Ideologia, política e indústria cultural: um estudo sobre o Projeto Brasil que eu quero, da TV Globo, nas Eleições 2018

• Autor(a) principal: Oliveira, Herik Rafael de
• Data de Publicação: 2022
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
• Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-15022023-185831/
• topic: Democracia; Democracy; Escola de Frankfurt; Frankfurt School; Informação; Information; Opinião; Opinion; Propaganda; Propaganda

Esta pesquisa dedicou-se à análise das conformações da ideologia no Projeto Brasil que eu quero (PBQQ), uma campanha da TV Globo cujo objetivo era apresentar desejos dos brasileiros tendo em vista as eleições de 2018. Fundamentado em reflexões da Teoria Crítica da Sociedade, o trabalho partiu de um levantamento sistemático da bibliografia sobre política, democracia, mídia e indústria cultural no indexador SciELO. Com base na análise dos títulos, resumos e palavras-chave dos 130 artigos coligidos e, posteriormente, fundamentado na leitura integral e análise de 38 artigos selecionados daquele corpus principal, apresentou-se criticamente as principais características, tendências, métodos, concepções, problemáticas e conceitos dos estudos sobre a temática indicando possíveis limites e reafirmando a necessidade das reflexões fundamentadas em uma teoria crítica e materialista quando se estuda a relação entre a política e os meios de comunicação. A tensão entre aspectos da produção sobre mídia e política e proposições de T. W. Adorno, M. Horkheimer e outros autores fundamentou os procedimentos, categorias e concepções para a análise do PBQQ, definindo a necessidade de se atentar, principalmente, à ideologia, aos aspectos psicológicos mobilizados pela campanha, à sua conformidade com as características da indústria cultural e às bases objetivas da sociedade capitalista tardia industrial. Identificou-se que o PBQQ operou como um dispositivo de inflação e administração das opiniões sobre política, cujos efeitos deletérios têm sido observados, e de legitimação dos conteúdos apresentados nos telejornais. Ao utilizar estratégias de integração e massificação do público apoiadas na repetição e na regressão mimética, o empreendimento se configurou como um aparato de participação política administrada. Seus estratagemas pressupunham regressões psicológicas como a reificação da consciência e a mentalidade do ticket. Encoberta por um verniz democrático, a iniciativa atuou como meio difusor de um estado calamitoso de crise social, de conformismo e de reacionarismo ao inflamar a comunicação dos problemas sociais sem prezar pela reflexão crítica. Baseado na análise de conteúdo das manifestações do público exibidas em articulação com materiais jornalísticos, identificou-se que, operando conforme o esquematismo da indústria cultural, o PBQQ tornou-se um artifício de modelagem da percepção e do entendimento, interpondo entre os sujeitos e a realidade sociopolítica conglomerados ideológicos concernentes a valores religiosos; a aspectos relacionados à indignação, à cólera e ao ressentimento; à ocultação das desigualdades existentes entre os sujeitos sociais que constituem a realidade agrária do país; à propagação de soluções alinhadas aos interesses macroeconômicos para o problema do desemprego; à redução dos impasses sociais a questões de competência técnico-administrativa; à difusão da exaltação da natureza, obnubilando a consciência dos problemas políticos; à disseminação da pauta anticorrupção amplamente mobilizada por movimentos regressivos; à exaltação nacionalista da ordem e do progresso; à ruptura com o passado ou à propagação de um saudosismo a despeito da violência política; à disseminação da necessidade urgente de mudança sem conteúdo social determinado. Foram identificadas correspondências entre esses conglomerados e forças políticas em disputa nas eleições respaldando o entendimento de que o PBQQ atuou como propaganda favorável ao processo de coordenação e avanço do autoritarismo e do reacionarismo no Brasil