A musicalidade comunicativa das canções: um estudo sobre a identidade sonora de crianças com autismo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Avila, Daniel Camparo
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-25112016-170819/
Resumo: O manejo clínico das instâncias constitutivas da subjetividade por meio da música tem encontrado na identidade sonora um de seus eixos centrais. Ao mesmo tempo, diversas aplicações terapêuticas têm fundamentado sua justificativa na teoria da musicalidade comunicativa, que considera a capacidade de produzir e reconhecer as formas e qualidades expressivas no tempo que caracterizam e imprimem sentido aos sons como o fundamento das interações sociais, mesmo nas etapas iniciais do desenvolvimento. Apoiando-se na ideia de que crianças com autismo conservam tal capacidade, não obstante os problemas comportamentais, sociais e de linguagem, dispositivos que empregam a música com finalidades terapêuticas vêm apresentando resultados benéficos a essa população. Esta pesquisa pretendeu avaliar se a musicalidade da criança com autismo pode ser abordada com fins terapêuticos pelo uso de canções que se relacionem com sua identidade sonora e instaurem um campo possível para o surgimento de movimentos expressivos e de interação social. Para tanto, realizou-se uma oficina terapêutica com a participação de cinco crianças entre quatro e nove anos, durante um ano, com frequência semanal e duração de uma hora, em um total de 20 sessões. Os procedimentos empregados foram a improvisação musical, o jogo musical e recriação de canções. As sessões foram registradas com câmera de vídeo e segmentos foram selecionados e microanalisados, sendo posteriormente descritos em linguagem verbal, partituras musicais e gráficos de análise acústica, incorporados a estudos de caso individuais que utilizaram as categorias da Avaliação Psicanalítica aos 3 anos como indicadores clínicos. Simultaneamente, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre livros, artigos de periódicos, teses e dissertações acadêmicas que incluíssem os temas pesquisados, resultando em uma revisão narrativa de estudos em um amplo escopo de disciplinas. A pesquisa indica que a música e as canções produzem efeitos terapêuticos em crianças com autismo, que os mesmos podem ser compreendidos em suas dimensões intrapsíquica, intersubjetiva e sociocultural. A oficina de música contribui também para o desenvolvimento da função psíquica da voz e a flexibilização do desenvolvimento de células musicais em motivos e figuras mais complexos. Também gera possibilidades de imitação, sincronização e coordenação de movimentos, facilitando a interação social entre seus participantes. Uma das dinâmicas que produziram engajamentos sociais mais intensos foi a construção em grupo de narrativas a partir de ideias musicais e temáticas trazidas pelas crianças. Além disso, a música teve um efeito mais eficiente que ordens, pedidos e reprimendas verbais na contenção dos movimentos agitados e agressivos de algumas crianças. Assim, a hipótese foi parcialmente comprovada, tendo em vista os diversos movimentos expressivos e de interação social evidenciados. Por outro lado, a noção teórica de que esses processos se orientam em torno do conceito de identidade não foi sustentada pela presente pesquisa, já que os movimentos de constituição subjetiva mais importantes verificados na parte empírica poderiam ser traduzidos como processos de identificação, e não de expressão de identidades.
