A cultura vem a pé: práticas espaciais na Alta Amazônia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Brugnara, Gisela de Andrade
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/tde-18092018-160642/
Resumo: O trabalho investiga práticas culturais da floresta na produção de espaços diferenciados na cidade e na configuração da paisagem urbana, no contexto contemporâneo de hibridismo altamente complexo da Amazônia Sul-Ocidental brasileira. Dos movimentos de recuo das populações originais ao avanço de reconquista territorial, lastreado por um tipo não aparente de expansionismo cultural por entre o universo da mestiçagem cabocla, observa-se a extensão sutil e contínua das territorialidades nativas na região de florestas de cabeceiras em que se desenhou o Acre no mapa do Brasil. A fase atual é aquela em que essa dinâmica vem alcançada pela cidade, gerando novos conflitos mas também impensadas possibilidades. Parte-se do estudo sobre a formação de um lugar de tradição comunitária, ayahuasqueira e agroflorestal, o Alto Santo, fundado em uma antiga colocação de seringa, hoje delimitando a vila Irineu Serra e uma Área de Proteção Ambiental nas bordas de Rio Branco. Lugar característico do lento Brasil caboclo com forte influência ameríndia no modo de viver e pensar de sua população, vem agora a ser sobreposto pelos movimentos acelerados da urbanização corporativa e do empreendedorismo urbano. As tensões que emergem desse novo encontro reiteram a constatação de que, na Amazônia, o pensamento oficial sobre a cidade não é amazônico. Sustenta-se, entretanto, a hipótese de que floresta e cidade não são incompatíveis, desde que a leitura da cidade englobe o que se denomina por relativismo urbano. E ainda, que a cultura da floresta tem papel preponderante na manutenção de tal compatibilidade, dado que imprime nessa relação a diversidade como um valor. Um novo padrão observado de uso e ocupação, a multilocalidade, herdeira do nomadismo constitutivo das práticas espaciais das populações amazônicas, vem perturbar o clássico dualismo rural/ urbano caracterizando-se mais como um padrão integrador, criador de territórios interculturais, paisagens híbridas e cidades nômades, manchas de diferenciação limitadoras à homogeneização do território. São os lugares balizadores. Lugares de resistência a partir dos quais desenha-se um novo movimento, um novo espaço de fluxos, uma nova contraracionalidade que expande sua presença e aumenta a esfera de preservação da Amazônia, a grande casa da unidade primordial.
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Parte-se do estudo sobre a formação de um lugar de tradição comunitária, ayahuasqueira e agroflorestal, o Alto Santo, fundado em uma antiga colocação de seringa, hoje delimitando a vila Irineu Serra e uma Área de Proteção Ambiental nas bordas de Rio Branco. Lugar característico do lento Brasil caboclo com forte influência ameríndia no modo de viver e pensar de sua população, vem agora a ser sobreposto pelos movimentos acelerados da urbanização corporativa e do empreendedorismo urbano. As tensões que emergem desse novo encontro reiteram a constatação de que, na Amazônia, o pensamento oficial sobre a cidade não é amazônico. Sustenta-se, entretanto, a hipótese de que floresta e cidade não são incompatíveis, desde que a leitura da cidade englobe o que se denomina por relativismo urbano. E ainda, que a cultura da floresta tem papel preponderante na manutenção de tal compatibilidade, dado que imprime nessa relação a diversidade como um valor. Um novo padrão observado de uso e ocupação, a multilocalidade, herdeira do nomadismo constitutivo das práticas espaciais das populações amazônicas, vem perturbar o clássico dualismo rural/ urbano caracterizando-se mais como um padrão integrador, criador de territórios interculturais, paisagens híbridas e cidades nômades, manchas de diferenciação limitadoras à homogeneização do território. São os lugares balizadores. Lugares de resistência a partir dos quais desenha-se um novo movimento, um novo espaço de fluxos, uma nova contraracionalidade que expande sua presença e aumenta a esfera de preservação da Amazônia, a grande casa da unidade primordial.This work investigates the role of forest culture in differentiated space production upon cities and urban landscapes, in the context of the contemporary Brazilian Upper Amazon\'s highly complex hybridism. From the original population\'s backwards movements to the forward territory reconquering, sustained by a non visible kind of cultural expansionism into the mixed caboclo universe, it sees the continuous and discrete extension of native territorialities throughout the region of upper forests where Acre has been drawn on Brazil\'s map. Now, we are seeing these dynamics encounter the expansion of the city, creating new conflicts but also unthinkable possibilities. We start here with the study of a local region in the urban frontier of Rio Branco; a place of tradition in community living, ayahuasca culture and agroforest practices, founded in an old rubber production unity, which nowadays borders Irineu Serra Village and an Environmental Protection Área. Characterized by Brazilian caboclo\'s slow way of life and strong Amerindian influence on living and thinking, the village has become overtaken by highspeed movements of corporate urbanization and urban entrepreneurship. Tensions created by this new kind of meeting reaffirm the fact that, in the Amazon, official conceptions about cities are not Amazonian ones. However, we sustain the hypothesis that forest and city are not incompatible, conditioned by an interpretation of the city that embodies what we call urban relativism. And furthermore, that forest culture has a predominant role in maintaining compatibility, since it includes the value of diversity itself. A newly observed pattern of space use and occupation, the multilocality, is inherited from the characteristic nomadism of Amazonian populations. This transforms the classical dualism between rural and urban domains into a more integrative pattern, creating intercultural territories, hybrid landscapes and nomad cities, and restricting the tendency of a territory to homogenize. These are called moderator places. Places of cultural resistance, from where a new movement is being drawn, a new flow space, another rationality that expands its presence and increases the preservation field of the Amazon, the huge home of primordial unity.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPLeite, Maria Angela Faggin PereiraBrugnara, Gisela de Andrade2018-05-11info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/tde-18092018-160642/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2019-04-10T00:06:19Zoai:teses.usp.br:tde-18092018-160642Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212019-04-10T00:06:19Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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