(Contra)públicos das artes visuais em tempos de guerras culturais: leituras da recepção detratora via práticas documentárias

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Diogo de Moraes
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/93/93131/tde-27112023-194058/
Resumo: Esta tese coloca em movimento um projeto compreensivo do fenômeno que se acirrou e se avolumou em setembro de 2017, no Brasil, envolvendo campanhas de abominação a exposições de arte contemporânea tocadas por setores civis e políticos identificados com o reacionarismo. Pelo viés da mediação cultural, busca-se fazer dos ataques à mostra \"Queermuseu\" (2017) uma oportunidade, reversa e retroativa, de indagar as disciplinas artísticas a respeito da ausência crônica, nos relatos críticos e historiográficos da arte dos séculos XX e XXI, dos atos de recepção deslocados dos vislumbres dos artistas, a despeito da existência pública da arte implicar formas discrepantes de relacionamento com seus exemplares. Da leitura a contrapelo da história recente das artes visuais e das políticas de vulgarização do acesso aos bens artístico-visuais, com foco nos papéis atribuídos às audiências, surge a necessidade de vinculação do estudo com disciplinas e procedimentos das ciências sociais, com vistas à manobra epistemológica de \"giro ao receptor\" de que fala Canclini (2016) desde a antropologia, e à correlata constituição de categorias de recepção não restritas aos programas e às expectativas da arte. Assim, as noções de \"público discursivo\" e \"contrapúblico\", conforme suas formulações por Warner (2005) no âmbito dos estudos culturais, servem de calço conceitual para o discernimento das atividades próprias ao campo receptivo, o mesmo sendo válido para os \"regimes axiológicos\" trabalhados por Heinich (2011), via sociologia da arte, em atenção ao leque de valores heterônomos acionados pelos segmentos não especializados em seu contato com a arte. São esses marcos teóricos, no que permitem flagrar da performatividade inerente ao ato de se fazer público das discursividades artísticas, que embasam o trabalho empírico com um arquivo alternativo dos modos, abertamente excêntricos, com que parcelas da audiência atendem e respondem à arte. O Arquivo Mediação Documentária representa o corpus a partir do qual se ensaia uma abordagem etnográfica e descritiva do problema da recepção artística \"fora do lugar\", comprometida com a decupagem analítica das formas de proceder e enunciar daqueles que, na aproximação circunstancial com a arte contemporânea, não só a estranham, como também a desafiam. Daí o anedotário das formas muitas vezes bizarras de recepção da arte, relegado às margens das narrativas especializadas desse domínio que se pretende autônomo, tomar a cena e, por conseguinte, adquirir centralidade na presente discussão. Anedotário públicos dos públicos é a coleção de uma centena de causos que subsidia, mediante tipologia dele derivada, a incursão em dois casos de estudo, antepondo ao \"caso Queermuseu\" a situação de regulação etária imposta a obras da 31ª Bienal de São Paulo (2014), após mobilização de um grupo ultrarreligioso. Esses casos são acompanhados de perto com o auxílio dos tipos-lentes decantados da coletânea e, ainda, com base no enquadramento sugerido pelas \"guerras culturais\", em sua conceituação por Hunter (1991). Às contribuições do sociólogo da religião, agregam-se as sacudidas pós-críticas do sociólogo das associações, Latour (2012), para quem as controvérsias, em vez de serem disciplinadas, devem ser desdobradas, como recomendado pela Teoria Ator-Rede. Escrito de uma formiga para outras formigas, o texto a seguir se aventura por essas sendas.
