A impureza das formas aristotélicas: um comentário a Metafísica Z 10
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-09082023-180022/ |
Resumo: | Da Metafísica de Aristóteles, o Livro Z (ou VII) é amplamente reconhecido como central e o mais desafiador. Entre seus capítulos, os mais extensos são o décimo e o décimo primeiro, que discutem de que se compõe a definição das entidades sensíveis e quais relações ontológicas se encontram nisto refletidas. Com especial ênfase, Z 10-11 investiga se a matéria pode ou não integrar definições, e, correspondentemente, se ela desfruta de precedência ontológica sobre os compostos que constitui. Interpretações que concluem uma resposta negativa tendem a se apoiar sobretudo em Z 10, que destaca haver uma associação íntima entre definição e forma (εἶδος), e mesmo uma equivalência entre εἶδος, essência (οὐσία) e quididade (τὸ τί ἦν εἶναι). De fato, se este capítulo é decisivo para o Livro VII, é por revisitar a promissora candidatura da quididade ao posto de essência, passado o excurso de Z 7-9. A relevância de Z 10 como unidade de reflexão se adensa com a multiplicidade de problemáticas sobre as quais ele se pronuncia – a algumas, até, proporcionando a formulação aristotélica canônica. Entre elas se destacam a indefinibilidade dos indivíduos; a classificação das espécies como compostos universais; a interdição, a estes, do estatuto de οὐσία; a \"incognoscibilidade\" da matéria; a identidade de cada coisa com sua essência. O interesse do capítulo aumenta em face da dificuldade de esclarecer como estes tópicos se relacionam, e por que importam para o argumento. Mais ainda, no decurso do texto são empregadas expressões enigmáticas ou espinhosas, como a que menciona uma matéria à qual a entidade \"sobrevém\" (ἐπιγίγνεται), a que designa entes συνειλημμένα (literalmente, \"tomados em conjunto\") à matéria, a que ressalva serem \"ou todas ou algumas\" (ἢ πάντα ἢ ἔνια) das partes da essência o que exerce anterioridade, a que nomeia a substância composta como \"o composto a partir da forma\" (τοῦ συνόλου τοῦ ἐκ τοῦ εἴδους, em vez de \"... a partir da forma e da matéria\"). Esta dissertação propõe como leitura capaz de esclarecer e harmonizar os vários pontos de dificuldade uma que identifica a tese alegadamente rechaçada: a da presença da matéria na definição, e sua relativa prioridade ontológica, ante as entidades sensíveis. Um ponto-chave é detectar a tácita caracterização (evidenciada à medida que as duas metades do capítulo aproximam seus temas, o das partes do λόγος e o da anterioridade) segundo a qual integrar a forma é o modo originário de constituir a coisa – no qual \"não mais\" (οὐκέτι, 1035a21) se incide quando se é \"já\" (ἤδη, a16, b31, 1036a2) matéria individual, mas do qual não se exclui toda matéria (1035a5-6): tanto que os compostos são compostos \"a partir da forma\", simplesmente; a realização direta da forma é sua concretização como composto. Trata-se de um comentário linha-a-linha, mas também atento às correspondências no corpus, à (farta) literatura interpretativa e aos principais desdobramentos teóricos. Espera-se que ao fim do trabalho emerja uma perspectiva favorável a certa compatibilidade entre a tendência contemporânea a reivindicar dignidade ontológica ao contingente e a subordinação clássica da realidade sensível a determinados universais. |
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A impureza das formas aristotélicas: um comentário a Metafísica Z 10The impurity of Aristotelian forms: a commentary to Metaphysics Z 10AristotelismAristotelismoEssence (Philosophy)Essência (Filosofia)Form (Philosophy)Forma (Filosofia)Matéria (Filosofia)Matter (Philosophy)MetafísicaMetaphysicsOntologiaOntologySubstance (Philosophy)Substância (Filosofia)Da Metafísica de Aristóteles, o Livro Z (ou VII) é amplamente reconhecido como central e o mais desafiador. Entre seus capítulos, os mais extensos são o décimo e o décimo primeiro, que discutem de que se compõe a definição das entidades sensíveis e quais relações ontológicas se encontram nisto refletidas. Com especial ênfase, Z 10-11 investiga se a matéria pode ou não integrar definições, e, correspondentemente, se ela desfruta de precedência ontológica sobre os compostos que constitui. Interpretações que concluem uma resposta negativa tendem a se apoiar sobretudo em Z 10, que destaca haver uma associação íntima entre definição e forma (εἶδος), e mesmo uma equivalência entre εἶδος, essência (οὐσία) e quididade (τὸ τί ἦν εἶναι). De fato, se este capítulo é decisivo para o Livro VII, é por revisitar a promissora candidatura da quididade ao posto de essência, passado