O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Simanke, Richard Theisen
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Scientiae Studia (Online)
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/98179
Resumo: O conceito freudiano de impulso ou instinto (Trieb) é reconhecidamente um dos conceitos mais fundamentais da psicanálise. No entanto, seu sentido ainda é objeto de controvérsia. Originalmente definido por Freud num sentido biológico ou quase biológico, sua recepção em muitas das diversas tradições pós-freudianas tendeu, frequentemente, a recusar essa filiação epistemológica inicial. Um dos sinais dessa reorientação doutrinária é a recusa da tradução de Trieb por "instinto" e a preferência pelo neologismo "pulsão", de origem francesa e comum na literatura psicanalítica escrita em várias das línguas neolatinas, inclusive em português. O objetivo deste artigo é criticar essa tendência. Para tanto, são examinados os principais argumentos normalmente apresentados contra uma visão biológica do Trieb freudiano, a saber: 1) a alternativa terminológica entre os termos alemães Trieb e Instinkt e o modo como estes são utilizados por Freud; 2) a crítica freudiana de uma redução da sexualidade humana à função reprodutiva; 3) o conceito de Todestrieb (instinto ou pulsão de morte) formulado por Freud por volta de 1920 e central na etapa final de seu pensamento. Procura-se argumentar que essas formulações não impedem uma interpretação biológica do conceito de Trieb. Essa interpretação, por sua vez, abre uma via de diálogo entre a psicanálise e a biologia, a qual é também enfática e explicitamente defendida por Freud. Uma série de formulações - oriundas, sobretudo, do campo da biologia evolucionária de orientação neodarwinista e da sociobiologia - são discutidas, com o intuito de argumentar pela sua compatibilidade, se não pela sua convergência, com as teses freudianas. A primeira parte deste trabalho introduziu a questão e também abordou o problema da relação entre sexualidade e reprodução na psicanálise e na biologia. Esta segunda parte está dedicada ao problema da agressividade e da autodestrutividade nessas duas áreas do conhecimento.
id USP-16_7e5d9b8176410a994d77536298aebc8a
oai_identifier_str oai:revistas.usp.br:article/98179
network_acronym_str USP-16
network_name_str Scientiae Studia (Online)
repository_id_str
spelling O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade Freud's Trieb as instinct 2: aggression and self-destructiveness O conceito freudiano de impulso ou instinto (Trieb) é reconhecidamente um dos conceitos mais fundamentais da psicanálise. No entanto, seu sentido ainda é objeto de controvérsia. Originalmente definido por Freud num sentido biológico ou quase biológico, sua recepção em muitas das diversas tradições pós-freudianas tendeu, frequentemente, a recusar essa filiação epistemológica inicial. Um dos sinais dessa reorientação doutrinária é a recusa da tradução de Trieb por "instinto" e a preferência pelo neologismo "pulsão", de origem francesa e comum na literatura psicanalítica escrita em várias das línguas neolatinas, inclusive em português. O objetivo deste artigo é criticar essa tendência. Para tanto, são examinados os principais argumentos normalmente apresentados contra uma visão biológica do Trieb freudiano, a saber: 1) a alternativa terminológica entre os termos alemães Trieb e Instinkt e o modo como estes são utilizados por Freud; 2) a crítica freudiana de uma redução da sexualidade humana à função reprodutiva; 3) o conceito de Todestrieb (instinto ou pulsão de morte) formulado por Freud por volta de 1920 e central na etapa final de seu pensamento. Procura-se argumentar que essas formulações não impedem uma interpretação biológica do conceito de Trieb. Essa interpretação, por sua vez, abre uma via de diálogo entre a psicanálise e a biologia, a qual é também enfática e explicitamente defendida por Freud. Uma série de formulações - oriundas, sobretudo, do campo da biologia evolucionária de orientação neodarwinista e da sociobiologia - são discutidas, com o intuito de argumentar pela sua compatibilidade, se não pela sua convergência, com as teses freudianas. A primeira parte deste trabalho introduziu a questão e também abordou o problema da relação entre sexualidade e reprodução na psicanálise e na biologia. Esta segunda parte está dedicada ao problema da agressividade e da autodestrutividade nessas duas áreas do conhecimento. Freud's concept of drive or instinct (Trieb) has been widely acknowledged as one of psychoanalysis' most fundamental concepts. However, its meaning is still a matter of controversy. It was originally defined by Freud in a biological or quasi-biological sense, but its reception in many different post-Freudian traditions has often tended to reject this early epistemological affiliation. One sign of this theoretical reorientation has been to refuse the translation of Trieb as "instinct" and to favor instead the neologism "pulsion", which has French origins and became common in the psychoanalytic literature written in many neo-Latin languages, including Portuguese. The objective of this paper is to criticize this trend. For that, the main arguments usually presented against a biological view of Freud's Trieb are discussed, namely: 1) the terminological alternative between the German words Trieb and Instinkt and how these terms are employed by Freud; 2) Freud's critique of the reduction of human sexuality to the