Orações relativas em karitiana: um estudo experimental

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Vivanco, Karin Camolese
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-08102014-172847/
Resumo: Essa dissertação pretende esclarecer o estatuto das orações relativas do karitiana (tupi- Arikém). Orações relativas podem ser classificadas como relativas de núcleo externo (RNE) e de núcleo interno (RNI), sendo o principal critério de diferenciação a posição do núcleo em relação à relativa: relativas com o núcleo adjacente à oração subordinada são classificadas como RNEs, enquanto aquelas com o núcleo interno à subordinada são RNIs (DE VRIES, 2006, CULY, 1990). Outro critério utilizado é a marcação de caso: se o núcleo estiver marcado com o caso exigido pelo verbo da matriz, a relativa será uma RNE; se for aquele exigido pelo verbo da relativa, ela será uma RNI (COLE, 1987). Dentro desse quadro, as orações do karitiana são difíceis de classificar: por um lado, o núcleo aparece sempre deslocado para a periferia esquerda (STORTO, 1999), algo característico de RNEs; por outro, a marcação de caso no núcleo segue o padrão de RNIs. À luz do trabalho de Basilico (1996), hipotetizamos que as relativas do karitiana seriam RNIs com frontalização opcional do núcleo. Se for o caso, é esperado que relativas com núcleos não frontalizados sejam permitidas. Montamos então um experimento para verificar se as relativas poderiam ter seus núcleos não frontalizados e testamos 14 falantes com uma metodologia de produção elicitada. Os resultados mostram que, embora haja uma tendência pela frontalização, núcleos não frontalizados são permitidos na língua, pois há casos de relativas de sujeito com a ordem OSV e de relativas de objeto SOtiV, OSV e SOV. Também foram produzidas relativas de objeto sem o morfema de foco do objeto , indicando que ele não é imprescindível para a relativização. Esse quadro aproxima nossas relativas das RNIs, pois RNEs não podem ter núcleos em outras posições além da periferia da oração relativa. Também analisamos propostas de análise sintática para as diversas ordens de palavras coletadas em nosso experimento. Vemos que aquelas que assumem algum tipo de deslocamento do núcleo para Spec de uma projeção de periferia seja CP ou AspP incorrem em diversos problemas, como a impossibilidade de derivar relativas de objeto SOtiV e a incapacidade de excluir estruturas agramaticais com advérbios. Assim, propomos que a frontalização do núcleo é uma adjunção a AspP. Dados de orações relativas com advérbios nos levam ainda a postular que, em relativas de objeto, a frontalização do núcleo ocorre em duas etapas: primeiro um movimento para Spec, vP e, em seguida, a frontalização para uma posição de adjunto de AspP. Essa primeira etapa do movimento seria marcada pela presença de em v e estaria na base do sincretismo desse morfema, que também está presente em perguntas qu- de objeto e em construções de foco do objeto. Por fim, oferecemos ainda uma análise da correlação entre a presença do morfema e a frontalização do objeto a partir do modelo de fases de Chomsky (2000, 2001), admitindo que o movimento do objeto para a borda do sintagma verbal seria uma operação sintática imprescindível para a subsequente frontalização do objeto
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Dentro desse quadro, as orações do karitiana são difíceis de classificar: por um lado, o núcleo aparece sempre deslocado para a periferia esquerda (STORTO, 1999), algo característico de RNEs; por outro, a marcação de caso no núcleo segue o padrão de RNIs. À luz do trabalho de Basilico (1996), hipotetizamos que as relativas do karitiana seriam RNIs com frontalização opcional do núcleo. Se for o caso, é esperado que relativas com núcleos não frontalizados sejam permitidas. Montamos então um experimento para verificar se as relativas poderiam ter seus núcleos não frontalizados e testamos 14 falantes com uma metodologia de produção elicitada. Os resultados mostram que, embora haja uma tendência pela frontalização, núcleos não frontalizados são permitidos na língua, pois há casos de relativas de sujeito com a ordem OSV e de relativas de objeto SOtiV, OSV e SOV. Também foram produzidas relativas de objeto sem o morfema de foco do objeto , indicando que ele não é imprescindível para a relativização. Esse quadro aproxima nossas relativas das RNIs, pois RNEs não podem ter núcleos em outras posições além da periferia da