o excurso de Z 7-9. A relevância de Z 10 como unidade de reflexão se adensa com a multiplicidade de problemáticas sobre as quais ele se pronuncia – a algumas, até, proporcionando a formulação aristotélica canônica. Entre elas se destacam a indefinibilidade dos indivíduos; a classificação das espécies como compostos universais; a interdição, a estes, do estatuto de οὐσία; a \"incognoscibilidade\" da matéria; a identidade de cada coisa com sua essência. O interesse do capítulo aumenta em face da dificuldade de esclarecer como estes tópicos se relacionam, e por que importam para o argumento. Mais ainda, no decurso do texto são empregadas expressões enigmáticas ou espinhosas, como a que menciona uma matéria à qual a entidade \"sobrevém\" (ἐπιγίγνεται), a que designa entes συνειλημμένα (literalmente, \"tomados em conjunto\") à matéria, a que ressalva serem \"ou todas ou algumas\" (ἢ πάντα ἢ ἔνια) das partes da essência o que exerce anterioridade, a que nomeia a substância composta como \"o composto a partir da forma\" (τοῦ συνόλου τοῦ ἐκ τοῦ εἴδους, em vez de \"... a partir da forma e da matéria\"). Esta dissertação propõe como leitura capaz de esclarecer e harmonizar os vários pontos de dificuldade uma que identifica a tese alegadamente rechaçada: a da presença da matéria na definição, e sua relativa prioridade ontológica, ante as entidades sensíveis. Um ponto-chave é detectar a tácita caracterização (evidenciada à medida que as duas metades do capítulo aproximam seus temas, o das partes do λόγος e o da anterioridade) segundo a qual integrar a forma é o modo originário de constituir a coisa – no qual \"não mais\" (οὐκέτι, 1035a21) se incide quando se é \"já\" (ἤδη, a16, b31, 1036a2) matéria individual, mas do qual não se exclui toda matéria (1035a5-6): tanto que os compostos são compostos \"a partir da forma\", simplesmente; a realização direta da forma é sua concretização como composto. Trata-se de um comentário linha-a-linha, mas também atento às correspondências no corpus, à (farta) literatura interpretativa e aos principais desdobramentos teóricos. Espera-se que ao fim do trabalho emerja uma perspectiva favorável a certa compatibilidade entre a tendência contemporânea a reivindicar dignidade ontológica ao contingente e a subordinação clássica da realidade sensível a determinados universais.As regards Aristotle\'s Metaphysics, Book Z (or VII) is widely recognized as central and the most challenging. Among its chapters, the tenth and eleventh are the most extensive, discussing what the definition of sensible entities is composed of and what ontological relationships are reflected on it. With special emphasis, Z 10-11 investigates whether matter can integrate definitions, and, correspondingly, whether it enjoys ontological precedence over the compounds it constitutes. Interpretations that conclude with a negative answer tend to rely mainly on Z 10, which highlights an intimate association between definition and form (εἶδος), and even an equivalence between εἶδος, essence (οὐσία) and quiddity (τὸ τί ἦν εἶναι). Indeed, if this chapter is decisive for Book VII, it is for revisiting the promising candidacy of quiddity to the post of essence, after the excursus of Z 7-9. The relevance of Z 10 as a unit of reflection is thickened by the multiplicity of issues on which it pronounces – to some, even, providing the canonical Aristotelian formulation. Among them, stand out the indefinability of individuals; the classification of species as universal compounds; the interdiction, to these, of the status of οὐσία; the \"unknowability\" of matter; the identity of each thing with its essence. The chapter\'s interest is heightened by the difficulty of clarifying how these topics are related, and why they matter to the argument. Furthermore, in the course of the text, enigmatic or thorny expressions are used, such as the one that mentions a matter to which the entity \"supervenes\" (ἐπιγίγνεται), the one that designates entities συνειλημμένα (literally, \"taken together\") to matter, the one that points out that it is \"either all or some\" (ἢ πάντα ἢ ἔνια) of the parts of the essence what exerts anteriority, the one naming the compound substance as \"the compound from the form\" (τοῦ συνόλου τοῦ ἐκ τοῦ εἴδους, instead of \"... from form and matter\"). This dissertation proposes, as a reading capable of clarifying and harmonizing the various points of difficulty, one that identifies the allegedly rejected thesis: that of the presence of matter in the definition, and its relative ontological priority, vis-à-vis sensible entities. A key point is to detect the tacit characterization (evidenced as the two halves of the chapter approach their themes, that of the parts of the λόγος and that of anteriority) according to which being a part of the form is the originary way of constituting the thing – which \"no longer\" (οὐκέτι, 1035a21) obtains when what is in case is the \"already\" (ἤδη, a16, b31, 1036a2) individual matter, but from which not every matter is excluded (1035a5-6): so much so that compounds are composed \"from the form\", simpliciter; the direct realization of form is its concretization as compound. This is a line-by-line commentary, but it is also attentive to the correspondences in the corpus, to the (plentiful) interpretive literature and to the main theoretical developments. It is expected that, at the end of the work, a favorable perspective shall emerge for a compatibility between the contemporary tendency to claim ontological dignity for the contingent and the classical subordination of sensitive reality to some universals.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPKeeling, Evan RobertQuirino, André Gomes2022-10-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-09082023-180022/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-08-09T22:09:54Zoai:teses.usp.br:tde-09082023-180022Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-08-09T22:09:54Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Da Metafísica de Aristóteles, o Livro Z (ou VII) é amplamente reconhecido como central e o mais desafiador. Entre seus capítulos, os mais extensos são o décimo e o décimo primeiro, que discutem de que se compõe a definição das entidades sensíveis e quais relações ontológicas se encontram nisto refletidas. Com especial ênfase, Z 10-11 investiga se a matéria pode ou não integrar definições, e, correspondentemente, se ela desfruta de precedência ontológica sobre os compostos que constitui. Interpretações que concluem uma resposta negativa tendem a se apoiar sobretudo em Z 10, que destaca haver uma associação íntima entre definição e forma (εἶδος), e mesmo uma equivalência entre εἶδος, essência (οὐσία) e quididade (τὸ τί ἦν εἶναι). De fato, se este capítulo é decisivo para o Livro VII, é por revisitar a promissora candidatura da quididade ao posto de essência, passado o excurso de Z 7-9. A relevância de Z 10 como unidade de reflexão se adensa com a multiplicidade de problemáticas sobre as quais ele se pronuncia – a algumas, até, proporcionando a formulação aristotélica canônica. Entre elas se destacam a indefinibilidade dos indivíduos; a classificação das espécies como compostos universais; a interdição, a estes, do estatuto de οὐσία; a \"incognoscibilidade\" da matéria; a identidade de cada coisa com sua essência. O interesse do capítulo aumenta em face da dificuldade de esclarecer como estes tópicos se relacionam, e por que importam para o argumento. Mais ainda, no decurso do texto são empregadas expressões enigmáticas ou espinhosas, como a que menciona uma matéria à qual a entidade \"sobrevém\" (ἐπιγίγνεται), a que designa entes συνειλημμένα (literalmente, \"tomados em conjunto\") à matéria, a que ressalva serem \"ou todas ou algumas\" (ἢ πάντα ἢ ἔνια) das partes da essência o que exerce anterioridade, a que nomeia a substância composta como \"o composto a partir da forma\" (τοῦ συνόλου τοῦ ἐκ τοῦ εἴδους, em vez de \"... a partir da forma e da matéria\"). Esta dissertação propõe como leitura capaz de esclarecer e harmonizar os vários pontos de dificuldade uma que identifica a tese alegadamente rechaçada: a da presença da matéria na definição, e sua relativa prioridade ontológica, ante as entidades sensíveis. Um ponto-chave é detectar a tácita caracterização (evidenciada à medida que as duas metades do capítulo aproximam seus temas, o das partes do λόγος e o da anterioridade) segundo a qual integrar a forma é o modo originário de constituir a coisa – no qual \"não mais\" (οὐκέτι, 1035a21) se incide quando se é \"já\" (ἤδη, a16, b31, 1036a2) matéria individual, mas do qual não se exclui toda matéria (1035a5-6): tanto que os compostos são compostos \"a partir da forma\", simplesmente; a realização direta da forma é sua concretização como composto. Trata-se de um comentário linha-a-linha, mas também atento às correspondências no corpus, à (farta) literatura interpretativa e aos principais desdobramentos teóricos. Espera-se que ao fim do trabalho emerja uma perspectiva favorável a certa compatibilidade entre a tendência contemporânea a reivindicar dignidade ontológica ao contingente e a subordinação clássica da realidade sensível a determinados universais. |
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