compreensão que esperamos fornecer através desse compilado bibliográfico, partimos para a exposição de nossos empreendimentos metodológicos de análise in loco, em maior ou menor grau, do fenômeno; sejam eles: (i) a formação de empréstimos nominais em português derivados do inglês, do tupi e do árabe; (ii) e experimentos com falantes de português brasileiro utilizando-se experimento psicolinguístico com pseudopalavras, que deve testar critérios formais possivelmente atuantes no processo. Entendemos ter papel nesses fenômenos o conhecimento internalizado dos falantes quanto a regras e padrões lexicais do português. Os dados de nossas análises de corpora de empréstimo sugerem que os 1.150 substantivos formados a partir de empréstimos do inglês, em grande parte, adquirem gênero por processos de analogia semântica, como o sexo do referente ou uma palavra equivalente em português, uma vez que estruturas relevantes para o funcionamento do fenômeno são restringidas pela fonotática do inglês. Por outro lado, dentre os 827 empréstimos do árabe e os 2.544 de línguas tupi em português, apontamos para o fato de que substantivos femininos que terminados em a, em português, como alcatra e capivara, já possuíam segmentos análogos em suas línguas de origem — nesses exemplos, <al.qatra> e <kapi'iûara>. Por fim, o experimento psicolinguístico online que realizamos com 133 nativos de PB apontou para um papel de radicais de palavras naturais do português na atribuição do feminino a palavras como brincadeirofe e televiséi, entendidas como femininas por 68,4 e 70% dos falantes, respectivamente. No entanto, o teste de terminações como ção e agem parece estar envolvidos de maneira mais incisiva no processamento de gênero gramatical: as pseudopalavras testadas nafiquência e matidade foram entendidas como femininas por 98,5 e 97% dos participantes, respectivamente. Nossa expectativa com as discussões e análises de dados empíricos aqui propostas é contribuir para pesquisas futuras sobre o gênero gramatical e elucidar o seu processamento enquanto categoria cognitiva. Por fim, ainda que de maneira mais tangencial, com nossa compilação e classificação específica de vocábulos de origens árabe e de línguas tupi, esperamos também oferecer possibilidades de estudo para a linguística histórica.This thesis addresses the phenomenon of grammatical gender and processes related to it, aiming to contribute descriptively to discussions on the topic. The focus here is the gender system of Brazilian Portuguese and the process of gender assignment to novel nouns. In Portuguese, every noun has a nuclear grammatical gender value, thus determing the inflection of agreement-targets, such as articles and adjectives in nominal agreement. Although the gender value of a noun can only be attested in syntax, by the form assumed by determiners, there are certain correlations between gender and other linguistics and extralinguistic properties, such as semantic information of referents and given phonological constituents of the noun. The feminine gender in Portuguese is in some cases associated with semantic features and sex of referents and unstressed vowel ending a. In order to study the phenomenon of gender assignment to novel items in the language, the objectives are to carry out a comprehensive bibliographic review on the grammatical gender system of Brazilian Portuguese and on the phenomenon of morphological adaptation to gender systems; to study the phenomenon from nominal borrowings from English, Tupian, and Arabic into the language; and to conduct experiments with Brazilian Portuguese speakers using pseudonouns to test formal criteria that may be involved in the process. It is understood that internalized linguistic knowledge of speakers regarding rules and lexical patterns of within Portuguese lexicon may play a role in the phenomenon. According to our results, semantic analogy prevails in the case of English borrowing, once relevant formal clues for the phenomenon being restricted by English phonotactics; among borrowings from Arabic and Tupi, a significant part of the feminine nouns ending in a derives from words ending in analogous unstressed vowels of those languages. Regarding our psycholinguistic tests, pseudowords with predominantly feminine endings and roots in the Portuguese lexicon were very frequently assigned feminine. The results of our analyses point to the involvement of different clues as conditioning factors for gender assignment, resounding findings from the literature on other languages. Moreover, in the analyzed cases, there seems to be relative systematicity in the application of the process that goes beyond cases associated with the semantics of referents, sometimes assumed in the literature to be the only systematic and regular criterion.application/pdfporGênero gramaticalPsicolinguísticaMorfologiaGrammatical genderBrazilian PortugueseMorphologyLexical borrowingsPseudowordsPsycholinguisticsA atribuição de gênero gramatical a novas formações em português brasileiroinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPrograma de Pós-Graduação em LetrasPorto Alegre, BR-RS2023mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001176360.pdf.txt001176360.pdf.txtExtracted Texttext/plain240881http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/264210/2/001176360.pdf.txt7b6ba59b655e8e83fc82a3628e2b4c28MD52ORIGINAL001176360.pdfTexto completoapplication/pdf1316001http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/264210/1/001176360.pdfe6a941e02786cb2a688c2d4d26ff43c9MD5110183/2642102023-09-02 03:32:45.553047oai:www.lume.ufrgs.br:10183/264210Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532023-09-02T06:32:45Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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