Mito, história e narrativa em Le Roi des Aulnes, de Michel Tournier

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Villi, Aline da Silva Lima
Data de Publicação: 2010
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde-07052010-115555/
Resumo: A reelaboração de mitos caracteriza, fundamentalmente, a obra do francês Michel Tournier. Nesta pesquisa, procurou-se analisar o romance Le Roi des Aulnes, publicado em 1970, que narra a trajetória de uma personagem fantástica em busca de seu destino em plena segunda guerra, no centro do império nazista. O trabalho foca as estratégias empregadas para construir uma narrativa que vincula tão fortemente questões históricas com elementos míticos, além de investigar o potencial crítico da obra. A partir de bibliografia específica, procurou-se situar o conceito de mito, observar seus aspectos religiosos e políticos e analisar a configuração que o autor deu ao mito em sua obra. De modo geral, a recriação mítica se mostrou um conceito insuficiente para a análise e interpretação literária, pois a limitação do romance em sua esfera mítico-religiosa empobrece a compreensão da obra. A pesquisa revelou ainda que entre mito e história há vários processos de travessia de sentido, que operam graças à fabulação e à criatividade do autor, de modo que os elementos históricos foram incorporados à obra de maneira distorcida, velada, por vezes mitologizada, assim como os elementos míticos e fantásticos conduzem uma crítica severa à ideologia e política nazistas. Os aspectos míticos da obra trabalham em função sobretudo de criar as balizas morais dentro das quais as personagens atuam, além de abrir um espaço para que o leitor participe da construção do sentido da obra na medida em que ele é envolvido pelas regras do sistema mítico configurado. Por sua vez, a historicidade da obra conta sobretudo com a instabilidade dos elementos formais, bem como dos paradoxos e vicissitudes engendrados pelos elementos míticos para indicar, muito mais do que o registro de uma época, a projeção literária de uma dilema histórico. Em outras palavras, este romance é profundamente crítico e historicizante justamente porque ele não conta com uma linguagem realista, descritiva e estável; é no reconhecimento da precariedade da expressão, no momento em que apenas uma linguagem multireferenciada e delirante consegue abordar um contexto histórico problemático que a possibilidade de lucidez e elaboração desponta no horizonte.
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De modo geral, a recriação mítica se mostrou um conceito insuficiente para a análise e interpretação literária, pois a limitação do romance em sua esfera mítico-religiosa empobrece a compreensão da obra. A pesquisa revelou ainda que entre mito e história há vários processos de travessia de sentido, que operam graças à fabulação e à criatividade do autor, de modo que os elementos históricos foram incorporados à obra de maneira distorcida, velada, por vezes mitologizada, assim como os elementos míticos e fantásticos conduzem uma crítica severa à ideologia e política nazistas. Os aspectos míticos da obra trabalham em função sobretudo de criar as balizas morais dentro das quais as personagens atuam, além de abrir um espaço para que o leitor participe da construção do sentido da obra na medida em que ele é envolvido pelas regras do sistema mítico configurado. Por sua vez, a historicidade da obra conta sobretudo com a instabilidade dos elementos formais, bem como dos paradoxos e vicissitudes engendrados pelos elementos míticos para indicar, muito mais do que o registro de uma época, a projeção literária de uma dilema histórico. Em outras palavras, este romance é profundamente crítico e historicizante justamente porque ele não conta com uma linguagem realista, descritiva e estável; é no reconhecimento da precariedade da expressão, no momento em que apenas uma linguagem multireferenciada e delirante consegue abordar um contexto histórico problemático que a possibilidade de lucidez e elaboração desponta no horizonte.The re-elaboration of myths deeply characterizes the work of the French writer, Michel Tournier. The present research focused itself on the analysis of his novel Le Roi des Aulnes, published in 1970, which narrates the trajectory of a fantastic character in a quest for his fate in the middle of World War II, at the center of the Nazist Empire. The research focused on the strategies employed to build a narrative that so strongly links historic issues with mythic elements, aside from investigating the critical potential of that work. From a specific bibliography, it tried to place the concept of myth, observe its religious and political aspects and analyze the configuration that the author gave to myth in his work. In general, mythic re-creation showed itself to be an insufficient concept to the literary analysis and interpretation, since limiting the novel to its mythic-religious sphere leads to poor comprehension of the work. The research also revealed that between myth and history there are several sense transference processes, which operate thanks to the author\'s storytelling and creativity, so that historic elements were incorporated to the work in twisted, veiled and at times mythologized ways, just as mythic elements conduce severe critics to nazist ideology and politics. Mythic aspects of the work operate above all to create moral guidelines within which characters act, besides making room for the reader to participate in the construction of the sense of the work, as he gets involved by the configured mythic system. On its turn, the historicity of this work counts above all with the instability of formal elements as well as of the paradoxes and vicissitudes engendered by mythic elements to indicate, far more than the record of a time, the literary projection of a historic dilemma. In other words, this novel is deeply critical and historicizing precisely because it does not employ realistic descriptive and stable language; it is in the recognition of the precariety of expression - on those moments that only multireferenced and delirious language can approach a problematic historic context - that the possibility for lucidity and elaboration shimmers on the horizon.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPinto, Maria Cecilia Queiroz de MoraesVilli, Aline da Silva Lima2010-04-23info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde-07052010-115555/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:05Zoai:teses.usp.br:tde-07052010-115555Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:05Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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