Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bento, Sergio Guilherme Cabral
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-08032016-155126/
Resumo: A poesia de José Paulo Paes, produzida ao longo de mais de meio século, exibe uma considerável diversidade de formas e conteúdos, desde manifestações líricas a poemas em prosa, de experimentações visuais e fotográficas a brevíssimos textos cômicos. De forma geral, porém, a contraposição entre o desencanto e a utopia é um fundo temático que subsiste em boa parte desta obra, com oscilações entre ambos os polos. O presente trabalho sustenta que, apesar dos momentos em que há de fato um exaurimento da esperança diante do mundo e suas instituições opressoras, a tônica de sua poética é a presença de uma voz utópica, mais definida e clara até os anos 50, e que vai empalidecendo sistematicamente a partir da década seguinte, com a consagração da sociedade de consumo e do capitalismo tardio. Tal vetor de resistência atinge o quase desaparecimento, metaforizado pelos escombros, que, ainda fumegantes, conservam contudo a possibilidade da utopia. Esta, raramente enunciada de forma explícita, expressa-se primordialmente por dois modos distintos, a saber: a) a memória, primeiramente enquanto tentativa de intervenção política por meio da revisitação histórica, e posteriormente como rememoração individual, retorno à infância em uma estética tardia de natureza narrativa, de pouquíssimos efeitos poéticos, que se afasta do estilo consagrado do escritor em livros anteriores; b) o humor, que evolui de uma ironia mais direta e agressiva ao epigrama chistoso, elaborada forma poemática que consiste em obter comicidade a partir de trocadilhos, paronomásias, homonímias, enfim, com o trabalho linguístico. A partir, então, de ambas as estratégias, o poeta, de maneiras diferentes, se aproxima da oralidade, seja no ato de narrar histórias, seja na manipulação lúdica dos significantes, o que remonta às tradições de povos antigos e/ou sem uma cultura escrita. Tal retorno ao passado da humanidade (ou do sujeito, o in fans, aquele que não fala) é uma saída da História, uma negação do nefasto tempo presente e um modo de existir possível à utopia. Tal postura, em Paes, é satírica, bem como política. Por conta disso, a fim de se expandirem as possibilidades de iluminação crítica do período, faz-se ainda um painel acerca da poesia engajada e do chiste no pós-guerra brasileiro.
id USP_986fc3375ea6a574d8421b2cb7cf4cac
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-08032016-155126
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo PaesUnder steaming debris: wit and memory as ways for a utopia in José Paulo Paes poetryAfter war poetryChisteContemporary poetryJosé Paulo PaesJosé Paulo PaesMemóriaMemoryPoesia contemporâneaPoesia pós-guerraWitA poesia de José Paulo Paes, produzida ao longo de mais de meio século, exibe uma considerável diversidade de formas e conteúdos, desde manifestações líricas a poemas em prosa, de experimentações visuais e fotográficas a brevíssimos textos cômicos. De forma geral, porém, a contraposição entre o desencanto e a utopia é um fundo temático que subsiste em boa parte desta obra, com oscilações entre ambos os polos. O presente trabalho sustenta que, apesar dos momentos em que há de fato um exaurimento da esperança diante do mundo e suas instituições opressoras, a tônica de sua poética é a presença de uma voz utópica, mais definida e clara até os anos 50, e que vai empalidecendo sistematicamente a partir da década seguinte, com a consagração da sociedade de consumo e do capitalismo tardio. Tal vetor de resistência atinge o quase desaparecimento, metaforizado pelos escombros, que, ainda fumegantes, conservam contudo a possibilidade da utopia. Esta, raramente enunciada de forma explícita, expressa-se primordialmente por dois modos distintos, a saber: a) a memória, primeiramente enquanto tentativa de intervenção política por meio da revisitação histórica, e posteriormente como rememoração individual, retorno à infância em uma estética tardia de natureza narrativa, de pouquíssimos efeitos poéticos, que se afasta do estilo consagrado do escritor em livros anteriores; b) o humor, que evolui de uma ironia mais direta e agressiva ao epigrama chistoso, elaborada forma poemática que consiste em obter comicidade a partir de trocadilhos, paronomásias, homonímias, enfim, com o trabalho linguístico. A partir, então, de ambas as estratégias, o poeta, de maneiras diferentes, se aproxima da oralidade, seja no ato de narrar histórias, seja na manipulação lúdica dos significantes, o que remonta às tradições de povos antigos e/ou sem uma cultura escrita. Tal retorno ao passado da humanidade (ou do sujeito, o in fans, aquele que não fala) é uma saída da História, uma negação do nefasto tempo presente e um modo de existir possível à utopia. Tal postura, em Paes, é satírica, bem como política. Por conta disso, a fim de se expandirem as possibilidades de iluminação crítica do período, faz-se ainda um painel acerca da poesia engajada e do chiste no pós-guerra brasileiro.José Paulo Paes poetry, written throughout over fifty years, displays a considerable diversity of both form and content, ranging from lyric manifestation to prose poems, from visual and photographic experimental poetry to short comic texts. In general terms, however, the opposition discouragement/utopia is the thematic scenery that persists over most of his works, oscillating between both poles. The present dissertation defends that, in spite of several moments in which it is noticeable the fatigue of his hopes due to the world´s oppressing institutions, the major tone of his poetics is the existence of a utopian voice, more defined up to the fifties, that gradually weakens from the sixties on, after the