When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Souza, Luís Antônio Francisco de
Data de Publicação: 2020
Outros Autores: Serra, Carlos Henrique Aguiar
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Tempo Social (Online)
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/158668
Resumo: Pretende-se refletir sobre as mudanças recentes no cenário político e institucional do Brasil. A sociedade brasileira, historicamente, construiu uma estrutura sólida de distribuição desigual de poder e de riquezas. Em grande parte, esta estrutura só foi possível em razão de altos padrões de exploração do trabalho e de elevados níveis de desigualdade, refletidos num judiciário e numa polícia violentos e racistas. Uma das características marcantes do estado brasileiro é a militarização de suas forças policiais e a policialização de suas forças armadas. Este processo vem se acirrando nas últimas décadas. O cenário atual de militares terem assumido, pelo voto direto, o poder máximo da nação parece ser o ápice do processo de militarização, e seus efeitos ainda carecem de análise cuidadosa. A proposta deste artigo, portanto, é, fazendo uso da noção de estado de exceção de Giorgio Agamben (2004), mostrar que a militarização corresponde à normalização do militarismo, com suas consequências em termos de limitações de direitos e legitimação da violência do estado, notadamente da polícia. A base empírica para a análise é o modelo de ocupação de territórios e intervenção ostensiva no Rio de Janeiro, instaurado pela intervenção federal militar do ano de 2018. A intervenção, neste sentido, não apenas serviu de laboratório para medidas repressivas e violentas de segurança, como também foi um teste de legitimação da gestão militarizada da segurança pública, com seu componente de construção permanente de um inimigo a ser abatido, dentro da lógica da guerra e do confronto armado. Seguindo, assim, Michel Foucault (1999), a política está se convertendo, no Brasil contemporâneo, na extensão da guerra por meios altamente militarizados.
id USP-41_14385db573f54ad3246aa35170e91613
oai_identifier_str oai:revistas.usp.br:article/158668
network_acronym_str USP-41
network_name_str Tempo Social (Online)
repository_id_str
spelling When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in BrazilQuando o estado de exceção se torna permanente: reflexões sobre a militarização da segurança pública no BrasilEstado de exceçãoMilitarizaçãoPolíciaSegurança públicaIntervenção militarState of exceptionMilitarizationPolicePublic securityMilitary interventionPretende-se refletir sobre as mudanças recentes no cenário político e institucional do Brasil. A sociedade brasileira, historicamente, construiu uma estrutura sólida de distribuição desigual de poder e de riquezas. Em grande parte, esta estrutura só foi possível em razão de altos padrões de exploração do trabalho e de elevados níveis de desigualdade, refletidos num judiciário e numa polícia violentos e racistas. Uma das características marcantes do estado brasileiro é a militarização de suas forças policiais e a policialização de suas forças armadas. Este processo vem se acirrando nas últimas décadas. O cenário atual de militares terem assumido, pelo voto direto, o poder máximo da nação parece ser o ápice do processo de militarização, e seus efeitos ainda carecem de análise cuidadosa. A proposta deste artigo, portanto, é, fazendo uso da noção de estado de exceção de Giorgio Agamben (2004), mostrar que a militarização corresponde à normalização do militarismo, com suas consequências em termos de limitações de direitos e legitimação da violência do estado, notadamente da polícia. A base empírica para a análise é o modelo de ocupação de territórios e intervenção ostensiva no Rio de Janeiro, instaurado pela intervenção federal militar do ano de 2018. A intervenção, neste sentido, não apenas serviu de laboratório para medidas repressivas e violentas de segurança, como também foi um teste de legitimação da gestão militarizada da segurança pública, com seu componente de construção permanente de um inimigo a ser abatido, dentro da lógica da guerra e do confronto armado. Seguindo, assim, Michel Foucault (1999), a política está se convertendo, no Brasil contemporâneo, na extensão da guerra por meios altamente militarizados.It is intended to reflect on the recent changes in the political and institutional scenario of Brazil. Brazilian society has historically built a solid structure of unequal distribution of power and wealth. To a large extent, this structure was only possible because of high standards of labor exploitation and high levels of inequality, reflected in a violent and racist judiciary and police. One of the hallmarks of the Brazilian state is the militarization of its police forces and the police force of its armed forces. This process has been raging in recent decades. The current military scenario assuming, by direct vote, the maximum power of the nation seems to be the apex of the militarization process and its effects still require careful analysis. The proposal of the communication, therefore, using Giorgio Agamben’s (2004) notion of state of exception, shows that militarization corresponds to the normalization of militarism, with its consequences in terms of limitations of rights and legitimation of state violence, notably the police. The empirical basis for the analysis is the model of occupation of territories and ostensive intervention in Rio de Janeiro, established by the federal military intervention of the year 2018. The intervention, in this sense, not only served as a laboratory for repressive and violent measures of security, but also a test of legitimization of the militarized management of public security, with its component of permanent construction of an enemy to be shot down, within the logic of war and armed confrontation. Following Michel Foucault (1999), politics is becoming, in contemporary Brazil, the extension of war by highly militarized means.Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas2020-08-05info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/ts/article/view/15866810.11606/0103-2070.ts.2020.158668Tempo Social; Vol. 32 No. 2 (2020); 205-227Tempo Social; v. 32 n. 2 (2020); 205-227Tempo Social; Vol. 32 Núm. 2 (2020); 205-2271809-45540103-2070reponame:Tempo Social (Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/ts/article/view/158668/162357Copyright (c) 2020 Tempo Socialhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessSouza, Luís Antônio Francisco deSerra, Carlos Henrique Aguiar2023-04-26T15:27:54Zoai:revistas.usp.br:article/158668Revistahttps://www.revistas.usp.br/ts/indexPUBhttps://old.scielo.br/oai/scielo-oai.phptemposoc@edu.usp.br1809-45540103-2070opendoar:2023-04-26T15:27:54Tempo Social (Online) - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil
Quando o estado de exceção se torna permanente: reflexões sobre a militarização da segurança pública no Brasil
title When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil
spellingShingle When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil
Souza, Luís Antônio Francisco de
Estado de exceção
Militarização
Polícia
Segurança pública
Intervenção militar
State of exception
Militarization
Police
Public security
Military intervention
title_short When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil
title_full When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil
title_fullStr When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil
title_full_unstemmed When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil
title_sort When the state of exception becomes permanent: Insights on public safety militarization in Brazil
author Souza, Luís Antônio Francisco de
author_facet Souza, Luís Antônio Francisco de
Serra, Carlos Henrique Aguiar
author_role author
author2 Serra, Carlos Henrique Aguiar
author2_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Souza, Luís Antônio Francisco de
Serra, Carlos Henrique Aguiar
dc.subject.por.fl_str_mv Estado de exceção
Militarização
Polícia
Segurança pública
Intervenção militar
State of exception
Militarization
Police
Public security
Military intervention
topic Estado de exceção
Militarização
Polícia
Segurança pública
Intervenção militar
State of exception
Militarization
Police
Public security
Military intervention
description Pretende-se refletir sobre as mudanças recentes no cenário político e institucional do Brasil. A sociedade brasileira, historicamente, construiu uma estrutura sólida de distribuição desigual de poder e de riquezas. Em grande parte, esta estrutura só foi possível em razão de altos padrões de exploração do trabalho e de elevados níveis de desigualdade, refletidos num judiciário e numa polícia violentos e racistas. Uma das características marcantes do estado brasileiro é a militarização de suas forças policiais e a policialização de suas forças armadas. Este processo vem se acirrando nas últimas décadas. O cenário atual de militares terem assumido, pelo voto direto, o poder máximo da nação parece ser o ápice do processo de militarização, e seus efeitos ainda carecem de análise cuidadosa. A proposta deste artigo, portanto, é, fazendo uso da noção de estado de exceção de Giorgio Agamben (2004), mostrar que a militarização corresponde à normalização do militarismo, com suas consequências em termos de limitações de direitos e legitimação da violência do estado, notadamente da polícia. A base empírica para a análise é o modelo de ocupação de territórios e intervenção ostensiva no Rio de Janeiro, instaurado pela intervenção federal militar do ano de 2018. A intervenção, neste sentido, não apenas serviu de laboratório para medidas repressivas e violentas de segurança, como também foi um teste de legitimação da gestão militarizada da segurança pública, com seu componente de construção permanente de um inimigo a ser abatido, dentro da lógica da guerra e do confronto armado. Seguindo, assim, Michel Foucault (1999), a política está se convertendo, no Brasil contemporâneo, na extensão da guerra por meios altamente militarizados.
publishDate 2020
dc.date.none.fl_str_mv 2020-08-05
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/158668
10.11606/0103-2070.ts.2020.158668
url https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/158668
identifier_str_mv 10.11606/0103-2070.ts.2020.158668
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/158668/162357
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2020 Tempo Social
http://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2020 Tempo Social
http://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
dc.source.none.fl_str_mv Tempo Social; Vol. 32 No. 2 (2020); 205-227
Tempo Social; v. 32 n. 2 (2020); 205-227
Tempo Social; Vol. 32 Núm. 2 (2020); 205-227
1809-4554
0103-2070
reponame:Tempo Social (Online)
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Tempo Social (Online)
collection Tempo Social (Online)
repository.name.fl_str_mv Tempo Social (Online) - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv temposoc@edu.usp.br
_version_ 1800221916978479104