Perfil profissional, discurso e prática de enfermeiras graduadas na UNICAMP

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marcia Regina Nozawa
Data de Publicação: 1997
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/T.6.2020.tde-10052019-174403
Resumo: Situando-se no espaço de interseção da formação e da prática profissional, desenvolveu-se uma pesquisa de natureza qualitativa e de caráter exploratório, na qual se procurou caracterizar o perfil profissional de enfermeiras graduadas no Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas, no período de 1981 a 1993. Realizou-se, por meio dessa caracterização, a seleção de sujeitos cujos discursos foram analisados e possibilitaram a compreensão da prática de enfermagem, a partir da exploração de alguns eixos temáticos, tais como: processo de escolha e realização profissional; concepção de saúde-doença; saúde e trabalho na enfermagem; formação e prática profissional. O dispositivo analítico empregado filia-se à escola francesa de Análise de Discurso cujo quadro epistemológico apresenta-se na articulação do materialismo histórico, como teoria das formações sociais e suas transformações; a lingüística, como teoria dos mecanismos sintáticos e de enunciação; a teoria do discurso, como teoria da determinação histórica dos processos de constituição dos sentidos. A caracterização geral permitiu identificar que se trata de uma população predominantemente composta de profissionais do sexo feminino, jovens, casadas e que ingressaram no Curso de Graduação sem experiência anterior em enfermagem. A grande maioria, cerca de 97%, assumiu atividade profissional após a formação e apenas 10% não exerciam a profissão no momento de realização da pesquisa. A maior parte trabalhava em serviços públicos de saúde situados no Estado de São Paulo, com predomínio no Município de Campinas. Aproximadamente 50% se concentrava em serviços hospitalares e 18% em rede básica de saúde. Entre as enfermeiras empregadas, 42% ocupavam funções administrativas e 38% se dedicavam a atividades assistenciais. A remuneração média correspondeu a 13 salários mínimos e a jornada de trabalho mais freqüente foi de 40 horas semanais. O vínculo duplo de trabalho foi indicado por 17% da população estudada e promoveu um acréscimo médio de 25 horas semanais de trabalho e 6 salários mínimos. Em relação ao processo de aperfeiçoamento profissional, perto de 50% indicou ter realizado especialização, aprimoramento ou habilitação. Cerca de 70% indicou identificação com a prática realizada e, ao mesmo tempo, referiu insatisfação diante das condições de trabalho na enfermagem. A despeito disso, observou-se uma adesão crescente e favorável à profissão até os nove anos de atividade. A análise da singularidade no uso da linguagem possibilitou identificar certas regularidades no funcionamento do discurso de enfermagem. Em relação ao processo de inserção na enfermagem predominou o sentido de ausência de escolha. O sentido dominante de realização profissional situou-se no âmbito da gratificação pessoal. No tocante ao cuidado com à própria saúde, os sentidos foram múltiplos e as práticas orientaram-se em várias direções, entretanto, houve o predomínio de uma prática de autocuidado incoerente com aquela destinada aos pacientes/clientes. Para estes, a prática desenvolvida se remetia tanto à valorização da doença quanto das relações interpessoais circunscritas aos limites do indivíduo. De forma também dominante, a relação entre saúde e trabalho não se apresenta explicitamente no discurso. Diante dos conflitos identificados no exercício da profissão, os sujeitos se posicionam preponderantemente de duas formas: implementando medidas orientadas por uma visão superficial que naturaliza as diferenças e resultam em práticas que não transformam a realidade ou absorvendo os conflitos e buscando estratégias individuais de resistência. No plano do discurso, a relação explícita entre formação e prática é raramente indicada. No entanto, as marcas na construção do discurso evidenciam que a própria prática dos sujeitos representa e é indicativa do modo de ensinar enfermagem.