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Pelo viés da mediação cultural, busca-se fazer dos ataques à mostra \"Queermuseu\" (2017) uma oportunidade, reversa e retroativa, de indagar as disciplinas artísticas a respeito da ausência crônica, nos relatos críticos e historiográficos da arte dos séculos XX e XXI, dos atos de recepção deslocados dos vislumbres dos artistas, a despeito da existência pública da arte implicar formas discrepantes de relacionamento com seus exemplares. Da leitura a contrapelo da história recente das artes visuais e das políticas de vulgarização do acesso aos bens artístico-visuais, com foco nos papéis atribuídos às audiências, surge a necessidade de vinculação do estudo com disciplinas e procedimentos das ciências sociais, com vistas à manobra epistemológica de \"giro ao receptor\" de que fala Canclini (2016) desde a antropologia, e à correlata constituição de categorias de recepção não restritas aos programas e às expectativas da arte. Assim, as noções de \"público discursivo\" e \"contrapúblico\", conforme suas formulações por Warner (2005) no âmbito dos estudos culturais, servem de calço conceitual para o discernimento das atividades próprias ao campo receptivo, o mesmo sendo válido para os \"regimes axiológicos\" trabalhados por Heinich (2011), via sociologia da arte, em atenção ao leque de valores heterônomos acionados pelos segmentos não especializados em seu contato com a arte. São esses marcos teóricos, no que permitem flagrar da performatividade inerente ao ato de se fazer público das discursividades artísticas, que embasam o trabalho empírico com um arquivo alternativo dos modos, abertamente excêntricos, com que parcelas da audiência atendem e respondem à arte. O Arquivo Mediação Documentária representa o corpus a partir do qual se ensaia uma abordagem etnográfica e descritiva do problema da recepção artística \"fora do lugar\", comprometida com a decupagem analítica das formas de proceder e enunciar daqueles que, na aproximação circunstancial com a arte contemporânea, não só a estranham, como também a desafiam. Daí o anedotário das formas muitas vezes bizarras de recepção da arte, relegado às margens das narrativas especializadas desse domínio que se pretende autônomo, tomar a cena e, por conseguinte, adquirir centralidade na presente discussão. Anedotário públicos dos públicos é a coleção de uma centena de causos que subsidia, mediante tipologia dele derivada, a incursão em dois casos de estudo, antepondo ao \"caso Queermuseu\" a situação de regulação etária imposta a obras da 31ª Bienal de São Paulo (2014), após mobilização de um grupo ultrarreligioso. Esses casos são acompanhados de perto com o auxílio dos tipos-lentes decantados da coletânea e, ainda, com base no enquadramento sugerido pelas \"guerras culturais\", em sua conceituação por Hunter (1991). Às contribuições do sociólogo da religião, agregam-se as sacudidas pós-críticas do sociólogo das associações, Latour (2012), para quem as controvérsias, em vez de serem disciplinadas, devem ser desdobradas, como recomendado pela Teoria Ator-Rede. Escrito de uma formiga para outras formigas, o texto a seguir se aventura por essas sendas.This thesis sets in motion a comprehensive project of the phenomenon that intensified and increased in September 2017, in Brazil, involving abomination campaigns to contemporary art exhibitions touched by civil and reactionary political sectors. Through the bias of Cultural Mediation, the intention is to use the attacks on the exhibition \"Queermuseum\" (2017) as a reverse and retroactive opportunity to question the artistic disciplines about the chronic absence, in the critical and historiographical accounts of the Art of the 20th and 21st centuries, of acts of reception displaced from the glimpses of artists, despite the public existence of art implying discrepant forms of relationship with its exemplars. From reading against the grain of the recent history of the Visual Arts and the policies to popularize access to artistic-visual assets, focusing on the roles assigned to the public, there is a need to link the study with disciplines and procedures of the Social Sciences, with a view to the epistemological maneuver of \"turning to the receiver\" of which Canclini (2016) talks about from Anthropology, and to the correlated constitution of categories of reception not restricted to the programs and expectations of Art. Thus, the notions of \"discursive public\" and \"counterpublic\", according to its formulations by Warner (2005) within the scope of cultural studies, serve as a conceptual underpinning for the discernment of the activities specific to the receptive field, the same being valid for the \"axiological regimes\" worked by Heinich (2011), via Art Sociology, in attention to the range of heteronomous values triggered by non-specialized segments in their contact with Art. These theoretical frameworks, which allow us to capture the performativity inherent in the act of making artistic discursivities public, rely upon the empirical work with an alternative archive of the openly eccentric ways in which segments of the audiences attend and respond to art. The Documentary Mediation Archive represents the corpus from which an ethnographic and descriptive approach to the problem of \"out of place\" artistic reception is assessed, committed to the analytical decoupage of the ways of proceeding and enunciating those who, in the circumstantial approach to contemporary art, not only find it strange, but also challenge it. Hence the anecdote of the often bizarre forms of reception of art, relegated to the margins of the specialized narratives of this domain that is intended to be autonomous, taking center stage and consequently acquiring centrality in the present discussion. Public anecdotes of publics is the collection of a hundred stories that subsidizes, through a typology derived from it, the incursion into two case studies, placing before the \"Queermuseum case\" the situation of age regulation imposed on the works of the 31st São Paulo Biennial (2014), after the mobilization of an ultra-religious group. These cases are closely monitored with the aid of the types-lenses decanted from the collection and, also, based on the framework suggested by the \"culture wars,\" as conceptualized by Hunter (1991). To the contributions of the Religion sociologist are added the post-critical jolts of the sociologist of associations, Latour (2012), for whom controversies, instead of being disciplined, should be unfolded, as recommended by the Actor-Network Theory. Written by an ant for other ants, the following text ventures along these pathways.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPAranha, Carmen Sylvia GuimaraesSilva, Diogo de Moraes2023-10-20info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/93/93131/tde-27112023-194058/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-11-27T22:11:02Zoai:teses.usp.br:tde-27112023-194058Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-11-27T22:11:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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