oração relativa. Também analisamos propostas de análise sintática para as diversas ordens de palavras coletadas em nosso experimento. Vemos que aquelas que assumem algum tipo de deslocamento do núcleo para Spec de uma projeção de periferia seja CP ou AspP incorrem em diversos problemas, como a impossibilidade de derivar relativas de objeto SOtiV e a incapacidade de excluir estruturas agramaticais com advérbios. Assim, propomos que a frontalização do núcleo é uma adjunção a AspP. Dados de orações relativas com advérbios nos levam ainda a postular que, em relativas de objeto, a frontalização do núcleo ocorre em duas etapas: primeiro um movimento para Spec, vP e, em seguida, a frontalização para uma posição de adjunto de AspP. Essa primeira etapa do movimento seria marcada pela presença de em v e estaria na base do sincretismo desse morfema, que também está presente em perguntas qu- de objeto e em construções de foco do objeto. Por fim, oferecemos ainda uma análise da correlação entre a presença do morfema e a frontalização do objeto a partir do modelo de fases de Chomsky (2000, 2001), admitindo que o movimento do objeto para a borda do sintagma verbal seria uma operação sintática imprescindível para a subsequente frontalização do objetoThis dissertation aims to clarify the status of relative clauses in Karitiana (Tupi-Arikém). Relative clauses are traditionally classified as externally (EHRC) or internally-headed (IHRC) and the main criterion for their differentiation is the heads position: EHRCs have their heads adjacent to the relative clause itself, whereas IHRCs have internal heads (DE VRIES, 2006, CULY, 1990). Another criterion is case-marking: if the head is marked with the case demanded by the matrix verb, the relative is an EHRC; if it is the one demanded by the embedded verb, it will be an IHRC (COLE, 1987). Within this framework, karitiana relative clauses are hard to classify: on one hand, the head always appears fronted to the left periphery (STORTO, 1999), which resembles the pattern found in EHRCS; on the other hand, the case-marking on the head is similar to IHRCs. In the light of Basilicos (1996) work, one can hypothesize that karitiana relative clauses are IHRCs with optional head frontalization. In this case, it is expected that relatives with non-fronted heads will be allowed in the language. An experiment was designed in order to verify if karitiana relatives could have non-fronted heads and 14 speakers were tested with an elicited production methodology. The results show that, although there is a preference for frontalization, non-fronted heads are possible in the language, since subject relatives OSV and object relatives SOtiV, OSV and SOV were produced. There are also cases of object relatives without the object focus morpheme , indicating that it is not indispensable in relative clause formation. These results bring karitiana relatives closer to IHRCs, because EHRCs cannot have their heads in any other positions than in the periphery of the clause. We also discuss some syntactic proposals for the word orders found in our experiment, claiming that those which assume head dislocation to Spec of CP and AspP face some problems, such as the derivation of SOtiV object relatives and ungrammatical structures with adverbs. Therefore, our proposal is that the frontalization of the head is an adjunction to AspP. Paradigms of relative clauses with adverbs also show that, in object relatives, the frontalization of the head occurs in two steps: first the head moves to Spec, vP and then it is further fronted to the position of adjunct of Spec, AspP. The first step is marked with on v and it underlies the syncretism of this morpheme, which is also present in object wh- questions and object focus constructions. Finally, the correlation between and the frontalization of the head is analyzed within the phase theory framework (CHOMSKY, 2000, 2001) and it is assumed that object movement to vPs edge is a syntactic requirement for further frontalizationBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPStorto, Luciana RaccanelloVivanco, Karin Camolese2014-06-06info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-08102014-172847/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:55Zoai:teses.usp.br:tde-08102014-172847Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:55Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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