O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2014 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Scientiae Studia (Online) |
Texto Completo: | https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/98179 |
Resumo: | O conceito freudiano de impulso ou instinto (Trieb) é reconhecidamente um dos conceitos mais fundamentais da psicanálise. No entanto, seu sentido ainda é objeto de controvérsia. Originalmente definido por Freud num sentido biológico ou quase biológico, sua recepção em muitas das diversas tradições pós-freudianas tendeu, frequentemente, a recusar essa filiação epistemológica inicial. Um dos sinais dessa reorientação doutrinária é a recusa da tradução de Trieb por "instinto" e a preferência pelo neologismo "pulsão", de origem francesa e comum na literatura psicanalítica escrita em várias das línguas neolatinas, inclusive em português. O objetivo deste artigo é criticar essa tendência. Para tanto, são examinados os principais argumentos normalmente apresentados contra uma visão biológica do Trieb freudiano, a saber: 1) a alternativa terminológica entre os termos alemães Trieb e Instinkt e o modo como estes são utilizados por Freud; 2) a crítica freudiana de uma redução da sexualidade humana à função reprodutiva; 3) o conceito de Todestrieb (instinto ou pulsão de morte) formulado por Freud por volta de 1920 e central na etapa final de seu pensamento. Procura-se argumentar que essas formulações não impedem uma interpretação biológica do conceito de Trieb. Essa interpretação, por sua vez, abre uma via de diálogo entre a psicanálise e a biologia, a qual é também enfática e explicitamente defendida por Freud. Uma série de formulações - oriundas, sobretudo, do campo da biologia evolucionária de orientação neodarwinista e da sociobiologia - são discutidas, com o intuito de argumentar pela sua compatibilidade, se não pela sua convergência, com as teses freudianas. A primeira parte deste trabalho introduziu a questão e também abordou o problema da relação entre sexualidade e reprodução na psicanálise e na biologia. Esta segunda parte está dedicada ao problema da agressividade e da autodestrutividade nessas duas áreas do conhecimento. |
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O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade Freud's Trieb as instinct 2: aggression and self-destructiveness O conceito freudiano de impulso ou instinto (Trieb) é reconhecidamente um dos conceitos mais fundamentais da psicanálise. No entanto, seu sentido ainda é objeto de controvérsia. Originalmente definido por Freud num sentido biológico ou quase biológico, sua recepção em muitas das diversas tradições pós-freudianas tendeu, frequentemente, a recusar essa filiação epistemológica inicial. Um dos sinais dessa reorientação doutrinária é a recusa da tradução de Trieb por "instinto" e a preferência pelo neologismo "pulsão", de origem francesa e comum na literatura psicanalítica escrita em várias das línguas neolatinas, inclusive em português. O objetivo deste artigo é criticar essa tendência. Para tanto, são examinados os principais argumentos normalmente apresentados contra uma visão biológica do Trieb freudiano, a saber: 1) a alternativa terminológica entre os termos alemães Trieb e Instinkt e o modo como estes são utilizados por Freud; 2) a crítica freudiana de uma redução da sexualidade humana à função reprodutiva; 3) o conceito de Todestrieb (instinto ou pulsão de morte) formulado por Freud por volta de 1920 e central na etapa final de seu pensamento. Procura-se argumentar que essas formulações não impedem uma interpretação biológica do conceito de Trieb. Essa interpretação, por sua vez, abre uma via de diálogo entre a psicanálise e a biologia, a qual é também enfática e explicitamente defendida por Freud. Uma série de formulações - oriundas, sobretudo, do campo da biologia evolucionária de orientação neodarwinista e da sociobiologia - são discutidas, com o intuito de argumentar pela sua compatibilidade, se não pela sua convergência, com as teses freudianas. A primeira parte deste trabalho introduziu a questão e também abordou o problema da relação entre sexualidade e reprodução na psicanálise e na biologia. Esta segunda parte está dedicada ao problema da agressividade e da autodestrutividade nessas duas áreas do conhecimento. Freud's concept of drive or instinct (Trieb) has been widely acknowledged as one of psychoanalysis' most fundamental concepts. However, its meaning is still a matter of controversy. It was originally defined by Freud in a biological or quasi-biological sense, but its reception in many different post-Freudian traditions has often tended to reject this early epistemological affiliation. One sign of this theoretical reorientation has been to refuse the translation of Trieb as "instinct" and to favor instead the neologism "pulsion", which has French origins and became common in the psychoanalytic literature written in many neo-Latin languages, including Portuguese. The objective of this paper is to criticize this trend. For that, the main arguments usually presented against a biological view of Freud's Trieb are discussed, namely: 1) the terminological alternative between the German words Trieb and Instinkt and how these terms are employed by Freud; 2) Freud's critique of the reduction of human sexuality to the reproductive function; 3) the concept of Todestrieb (death instinct or death drive), formulated by Freud around 1920 and central in the last stage of his thought. It is argued that these formulations do not preclude a biological interpretation of the concept of Trieb. Such interpretation, in turn, opens the way for dialogue between psychoanalysis and biology, a dialogue which was also emphatically and explicitly supported by Freud. Some hypotheses in the field of neo-Darwinian evolutionary biology and sociobiology are discussed and it is argued that they are compatible, if not convergent, with Freud's views. The first part of the paper was an introduction to this issue and also approached the problem of the relationship between sexuality and reproduction in psychoanalysis and biology. This second part is dedicated to the problem of aggression and self-destructiveness in these two fields of knowledge. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas2014-09-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/ss/article/view/9817910.1590/S1678-31662014000300003Scientiae Studia; v. 12 n. 3 (2014); 439-464Scientiae Studia; Vol. 12 Núm. 3 (2014); 439-464Scientiae Studia; Vol. 12 No. 3 (2014); 439-4642316-89941678-3166reponame:Scientiae Studia (Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/ss/article/view/98179/96996Copyright (c) 2015 Scientiae Studiainfo:eu-repo/semantics/openAccessSimanke, Richard Theisen2015-05-14T16:55:08Zoai:revistas.usp.br:article/98179Revistahttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1678-3166&lng=pt&nrm=isoPUBhttps://www.revistas.usp.br/ss/oaiariconda@usp.br2316-89941678-3166opendoar:2015-05-14T16:55:08Scientiae Studia (Online) - Universidade de São Paulo (USP)false |
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