A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2023 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-29022024-133340/ |
Resumo: | Esta dissertação de mestrado examina, sob uma perspectiva filosófica, aspectos da intensa polarização de crenças e opiniões presentemente observada em diversos grupos sociais. Mais precisamente, a análise se concentra na persistência de discursos explicativos falaciosos dentro desses grupos, expandindo-se em um estudo abrangente sobre sua origem e perpetuação. Inicialmente, o termo \"polarização\" é definido como o deslocamento de opinião para extremos em grupos compostos por indivíduos que pensam de modo semelhante, após a ocorrência de algum evento deliberativo. Particularmente, a atenção concentra-se nos grupos polarizados mais coesos e persistentes, denominados \"bolhas epistêmicas\". Estes são ambientes nos quais os indivíduos não conseguem distinguir entre o que acreditam conhecer e o que de fato conhecem. Nomeia-se o discurso explicativo falacioso proferido nesses contextos como \"razão comprometida\". Essa denominação abrange duas interpretações distintas. A primeira interpretação considera a expressão \"razão comprometida\" como um raciocínio duvidoso ou falho, levantando a questão: por que explicações ilegítimas são tão persuasivas no interior dessas bolhas? Para examinar essa situação, recorre-se a uma análise combinada de várias teorias, incluindo a teoria pragmática da explicação de van Fraassen, a teoria dos atos de fala de Austin e a teoria das implicaturas de Grice. Essa análise revela que a força e os efeitos produzidos por uma explicação não dependem necessariamente da veracidade de seus componentes. A segunda interpretação considera a expressão \"razão comprometida\" como o resultado de um compromisso grupal, explicando a sustentação e a tenacidade na defesa de discursos falaciosos, mesmo que fortemente contestados, no interior desses grupos. Nessa abordagem, recorre-se à epistemologia dos grupos e à tese da negociação de crença coletiva de Gilbert e Priest, que afirma que as crenças grupais emergem de uma negociação linguística coletiva, culminando em um compromisso mútuo com o que é proferido nesse contexto. Isso sugere a prevalência de lealdade grupal sobre razões epistêmicas na articulação, por exemplo, de discursos explicativos no interior desses grupos. As considerações desenvolvidas ao longo do texto facilitam a análise e a avaliação das intervenções atualmente propostas para mitigar os efeitos da polarização, além de sugerirem um caminho para futuras pesquisas |
id |
USP_1e0713e87910c6961a4442c12c563c5d |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:teses.usp.br:tde-29022024-133340 |
network_acronym_str |
USP |
network_name_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
repository_id_str |
2721 |
spelling |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicaisCompromised reason: polarized groups and radical explanationsBelief formationBolhas epistêmicasEpistemic bubblesEpistemologia socialExplanationsExplicaçõesFormação de crençasGroup polarizationPolarização grupalSocial epistemologyEsta dissertação de mestrado examina, sob uma perspectiva filosófica, aspectos da intensa polarização de crenças e opiniões presentemente observada em diversos grupos sociais. Mais precisamente, a análise se concentra na persistência de discursos explicativos falaciosos dentro desses grupos, expandindo-se em um estudo abrangente sobre sua origem e perpetuação. Inicialmente, o termo \"polarização\" é definido como o deslocamento de opinião para extremos em grupos compostos por indivíduos que pensam de modo semelhante, após a ocorrência de algum evento deliberativo. Particularmente, a atenção concentra-se nos grupos polarizados mais coesos e persistentes, denominados \"bolhas epistêmicas\". Estes são ambientes nos quais os indivíduos não conseguem distinguir entre o que acreditam conhecer e o que de fato conhecem. Nomeia-se o discurso explicativo falacioso proferido nesses contextos como \"razão comprometida\". Essa denominação abrange duas interpretações distintas. A primeira interpretação considera a expressão \"razão comprometida\" como um raciocínio duvidoso ou falho, levantando a questão: por que explicações ilegítimas são tão persuasivas no interior dessas bolhas? Para examinar essa situação, recorre-se a uma análise combinada de várias teorias, incluindo a teoria pragmática da explicação de van Fraassen, a teoria dos atos de fala de Austin e a teoria das implicaturas de Grice. Essa análise revela que a força e os efeitos produzidos por uma explicação não dependem necessariamente da veracidade de seus componentes. A segunda interpretação considera a expressão \"razão comprometida\" como o resultado de um compromisso grupal, explicando a sustentação e a tenacidade na defesa de discursos falaciosos, mesmo que fortemente contestados, no interior desses grupos. Nessa abordagem, recorre-se à epistemologia dos grupos e à tese da negociação de crença coletiva de Gilbert e Priest, que afirma que as crenças grupais emergem de uma negociação linguística coletiva, culminando em um compromisso mútuo com o que é proferido nesse contexto. Isso sugere a prevalência de lealdade grupal sobre razões epistêmicas na articulação, por exemplo, de discursos explicativos no interior desses grupos. As considerações desenvolvidas ao longo do texto facilitam a análise e a avaliação das intervenções atualmente propostas para mitigar os efeitos da polarização, além de sugerirem um caminho para futuras pesquisasThis master\'s thesis examines, from a philosophical perspective, aspects of the intense polarization of beliefs and opinions presently observed in diverse social groups. More precisely, the analysis focuses on the persistence of fallacious explanatory discourses within these groups, expanding into a comprehensive study of their origin and perpetuation. Initially, the term \"polarization\" is defined as the shift in opinion towards extremes in groups composed of like-minded individuals following the occurrence of a deliberative event. Particular attention is paid to the most cohesive and persistently polarized groups, termed \"epistemic bubbles\". These are environments in which individuals are unable to distinguish between what they believe they know and what they actually know. The fallacious explanatory discourse presented in these contexts is referred to as \"compromised reason\". This term encompasses two distinct interpretations. The first interpretation considers the expression \"compromised reason\" as dubious or flawed reasoning, raising the question: why are illegitimate explanations so persuasive within these bubbles? To examine this situation, an analysis that combines