O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Simanke, Richard Theisen
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Scientiae Studia (Online)
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/84488
Resumo: O conceito freudiano de "impulso", ou "instinto" (Trieb), é reconhecidamente um dos conceitos mais fundamentais da psicanálise. No entanto, seu sentido ainda é objeto de controvérsia. Originalmente definido por Freud em um sentido biológico ou quase biológico, sua recepção em muitas das diversas tradições pós-freudianas tendeu, frequentemente, a recusar essa filiação epistemológica inicial. Um dos sinais dessa reorientação doutrinária é a recusa da tradução de "Trieb" por "instinto" e a preferência pelo neologismo "pulsão", de origem francesa e comum na literatura psicanalítica escrita em várias das línguas neolatinas, inclusive em português. O objetivo deste artigo é criticar essa tendência. Para tanto, são examinados os principais argumentos normalmente apresentados contra uma visão biológica do Trieb freudiano, a saber, 1) a alternativa terminológica entre os termos alemães "Trieb" e "Instinkt" e o modo como estes são utilizados por Freud; 2) a crítica freudiana de uma redução da sexualidade humana à função reprodutiva; 3) o conceito de "Todestrieb" ("instinto de morte" ou "pulsão de morte") formulado por Freud por volta de 1920 e central na etapa final de seu pensamento. Procura-se argumentar que essas formulações não impedem uma interpretação biológica do conceito de "Trieb". Essa interpretação, por sua vez, abre uma via de diálogo entre a psicanálise e a biologia, a qual é também enfática e explicitamente defendida por Freud. Esta primeira parte do trabalho introduz a questão e também aborda o problema da relação entre sexualidade e reprodução na psicanálise e na biologia. Uma segunda parte, a ser publicada em uma próxima edição de Scientiae Studia, será dedicada ao problema da agressividade e da autodestrutividade nessas duas áreas do conhecimento.
id USP-16_2c262b8fb0bad506a26799a69ffd2a87
oai_identifier_str oai:revistas.usp.br:article/84488
network_acronym_str USP-16
network_name_str Scientiae Studia (Online)
repository_id_str
spelling O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução Freud's Trieb as instinct 1: sexuality and reproduction O conceito freudiano de "impulso", ou "instinto" (Trieb), é reconhecidamente um dos conceitos mais fundamentais da psicanálise. No entanto, seu sentido ainda é objeto de controvérsia. Originalmente definido por Freud em um sentido biológico ou quase biológico, sua recepção em muitas das diversas tradições pós-freudianas tendeu, frequentemente, a recusar essa filiação epistemológica inicial. Um dos sinais dessa reorientação doutrinária é a recusa da tradução de "Trieb" por "instinto" e a preferência pelo neologismo "pulsão", de origem francesa e comum na literatura psicanalítica escrita em várias das línguas neolatinas, inclusive em português. O objetivo deste artigo é criticar essa tendência. Para tanto, são examinados os principais argumentos normalmente apresentados contra uma visão biológica do Trieb freudiano, a saber, 1) a alternativa terminológica entre os termos alemães "Trieb" e "Instinkt" e o modo como estes são utilizados por Freud; 2) a crítica freudiana de uma redução da sexualidade humana à função reprodutiva; 3) o conceito de "Todestrieb" ("instinto de morte" ou "pulsão de morte") formulado por Freud por volta de 1920 e central na etapa final de seu pensamento. Procura-se argumentar que essas formulações não impedem uma interpretação biológica do conceito de "Trieb". Essa interpretação, por sua vez, abre uma via de diálogo entre a psicanálise e a biologia, a qual é também enfática e explicitamente defendida por Freud. Esta primeira parte do trabalho introduz a questão e também aborda o problema da relação entre sexualidade e reprodução na psicanálise e na biologia. Uma segunda parte, a ser publicada em uma próxima edição de Scientiae Studia, será dedicada ao problema da agressividade e da autodestrutividade nessas duas áreas do conhecimento. Freud's concept of "drive" or "instinct" ("Trieb") has been widely acknowledged as one of the most fundamental concepts of psychoanalysis. However, its meaning is still a matter of controversy. It was originally defined by Freud in a biological or quasi-biological sense, but its reception in many different post-Freudian traditions has often tended to reject this early epistemological affiliation. One sign of this theoretical reorientation has been to refuse the translation of "Trieb" as "instinct" and to favor instead the neologism "pulsion" ("drive"), which has French origins and became common in the psychoanalytic literature written in many neo-Latin languages, including Portuguese. The objective of this paper is to criticize this trend. For that, the main arguments usually presented against a biological view of Freud's "Trieb" are discussed, namely: (1) the terminological alternative between the German words "Trieb" and "Instinkt" and how these terms are employed