consolidation of late capitalism and the mass consumption society. Such resistance arm practically vanishes away, which is portrayed by the metaphor \"debris\", which, nonetheless, are still \"steaming\", conserving the possibility of utopia. The latter, rarely expressed in an explicit way, is presented basically by two different modes: a) the memory, firstly as an attempt of a political intervention through the historical re-analysis, and, afterwards, by the personal remembrance, the return to childhood in a rather peculiar esthetical form: through narrative verses with no or very few poetic effects, far from the style the author used to have in previous books; b) the humor, which evolves from a more direct and sharp irony to the witty epigram, an elaborate poematic structure that obtains humor from puns, paronyms, homonyms, i.e., with the linguistic handling. Then, both strategies, in different ways, lead the poet to approach the orality in his works, be it in the act of narrating, be it in the joyful work of the signifier, which brings such poetry to the tradition of ancient societies and/or societies with no written culture. Such return to the past of humanity (or of the infant, from the Latin in fans, the one who does not speak) is an exit from History, a negation of the horrid present and a possible mode of existing for utopia. This posture, in Paes, is both satirical and political. Due to that, an after war Brazilian poetry overview has been done concerning both topics, so that they can be enlightened in such generation.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPBosi, VivianaBento, Sergio Guilherme Cabral2015-10-21info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-08032016-155126/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2017-09-04T21:06:17Zoai:teses.usp.br:tde-08032016-155126Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212017-09-04T21:06:17Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes
Under steaming debris: wit and memory as ways for a utopia in José Paulo Paes poetry
title Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes
spellingShingle Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes
Bento, Sergio Guilherme Cabral
After war poetry
Chiste
Contemporary poetry
José Paulo Paes
José Paulo Paes
Memória
Memory
Poesia contemporânea
Poesia pós-guerra
Wit
title_short Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes
title_full Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes
title_fullStr Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes
title_full_unstemmed Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes
title_sort Sob escombros fumegantes: humor e memória como modos de utopia na poesia de José Paulo Paes
author Bento, Sergio Guilherme Cabral
author_facet Bento, Sergio Guilherme Cabral
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Bosi, Viviana
dc.contributor.author.fl_str_mv Bento, Sergio Guilherme Cabral
dc.subject.por.fl_str_mv After war poetry
Chiste
Contemporary poetry
José Paulo Paes
José Paulo Paes
Memória
Memory
Poesia contemporânea
Poesia pós-guerra
Wit
topic After war poetry
Chiste
Contemporary poetry
José Paulo Paes
José Paulo Paes
Memória
Memory
Poesia contemporânea
Poesia pós-guerra
Wit
description A poesia de José Paulo Paes, produzida ao longo de mais de meio século, exibe uma considerável diversidade de formas e conteúdos, desde manifestações líricas a poemas em prosa, de experimentações visuais e fotográficas a brevíssimos textos cômicos. De forma geral, porém, a contraposição entre o desencanto e a utopia é um fundo temático que subsiste em boa parte desta obra, com oscilações entre ambos os polos. O presente trabalho sustenta que, apesar dos momentos em que há de fato um exaurimento da esperança diante do mundo e suas instituições opressoras, a tônica de sua poética é a presença de uma voz utópica, mais definida e clara até os anos 50, e que vai empalidecendo sistematicamente a partir da década seguinte, com a consagração da sociedade de consumo e do capitalismo tardio. Tal vetor de resistência atinge o quase desaparecimento, metaforizado pelos escombros, que, ainda fumegantes, conservam contudo a possibilidade da utopia. Esta, raramente enunciada de forma explícita, expressa-se primordialmente por dois modos distintos, a saber: a) a memória, primeiramente enquanto tentativa de intervenção política por meio da revisitação histórica, e posteriormente como rememoração individual, retorno à infância em uma estética tardia de natureza narrativa, de pouquíssimos efeitos poéticos, que se afasta do estilo consagrado do escritor em livros anteriores; b) o humor, que evolui de uma ironia mais direta e agressiva ao epigrama chistoso, elaborada forma poemática que consiste em obter comicidade a partir de trocadilhos, paronomásias, homonímias, enfim, com o trabalho linguístico. A partir, então, de ambas as estratégias, o poeta, de maneiras diferentes, se aproxima da oralidade, seja no ato de narrar histórias, seja na manipulação lúdica dos significantes, o que remonta às tradições de povos antigos e/ou sem uma cultura escrita. Tal retorno ao passado da humanidade (ou do sujeito, o in fans, aquele que não fala) é uma saída da História, uma negação do nefasto tempo presente e um modo de existir possível à utopia. Tal postura, em Paes, é satírica, bem como política. Por conta disso, a fim de se expandirem as possibilidades de iluminação crítica do período, faz-se ainda um painel acerca da poesia engajada e do chiste no pós-guerra brasileiro.
publishDate 2015
dc.date.none.fl_str_mv 2015-10-21
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-08032016-155126/
url http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-08032016-155126/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1809090502750896128