several theories is employed, including van Fraassen\'s pragmatic theory of explanation, Austin\'s speech act theory, and Grice\'s theory of implicatures. This analysis reveals that the strength and effects produced by an explanation do not necessarily depend on the truthfulness of its components. The second interpretation considers the expression \"compromised reason\" as the result of a group commitment, explaining the support and tenacity in defending fallacious discourses, even when they are heavily contested within these groups. In this approach, the study refers to the epistemology of groups and Gilbert and Priest\'s thesis on the negotiation of collective belief, asserting that group beliefs emerge from a collective linguistic negotiation, culminating in a mutual commitment to the utterances made within this context. This suggests the prevalence of group loyalty over epistemic reasons in the articulation of explanatory discourses within these groups, for instance. The considerations developed throughout the text facilitate the analysis and evaluation of interventions currently proposed to mitigate the effects of polarization while also suggesting a path for future researchBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPlastino, Caetano ErnestoMartins, Rogerio Fernandes2023-10-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-29022024-133340/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-02-29T16:40:03Zoai:teses.usp.br:tde-29022024-133340Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-02-29T16:40:03Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais Compromised reason: polarized groups and radical explanations |
title |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais |
spellingShingle |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais Martins, Rogerio Fernandes Belief formation Bolhas epistêmicas Epistemic bubbles Epistemologia social Explanations Explicações Formação de crenças Group polarization Polarização grupal Social epistemology |
title_short |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais |
title_full |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais |
title_fullStr |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais |
title_full_unstemmed |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais |
title_sort |
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais |
author |
Martins, Rogerio Fernandes |
author_facet |
Martins, Rogerio Fernandes |
author_role |
author |
dc.contributor.none.fl_str_mv |
Plastino, Caetano Ernesto |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Martins, Rogerio Fernandes |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Belief formation Bolhas epistêmicas Epistemic bubbles Epistemologia social Explanations Explicações Formação de crenças Group polarization Polarização grupal Social epistemology |
topic |
Belief formation Bolhas epistêmicas Epistemic bubbles Epistemologia social Explanations Explicações Formação de crenças Group polarization Polarização grupal Social epistemology |
description |
Esta dissertação de mestrado examina, sob uma perspectiva filosófica, aspectos da intensa polarização de crenças e opiniões presentemente observada em diversos grupos sociais. Mais precisamente, a análise se concentra na persistência de discursos explicativos falaciosos dentro desses grupos, expandindo-se em um estudo abrangente sobre sua origem e perpetuação. Inicialmente, o termo \"polarização\" é definido como o deslocamento de opinião para extremos em grupos compostos por indivíduos que pensam de modo semelhante, após a ocorrência de algum evento deliberativo. Particularmente, a atenção concentra-se nos grupos polarizados mais coesos e persistentes, denominados \"bolhas epistêmicas\". Estes são ambientes nos quais os indivíduos não conseguem distinguir entre o que acreditam conhecer e o que de fato conhecem. Nomeia-se o discurso explicativo falacioso proferido nesses contextos como \"razão comprometida\". Essa denominação abrange duas interpretações distintas. A primeira interpretação considera a expressão \"razão comprometida\" como um raciocínio duvidoso ou falho, levantando a questão: por que explicações ilegítimas são tão persuasivas no interior dessas bolhas? Para examinar essa situação, recorre-se a uma análise combinada de várias teorias, incluindo a teoria pragmática da explicação de van Fraassen, a teoria dos atos de fala de Austin e a teoria das implicaturas de Grice. Essa análise revela que a força e os efeitos produzidos por uma explicação não dependem necessariamente da veracidade de seus componentes. A segunda interpretação considera a expressão \"razão comprometida\" como o resultado de um compromisso grupal, explicando a sustentação e a tenacidade na defesa de discursos falaciosos, mesmo que fortemente contestados, no interior desses grupos. Nessa abordagem, recorre-se à epistemologia dos grupos e à tese da negociação de crença coletiva de Gilbert e Priest, que afirma que as crenças grupais emergem de uma negociação linguística coletiva, culminando em um compromisso mútuo com o que é proferido nesse contexto. Isso sugere a prevalência de lealdade grupal sobre razões epistêmicas na articulação, por exemplo, de discursos explicativos no interior desses grupos. As considerações desenvolvidas ao longo do texto facilitam a análise e a avaliação das intervenções atualmente propostas para mitigar os efeitos da polarização, além de sugerirem um caminho para futuras pesquisas |
publishDate |
2023 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2023-10-17 |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/masterThesis |
format |
masterThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-29022024-133340/ |
url |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-29022024-133340/ |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
|
dc.rights.driver.fl_str_mv |
Liberar o conteúdo para acesso público. info:eu-repo/semantics/openAccess |
rights_invalid_str_mv |
Liberar o conteúdo para acesso público. |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.coverage.none.fl_str_mv |
|
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
publisher.none.fl_str_mv |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP instname:Universidade de São Paulo (USP) instacron:USP |
instname_str |
Universidade de São Paulo (USP) |
instacron_str |
USP |
institution |
USP |
reponame_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
collection |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
repository.name.fl_str_mv |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP) |
repository.mail.fl_str_mv |
virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br |
_version_ |
1809091167025889280 |