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Apoiando-se na ideia de que crianças com autismo conservam tal capacidade, não obstante os problemas comportamentais, sociais e de linguagem, dispositivos que empregam a música com finalidades terapêuticas vêm apresentando resultados benéficos a essa população. Esta pesquisa pretendeu avaliar se a musicalidade da criança com autismo pode ser abordada com fins terapêuticos pelo uso de canções que se relacionem com sua identidade sonora e instaurem um campo possível para o surgimento de movimentos expressivos e de interação social. Para tanto, realizou-se uma oficina terapêutica com a participação de cinco crianças entre quatro e nove anos, durante um ano, com frequência semanal e duração de uma hora, em um total de 20 sessões. Os procedimentos empregados foram a improvisação musical, o jogo musical e recriação de canções. As sessões foram registradas com câmera de vídeo e segmentos foram selecionados e microanalisados, sendo posteriormente descritos em linguagem verbal, partituras musicais e gráficos de análise acústica, incorporados a estudos de caso individuais que utilizaram as categorias da Avaliação Psicanalítica aos 3 anos como indicadores clínicos. Simultaneamente, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre livros, artigos de periódicos, teses e dissertações acadêmicas que incluíssem os temas pesquisados, resultando em uma revisão narrativa de estudos em um amplo escopo de disciplinas. A pesquisa indica que a música e as canções produzem efeitos terapêuticos em crianças com autismo, que os mesmos podem ser compreendidos em suas dimensões intrapsíquica, intersubjetiva e sociocultural. A oficina de música contribui também para o desenvolvimento da função psíquica da voz e a flexibilização do desenvolvimento de células musicais em motivos e figuras mais complexos. Também gera possibilidades de imitação, sincronização e coordenação de movimentos, facilitando a interação social entre seus participantes. Uma das dinâmicas que produziram engajamentos sociais mais intensos foi a construção em grupo de narrativas a partir de ideias musicais e temáticas trazidas pelas crianças. Além disso, a música teve um efeito mais eficiente que ordens, pedidos e reprimendas verbais na contenção dos movimentos agitados e agressivos de algumas crianças. Assim, a hipótese foi parcialmente comprovada, tendo em vista os diversos movimentos expressivos e de interação social evidenciados. Por outro lado, a noção teórica de que esses processos se orientam em torno do conceito de identidade não foi sustentada pela presente pesquisa, já que os movimentos de constituição subjetiva mais importantes verificados na parte empírica poderiam ser traduzidos como processos de identificação, e não de expressão de identidades.The clinical management of the constitutive instances of subjectivity through music has found in sound identity its central axis. At the same time, a number of therapeutic applications have based their justification upon the theory of communicative musicality, which considers the ability to produce and recognize the shapes and expressive qualities in time that characterize and provide sense to sounds as the foundation of social interactions, even in the early stages of development. Relying on the idea that children with autism retain this ability, despite the behavioral, social, and language problems, devices that use music for therapeutic purposes have shown beneficial outcomes for this population. This research aimed to evaluate whether the musicality of children with autism can be approached with therapeutic purposes by using songs that relate to their sound identity and introduce a possible field for the emergence of expressive movements and social interactions. To this end, a therapeutic atelier was organized with the participation of five children aged between four and nine years, during one year, with a weekly frequency and duration of an hour, for a total of 20 sessions. The procedures employed were musical improvisation, musical play and recreation of songs. The sessions were recorded with a video camera and segments were selected and microanalyzed, being later described in verbal language, musical scores and acoustic analysis graphics, embedded in individual case studies using the categories of the Psychoanalytic Evaluation After 3 years as clinical indicators. Simultaneously, a bibliographic survey of books, journal articles, theses and academic dissertations that include the investigated subjects was performed, resulting in a narrative review of studies on a broad range of disciplines. The research indicates that music and songs produce therapeutic effects in children with autism, which can be understood in their intra-psychic, inter-subjective and socio-cultural dimensions. The music atelier also contributes to the development of the psychic function of the voice and the flexibility of the development of musical cells into motifs and more complex figures. It also generates possibilities for imitation, synchronization and coordination of movements, facilitating social interaction among its participants. One of the dynamics that produced more intense social engagements was the group construction of narratives from musical and thematic ideas brought by the children. In addition, music had a more efficient effect than orders, requests and verbal reprimands in containing the agitated and aggressive movements of some children. Thus, the hypothesis was partially proven, in view of the many expressive movements and social interactions. On the other hand, the theoretical notion that these processes are oriented by the concept of identity was not supported by this research, since the most important movements of subjective constitution evidenced in the empirical part might be translated as identification processes, not of identity expressionBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPKupfer, Maria Cristina MachadoAvila, Daniel Camparo2016-04-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-25112016-170819/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2017-09-04T21:05:35Zoai:teses.usp.br:tde-25112016-170819Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212017-09-04T21:05:35Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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