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spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesis Perfil profissional, discurso e prática de enfermeiras graduadas na UNICAMP Not available 1997-08-15Néia SchorNilce Piva AdamiKeiko Ogura BuralliDebora Isane Ratner KirschbaumLilia Bueno de MagalhãesMarcia Regina NozawaUniversidade de São PauloSaúde PúblicaUSPBR Enfermagem Not available Situando-se no espaço de interseção da formação e da prática profissional, desenvolveu-se uma pesquisa de natureza qualitativa e de caráter exploratório, na qual se procurou caracterizar o perfil profissional de enfermeiras graduadas no Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas, no período de 1981 a 1993. Realizou-se, por meio dessa caracterização, a seleção de sujeitos cujos discursos foram analisados e possibilitaram a compreensão da prática de enfermagem, a partir da exploração de alguns eixos temáticos, tais como: processo de escolha e realização profissional; concepção de saúde-doença; saúde e trabalho na enfermagem; formação e prática profissional. O dispositivo analítico empregado filia-se à escola francesa de Análise de Discurso cujo quadro epistemológico apresenta-se na articulação do materialismo histórico, como teoria das formações sociais e suas transformações; a lingüística, como teoria dos mecanismos sintáticos e de enunciação; a teoria do discurso, como teoria da determinação histórica dos processos de constituição dos sentidos. A caracterização geral permitiu identificar que se trata de uma população predominantemente composta de profissionais do sexo feminino, jovens, casadas e que ingressaram no Curso de Graduação sem experiência anterior em enfermagem. A grande maioria, cerca de 97%, assumiu atividade profissional após a formação e apenas 10% não exerciam a profissão no momento de realização da pesquisa. A maior parte trabalhava em serviços públicos de saúde situados no Estado de São Paulo, com predomínio no Município de Campinas. Aproximadamente 50% se concentrava em serviços hospitalares e 18% em rede básica de saúde. Entre as enfermeiras empregadas, 42% ocupavam funções administrativas e 38% se dedicavam a atividades assistenciais. A remuneração média correspondeu a 13 salários mínimos e a jornada de trabalho mais freqüente foi de 40 horas semanais. O vínculo duplo de trabalho foi indicado por 17% da população estudada e promoveu um acréscimo médio de 25 horas semanais de trabalho e 6 salários mínimos. Em relação ao processo de aperfeiçoamento profissional, perto de 50% indicou ter realizado especialização, aprimoramento ou habilitação. Cerca de 70% indicou identificação com a prática realizada e, ao mesmo tempo, referiu insatisfação diante das condições de trabalho na enfermagem. A despeito disso, observou-se uma adesão crescente e favorável à profissão até os nove anos de atividade. A análise da singularidade no uso da linguagem possibilitou identificar certas regularidades no funcionamento do discurso de enfermagem. Em relação ao processo de inserção na enfermagem predominou o sentido de ausência de escolha. O sentido dominante de realização profissional situou-se no âmbito da gratificação pessoal. No tocante ao cuidado com à própria saúde, os sentidos foram múltiplos e as práticas orientaram-se em várias direções, entretanto, houve o predomínio de uma prática de autocuidado incoerente com aquela destinada aos pacientes/clientes. Para estes, a prática desenvolvida se remetia tanto à valorização da doença quanto das relações interpessoais circunscritas aos limites do indivíduo. De forma também dominante, a relação entre saúde e trabalho não se apresenta explicitamente no discurso. Diante dos conflitos identificados no exercício da profissão, os sujeitos se posicionam preponderantemente de duas formas: implementando medidas orientadas por uma visão superficial que naturaliza as diferenças e resultam em práticas que não transformam a realidade ou absorvendo os conflitos e buscando estratégias individuais de resistência. No plano do discurso, a relação explícita entre formação e prática é raramente indicada. No entanto, as marcas na construção do discurso evidenciam que a própria prática dos sujeitos representa e é indicativa do modo de ensinar enfermagem. In the intersection of professional education and practice, qualitative research of an exploratory nature was carried out, where a professional profile was drawn of the nurses which graduated from the School of Nursing of the State University of Campinas from 1981 to 1993. Through these characteristics, the subjects of this thesis were selected. The comprehension of the nursing practice was made possible through the analysis of their discourse, based on the investigation of some thematic lines, such as: process of professional choice and professional fulfilment; concept of health-sickness; health and labor in nursing; professional education and practice. The analytical method employed is from the French school of Discourse Analysis, whose epistemological aspects are a result of the articulation of: historic materialism, as the theory of social compositions and their transformations; linguistics, as the theory of the syntactic and enunciation mechanisms; and the discourse theory, as the theory of historical determination of the process of development of the significances. The general characterization identified a population predominantly composed by young, female and married professionals who entered the undergraduate course without previous experience in nursing. The majority, about 97%, began professional activities after the conclusion of the course and only 10% were not practising nursing at the time this research was carried out. The majority worked in public health services situated in the State of São Paulo, predominantly in the Campinas municipality. Approximately 50% were concentrated in hospitals and 18% in orimarv health care services. Of the nurses employed, 42% occupied administrative posts and 38% were involved with direct patient care. The average salary corresponded to 13 minimum wages and the most frequent working hours were 40 hours per week. A second job was taken on by 17% of the studied population and caused a medium increase of 25 hours of work per week and of 6 minimum wages. Regarding the process of professional specialization, about 50% indicated having done extensive qualification courses. Around 70% indicated that they felt an identification with their practice and, at the same time, refered insatisfaction with the working conditions in nursing. Despite this, it was possible to observe a growing adhesion, favorable to the profession, up until nine years of activity. The analysis of the singularity in language usage permitted the identification of some recurrent discursiva patterns in the operation of the nursing discourse. Concerning the process of professional option in nursing, the sense of non-choice predominated. The dominant significance of professional fulfilment was in the area of personal gratification. Regarding care for their own health, the senses were multiple and practices were oriented in many directions. However, there was a predominance of a self-care practice, which was not coherent with the care given to patients/clients. For these, the practice was linked to the valorization of sickness as well as to human relations, confined within the individual\'s own limits. In a dominant form as well, the relation between health and labor does not explicitly appear in the discourse. In dealing with conflicts identified in professional practice, the subjects position themselves dominantly in one of two ways: implementing measures oriented by a superficial perspectiva, which naturalises the differences and results in a practice which does not have an impact on reality, or by absorbing the conflicts and pursuing individual strategies of resistance. In the discourse, the relation between education and practice are rarely indicated explicitly. However, the clues given by the discourse construction show that the actual practice of the subjects represents and is indicative of the way nursing is taught. https://doi.org/10.11606/T.6.2020.tde-10052019-174403info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T18:36:30Zoai:teses.usp.br:tde-10052019-174403Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T12:26:05.574637Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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