reproductive function; 3) the concept of Todestrieb (death instinct or death drive), formulated by Freud around 1920 and central in the last stage of his thought. It is argued that these formulations do not preclude a biological interpretation of the concept of Trieb. Such interpretation, in turn, opens the way for dialogue between psychoanalysis and biology, a dialogue which was also emphatically and explicitly supported by Freud. Some hypotheses in the field of neo-Darwinian evolutionary biology and sociobiology are discussed and it is argued that they are compatible, if not convergent, with Freud's views. The first part of the paper was an introduction to this issue and also approached the problem of the relationship between sexuality and reproduction in psychoanalysis and biology. This second part is dedicated to the problem of aggression and self-destructiveness in these two fields of knowledge. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas2014-09-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/ss/article/view/9817910.1590/S1678-31662014000300003Scientiae Studia; v. 12 n. 3 (2014); 439-464Scientiae Studia; Vol. 12 Núm. 3 (2014); 439-464Scientiae Studia; Vol. 12 No. 3 (2014); 439-4642316-89941678-3166reponame:Scientiae Studia (Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/ss/article/view/98179/96996Copyright (c) 2015 Scientiae Studiainfo:eu-repo/semantics/openAccessSimanke, Richard Theisen2015-05-14T16:55:08Zoai:revistas.usp.br:article/98179Revistahttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1678-3166&lng=pt&nrm=isoPUBhttps://www.revistas.usp.br/ss/oaiariconda@usp.br2316-89941678-3166opendoar:2015-05-14T16:55:08Scientiae Studia (Online) - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
Freud's Trieb as instinct 2: aggression and self-destructiveness
title O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
spellingShingle O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
Simanke, Richard Theisen
title_short O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
title_full O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
title_fullStr O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
title_full_unstemmed O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
title_sort O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade
author Simanke, Richard Theisen
author_facet Simanke, Richard Theisen
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Simanke, Richard Theisen
description O conceito freudiano de impulso ou instinto (Trieb) é reconhecidamente um dos conceitos mais fundamentais da psicanálise. No entanto, seu sentido ainda é objeto de controvérsia. Originalmente definido por Freud num sentido biológico ou quase biológico, sua recepção em muitas das diversas tradições pós-freudianas tendeu, frequentemente, a recusar essa filiação epistemológica inicial. Um dos sinais dessa reorientação doutrinária é a recusa da tradução de Trieb por "instinto" e a preferência pelo neologismo "pulsão", de origem francesa e comum na literatura psicanalítica escrita em várias das línguas neolatinas, inclusive em português. O objetivo deste artigo é criticar essa tendência. Para tanto, são examinados os principais argumentos normalmente apresentados contra uma visão biológica do Trieb freudiano, a saber: 1) a alternativa terminológica entre os termos alemães Trieb e Instinkt e o modo como estes são utilizados por Freud; 2) a crítica freudiana de uma redução da sexualidade humana à função reprodutiva; 3) o conceito de Todestrieb (instinto ou pulsão de morte) formulado por Freud por volta de 1920 e central na etapa final de seu pensamento. Procura-se argumentar que essas formulações não impedem uma interpretação biológica do conceito de Trieb. Essa interpretação, por sua vez, abre uma via de diálogo entre a psicanálise e a biologia, a qual é também enfática e explicitamente defendida por Freud. Uma série de formulações - oriundas, sobretudo, do campo da biologia evolucionária de orientação neodarwinista e da sociobiologia - são discutidas, com o intuito de argumentar pela sua compatibilidade, se não pela sua convergência, com as teses freudianas. A primeira parte deste trabalho introduziu a questão e também abordou o problema da relação entre sexualidade e reprodução na psicanálise e na biologia. Esta segunda parte está dedicada ao problema da agressividade e da autodestrutividade nessas duas áreas do conhecimento.
publishDate 2014
dc.date.none.fl_str_mv 2014-09-01
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/98179
10.1590/S1678-31662014000300003
url https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/98179
identifier_str_mv 10.1590/S1678-31662014000300003
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/ss/article/view/98179/96996
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2015 Scientiae Studia
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2015 Scientiae Studia
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
dc.source.none.fl_str_mv Scientiae Studia; v. 12 n. 3 (2014); 439-464
Scientiae Studia; Vol. 12 Núm. 3 (2014); 439-464
Scientiae Studia; Vol. 12 No. 3 (2014); 439-464
2316-8994
1678-3166
reponame:Scientiae Studia (Online)
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Scientiae Studia (Online)
collection Scientiae Studia (Online)
repository.name.fl_str_mv Scientiae Studia (Online) - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv ariconda@usp.br
_version_ 1800222737083400192