Uma análise das práticas de ensino suplementar no contexto brasileiro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Galvão, Fernando Vizotto
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48139/tde-17052022-135747/
Resumo: Um número crescente de pesquisas tem relatado o aumento da participação de crianças e jovens de diferentes contextos em atividades de ensino ofertadas fora do tempo dedicado ao ensino regular. Geralmente utilizando os termos shadow education ou private tuition, as pesquisas sobre o tema têm se dedicado a dimensionar e a caracterizar a participação de estudantes em atividades como cursos de idiomas, aulas particulares e cursos preparatórios para o vestibular (entre outras), ressaltando o impacto que essas atividades podem ter sobre a produção de desigualdades educacionais. Procurando dialogar com a literatura internacional sobre shadow education e tendo por base elementos da teoria bourdieusiana, esta tese tem como objetivo analisar a participação de estudantes brasileiros em atividades de ensino suplementar (ou extraescolares). A seguinte questão norteia a pesquisa: as atividades de ensino suplementar têm atuado no sentido de conferir vantagens educacionais a estudantes já privilegiados? Tendo por base os dados do Enem de 2014 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017-2018 do IBGE, a primeira parte da pesquisa procura mapear a participação de jovens brasileiros em atividades suplementares, explorando tanto os fatores associados à participação em diferentes cursos quanto as associações entre a participação em cursos e o desempenho em testes. Os resultados obtidos nessa parte indicam que a participação em atividades suplementares é desigualmente distribuída entre os indivíduos, sendo os cursos de idiomas e os preparatórios para o vestibular acessados com maior probabilidade por pessoas que contam com maior renda familiar e cujos pais contam com maior escolaridade. Além disso, nota-se que a posse de recursos econômicos e os anos de estudo dos pais afetam de diferentes formas as chances de participação em diferentes tipos de cursos. Também foi possível identificar que a participação em determinados cursos afeta o desempenho dos estudantes no Enem. Dessa forma, tudo indica que a participação em cursos, concentrada entre indivíduos relativamente privilegiados, tende a atuar no sentido de aumentar distâncias educacionais entre pessoas que ocupam posições diferentes no espaço social. Em um segundo movimento de pesquisa, que teve por base a realização de entrevistas, procuro captar como jovens egressos do ensino médio percebem, em suas trajetórias, as participações e as ausências em diferentes tipos de atividades suplementares. Entre outras coisas, foi possível notar que estudantes que contam com melhores condições de vida têm maior liberdade de escolha em relação à participação em atividades suplementares, principalmente por terem condições de pagar por elas. Contudo, as falas revelam diferentes tipos de restrições, no que diz respeito à participação em cursos, sendo recorrente a tensão entre os cursos que deveriam ser feitos, os que os jovens gostariam de fazer e os que não deveriam ser feitos. Nesse sentido, as restrições à participação em cursos relacionadas ao sexo dos jovens foram frequentes. Entre as diversas questões e possibilidades de análise que as entrevistas suscitam, destaca-se a percepção positiva que os jovens têm acerca da existência de atividades suplementares. De forma geral, essas atividades foram entendidas como algo necessário, como uma via importante para realização, para autoconhecimento, para conformação de identidades. Entre os que puderam frequentar uma diversidade de atividades, os sentidos atribuídos a elas parecem estar relacionados ao que puderam experienciar. Por outro lado, entre os que quase não puderam frequentar cursos ou aulas suplementares, os significados atribuídos a essas atividades parecem ter por base sentidos socialmente difundidos acerca de suas vantagens e importância, o que se traduz em frustração por não poderem ter frequentado os cursos que gostariam.
