O fim da demanda: a Terra-média de J.R.R. Tolkien entre a vontade de poder e o escape da morte

• Autor(a) principal: Semmelmann, Cristina Casagrande de Figueiredo
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
• Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8156/tde-23022024-115957/
• topic: Death and immortality; Demanda; Felicidade; Happiness; J.R.R. Tolkien; J.R.R. Tolkien; Morte e imortalidade; Quest; Vontade de poder; Will to power

As narrativas de J.R.R. Tolkien são permeadas de personagens designados a perigosas missões em um universo imaginário detalhadamente construído o que nos leva a indagar o que buscam, de modo mais profundo, seus protagonistas ao assumirem demandas tão audaciosas e de que forma isso se relaciona com alguma ideia de felicidade, bem como o quanto se distancia de conceitos vazios de sentido (natural e sobrenatural). Seus livros mais conhecidos, como O Senhor dos Anéis (1954-55) e O Hobbit (1937), são um sucesso mundial desde seus lançamentos até os dias de hoje, tornando-se um paradigma da literatura de fantasia moderna. Isso pode nos levar a refletir quais características dessas obras contribuem para haver tanto interesse em públicos de diferentes gerações e se há nisso uma relação com as incumbências assumidas pelos próprios personagens centrais. Tendo em vista o interesse do leitor contemporâneo por tais obras, a tese se propõe a investigar, no âmbito da literatura comparada, especificamente na interface entre Literatura e Filosofia, incluindo o campo da Teologia, a relação entre as demandas dos personagens na obra literária de Tolkien e o conceito de eudaimonia proposto por Aristóteles em seu livro Ética a Nicômaco (século IV a.C.), junto ao conceito cristão de bem-aventurança presente, notadamente, no discurso de teólogos como Agostinho e Tomás de Aquino. Considera-se também, nesse contexto, o contraste com as diferentes perspectivas da filosofia moderna, especialmente com a de Nietzsche em Vontade de Potência (1901). Por meio do estudo da demanda a busca que cada personagem é incumbido a fazer voluntariamente ou não , a tese pretende demonstrar, tendo como base os argumentos do próprio Tolkien em seu ensaio Sobre Estórias de Fadas (1939), além das ideias da filosofia clássica e da teologia cristã, de que maneira a busca está ligada ao anseio pela felicidade (seja eudaimonia, nos conceitos aristotélicos, ou bem-aventurança, no sentido cristão) inerente ao ser humano, no Mundo Primário ou Secundário. Os personagens centrais tolkienianos, ao assumirem uma demanda, deixando o seu contexto ordinário para atravessarem o limiar do extraordinário, seriam assim impulsionados, ainda que de uma forma inconsciente e diminuta, pelo desejo de encontrar a felicidade, tanto do ponto de vista pessoal quanto comunitário. Muito se tem estudado sobre a jornada do indivíduo, que cresce e se desenvolve em sua história, como em O Herói de Mil Faces (1949), de Joseph Campbell, chegando à conclusão de que os diversos mitos espalhados pelo mundo têm muitos pontos em comum, seguindo, basicamente, o mesmo paradigma. Mas, segundo Tolkien, em seu ensaio Sobre Estórias de Fadas, o mais importante é saber o que cada história tem de única frente às demais, especialmente quando se questiona para que elas servem. Por isso, a tese procura desenvolver e aprofundar a resposta que o próprio Tolkien tenta dar para essa pergunta em seu ensaio, argumentando que as estórias de fadas oferecem fantasia, recuperação, escape e consolação. Quanto a essa última, o autor a relaciona ao conceito de eucatástrofe, que considera a esperança de um final feliz para além da catástrofe da tragédia e até mesmo da morte. Dessa forma, em contraste e oposição com a ausência de sentido (niilismo), buscaremos, por meio da Literatura associada à Filosofia e à Teologia, aprofundar-nos na compreensão de um dos mais complexos conceitos humanos: a felicidade