by Freud; (2) Freud's critique of the reduction of human sexuality to the reproductive function; (3) the concept of "Todestrieb" ("death instinct" or "death drive"), formulated by Freud around 1920 and central in the last stage of his thought. It is argued that these formulations do not preclude a biological interpretation of the concept of "Trieb". Such interpretation, in turn, opens the way for dialogue between psychoanalysis and biology, a dialogue which was also emphatically and explicitly supported by Freud. This first part of the paper is an introduction to this issue, and approaches the problem of the relationship between sexuality and reproduction in psychoanalysis and biology. A second part will be published in a forthcoming issue of Scientiae Studia; it will be dedicated to the problem of aggression and self-destructiveness in these two fields of knowledge. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas2014-03-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/ss/article/view/8448810.1590/S1678-31662014000100004Scientiae Studia; v. 12 n. 1 (2014); 73-95Scientiae Studia; Vol. 12 Núm. 1 (2014); 73-95Scientiae Studia; Vol. 12 No. 1 (2014); 73-952316-89941678-3166reponame:Scientiae Studia (Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/ss/article/view/84488/87242Simanke, Richard Theiseninfo:eu-repo/semantics/openAccess2014-09-08T10:41:02Zoai:revistas.usp.br:article/84488Revistahttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1678-3166&lng=pt&nrm=isoPUBhttps://www.revistas.usp.br/ss/oaiariconda@usp.br2316-89941678-3166opendoar:2014-09-08T10:41:02Scientiae Studia (Online) - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução
Freud's Trieb as instinct 1: sexuality and reproduction
title O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução
spellingShingle O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução
Simanke, Richard Theisen
title_short O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução
title_full O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução
title_fullStr O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução
title_full_unstemmed O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução
title_sort O Trieb de Freud como instinto 1: sexualidade e reprodução
author Simanke, Richard Theisen
author_facet Simanke, Richard Theisen
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Simanke, Richard Theisen
description O conceito freudiano de "impulso", ou "instinto" (Trieb), é reconhecidamente um dos conceitos mais fundamentais da psicanálise. No entanto, seu sentido ainda é objeto de controvérsia. Originalmente definido por Freud em um sentido biológico ou quase biológico, sua recepção em muitas das diversas tradições pós-freudianas tendeu, frequentemente, a recusar essa filiação epistemológica inicial. Um dos sinais dessa reorientação doutrinária é a recusa da tradução de "Trieb" por "instinto" e a preferência pelo neologismo "pulsão", de origem francesa e comum na literatura psicanalítica escrita em várias das línguas neolatinas, inclusive em português. O objetivo deste artigo é criticar essa tendência. Para tanto, são examinados os principais argumentos normalmente apresentados contra uma visão biológica do Trieb freudiano, a saber, 1) a alternativa terminológica entre os termos alemães "Trieb" e "Instinkt" e o modo como estes são utilizados por Freud; 2) a crítica freudiana de uma redução da sexualidade humana à função reprodutiva; 3) o conceito de "Todestrieb" ("instinto de morte" ou "pulsão de morte") formulado por Freud por volta de 1920 e central na etapa final de seu pensamento. Procura-se argumentar que essas formulações não impedem uma interpretação biológica do conceito de "Trieb". Essa interpretação, por sua vez, abre uma via de diálogo entre a psicanálise e a biologia, a qual é também enfática e explicitamente defendida por Freud. Esta primeira parte do trabalho introduz a questão e também aborda o problema da relação entre sexualidade e reprodução na psicanálise e na biologia. Uma segunda parte, a ser publicada em uma próxima edição de Scientiae Studia, será dedicada ao problema da agressividade e da autodestrutividade nessas duas áreas do conhecimento.
publishDate 2014
dc.date.none.fl_str_mv 2014-03-01
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/84488
10.1590/S1678-31662014000100004
url https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/84488
identifier_str_mv 10.1590/S1678-31662014000100004
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/84488/87242
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
dc.source.none.fl_str_mv Scientiae Studia; v. 12 n. 1 (2014); 73-95
Scientiae Studia; Vol. 12 Núm. 1 (2014); 73-95
Scientiae Studia; Vol. 12 No. 1 (2014); 73-95
2316-8994
1678-3166
reponame:Scientiae Studia (Online)
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Scientiae Studia (Online)
collection Scientiae Studia (Online)
repository.name.fl_str_mv Scientiae Studia (Online) - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv ariconda@usp.br
_version_ 1800222736727932928