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Procurando dialogar com a literatura internacional sobre shadow education e tendo por base elementos da teoria bourdieusiana, esta tese tem como objetivo analisar a participação de estudantes brasileiros em atividades de ensino suplementar (ou extraescolares). A seguinte questão norteia a pesquisa: as atividades de ensino suplementar têm atuado no sentido de conferir vantagens educacionais a estudantes já privilegiados? Tendo por base os dados do Enem de 2014 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017-2018 do IBGE, a primeira parte da pesquisa procura mapear a participação de jovens brasileiros em atividades suplementares, explorando tanto os fatores associados à participação em diferentes cursos quanto as associações entre a participação em cursos e o desempenho em testes. Os resultados obtidos nessa parte indicam que a participação em atividades suplementares é desigualmente distribuída entre os indivíduos, sendo os cursos de idiomas e os preparatórios para o vestibular acessados com maior probabilidade por pessoas que contam com maior renda familiar e cujos pais contam com maior escolaridade. Além disso, nota-se que a posse de recursos econômicos e os anos de estudo dos pais afetam de diferentes formas as chances de participação em diferentes tipos de cursos. Também foi possível identificar que a participação em determinados cursos afeta o desempenho dos estudantes no Enem. Dessa forma, tudo indica que a participação em cursos, concentrada entre indivíduos relativamente privilegiados, tende a atuar no sentido de aumentar distâncias educacionais entre pessoas que ocupam posições diferentes no espaço social. Em um segundo movimento de pesquisa, que teve por base a realização de entrevistas, procuro captar como jovens egressos do ensino médio percebem, em suas trajetórias, as participações e as ausências em diferentes tipos de atividades suplementares. Entre outras coisas, foi possível notar que estudantes que contam com melhores condições de vida têm maior liberdade de escolha em relação à participação em atividades suplementares, principalmente por terem condições de pagar por elas. Contudo, as falas revelam diferentes tipos de restrições, no que diz respeito à participação em cursos, sendo recorrente a tensão entre os cursos que deveriam ser feitos, os que os jovens gostariam de fazer e os que não deveriam ser feitos. Nesse sentido, as restrições à participação em cursos relacionadas ao sexo dos jovens foram frequentes. Entre as diversas questões e possibilidades de análise que as entrevistas suscitam, destaca-se a percepção positiva que os jovens têm acerca da existência de atividades suplementares. De forma geral, essas atividades foram entendidas como algo necessário, como uma via importante para realização, para autoconhecimento, para conformação de identidades. Entre os que puderam frequentar uma diversidade de atividades, os sentidos atribuídos a elas parecem estar relacionados ao que puderam experienciar. Por outro lado, entre os que quase não puderam frequentar cursos ou aulas suplementares, os significados atribuídos a essas atividades parecem ter por base sentidos socialmente difundidos acerca de suas vantagens e importância, o que se traduz em frustração por não poderem ter frequentado os cursos que gostariam.A growing number of studies have reported an increase in the participation of children and young people from different contexts in educational activities offered as a complement to regular education. Usually using the terms shadow education or private tuition, research on the subject has been dedicated to measuring and characterizing the participation of students in activities such as language courses, private classes, and preparatory courses for the entrance exam (among others), highlighting the impact that these activities may have on educational inequalities. In order to dialogue with the international literature on shadow education and based on elements of the Bourdieusian theory, this thesis aims to analyze the participation of Brazilian students in supplementary education (or extracurricular) activities. The following question guides the research: Have supplementary education activities been conferring educational advantages to already privileged students? Based on data from Enem 2014 and the 20172018 IBGE Family Budget Survey, the first part of this research aimed to map the participation of young Brazilians in supplementary activities, exploring both the factors related with participation in different courses and the association between course participation and test performance. The results obtained in this part of the research indicate that participation in supplementary activities is unevenly distributed among individuals, with language courses and preparatory courses for entrance exams being more likely accessed by people with higher family income and whose parents have more schooling. Furthermore, it was possible to notice that the possession of economic resources and the parents years of education affect, in different ways, the chances of participating in different types of courses. We also identified that participation in certain courses affects student performance on Enem. Thus, the results indicate that participation in courses, concentrated among relatively privileged individuals, tends to act towards increasing educational distances between people who occupy different social positions. In the second part of the research, which was interview-based, I tried to capture how high school graduates perceive participation and absence in different types of supplementary activities in their trajectories. Among other things, it was possible to notice that students with better living conditions have greater freedom of choice regarding participation in supplementary activities, mainly because they are able to pay for them. However, the statements revealed different types of restrictions with regard to participation in courses, with a recurrent divergence between courses that should be taken, those that young people would like to take, and those that should not be taken. In this sense, restrictions on participation in courses related to the sex of young people were frequent. Among the various questions and possibilities for analysis raised by the interviews, the positive perception that young people have about the existence of supplementary activities stood out. In general, these activities were understood as necessary and important for personal achievement, self-knowledge, and for shaping identities. Among those who were able to attend a variety of activities, the meanings attributed to the courses seemed to be related to what each person was able to experience. Contrarily, among those who were almost unable to attend additional courses or classes, the meanings attributed to these activities seemed to be based on socially widespread meanings of their advantages and importance, which translates into frustration for not being able to attend desired courses.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPOliveira, Romualdo Luiz Portela deGalvão, Fernando Vizotto2022-03-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48139/tde-17052022-135747/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2022-05-19T17:02:33Zoai:teses.usp.br:tde-17052022-135747Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212022-05-19T17:02:33Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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