Educação em tempo integral: infância, família e desenvolvimento moral
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-03122021-162403/ |
Resumo: | A partir da década de 1990 podemos dizer que as crianças brasileiras estão passando mais tempo nas escolas (em relação às gerações anteriores), tendo em vista a diminuição da idade escolar obrigatória, o aumento do calendário letivo e, especialmente, a expansão da escolarização em tempo integral, que é uma das propostas mais enfatizadas e recorrentes na área de educação. Contudo, apesar de se tratar de uma prática que implica em alterações significativas no cotidiano das crianças, ainda encontramos poucas pesquisas e reflexões sobre o assunto no campo da psicologia. Tendo em vista este panorama, foi realizada uma pesquisa do tipo survey com a proposta de descrever as principais características da infância na educação em tempo integral, destacando a rotina das crianças, os papéis da escola e da família e o desenvolvimento moral. A pesquisa foi desenvolvida com base em dois procedimentos: 1) Estudo quantitativo, baseado em questionários fechados; 2) Investigação qualitativa, baseada em entrevistas abertas. Os participantes foram 95 escolas públicas e privadas, 63 professores, 132 pais e 125 crianças de 6 a 12 anos de ambos os sexos. Os dados foram tratados com base na estatística descritiva e análise de conteúdo. A reflexão sobre os resultados nos permitiu inferir que, apesar da escola em tempo integral ser importante no sentido de proteção da criança e aprendizagem de conteúdos diferenciados, a infância neste contexto é basicamente marcada por um ritmo de vida fragmentado, com excesso de atividades agendadas e pouco tempo livre para brincar e criar espontaneamente. As crianças permanecem a maior parte do tempo confinadas em espaços fechados, tendo pouco contato com a natureza. O convívio com a família fica bastante restrito e praticamente não ocorre interação com a comunidade e outros contextos sociais. Há o predomínio de uma vida essencialmente coletiva, fazendo com que as crianças fiquem submetidas a um excesso de regras e recebam pouca atenção individual. E, por fim, a socialização entre pares é constantemente supervisionada, havendo pouco espaço para a resolução de conflitos sem a interferência adulta, o que pode prejudicar o desenvolvimento da iniciativa, da criatividade e da autonomia moral. Num contexto social mais amplo, a educação em tempo integral parece se inserir num projeto social de infância voltado para as necessidades e demandas do mundo adulto, numa sociedade marcada pelo excesso de trabalho, pelo consumismo, pela desigualdade de gênero, pelo descaso com a vida privada e comunitária e pela desvalorização da infância. Esse quadro repercute na priorização da segurança da criança e sua formação (preparação para o futuro), deixando em segundo plano as peculiaridades da infância presente (o brincar, o ócio e a fantasia), o que nos permite concluir que, na rotina de uma educação em tempo integral, a infância acaba sendo parcial |
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Tendo em vista este panorama, foi realizada uma pesquisa do tipo survey com a proposta de descrever as principais características da infância na educação em tempo integral, destacando a rotina das crianças, os papéis da escola e da família e o desenvolvimento moral. A pesquisa foi desenvolvida com base em dois procedimentos: 1) Estudo quantitativo, baseado em questionários fechados; 2) Investigação qualitativa, baseada em entrevistas abertas. Os participantes foram 95 escolas públicas e privadas, 63 professores, 132 pais e 125 crianças de 6 a 12 anos de ambos os sexos. Os dados foram tratados com base na estatística descritiva e análise de conteúdo. 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E, por fim, a socialização entre pares é constantemente supervisionada, havendo pouco espaço para a resolução de conflitos sem a interferência adulta, o que pode prejudicar o desenvolvimento da iniciativa, da criatividade e da autonomia moral. Num contexto social mais amplo, a educação em tempo integral parece se inserir num projeto social de infância voltado para as necessidades e demandas do mundo adulto, numa sociedade marcada pelo excesso de trabalho, pelo consumismo, pela desigualdade de gênero, pelo descaso com a vida privada e comunitária e pela desvalorização da infância. Esse quadro repercute na priorização da segurança da criança e sua formação (preparação para o futuro), deixando em segundo plano as peculiaridades da infância presente (o brincar, o ócio e a fantasia), o que nos permite concluir que, na rotina de uma educação em tempo integral, a infância acaba sendo parcialSince the 1990s, it can be said that Brazilian children are spending more time in schools (compared with previous generations), as the compulsory school attendance age has lowered, the school year has become longer, and full-time schooling has gained strength as one of the most emphasized and recurrent approaches in the field of education. But while it brings about significant changes in the daily lives of children, we still find little research and insights on such subject in the field of psychology. In view of this scenario, we have conducted a survey research with the purpose of describing the main characteristics of children enrolled in full-time schooling, highlighting their routine, the roles of both the school and the family, as well as their moral development. The survey was based on two procedures: 1) A quantitative study, based on close-ended questions; 2) A qualitative research, based on open interviews. It included subjects from 95 public and private schools: 63 teachers, 132 parents and 125 children aged 6 to 12 years of both genders. The data analysis used descriptive statistics and content analysis. The results allowed us to infer that, although full-time schooling is important to protect children and for them to learn different skills, children who spend most of their daytime at school live a fragmented life, with too many scheduled extracurriculars and little free time to play and create spontaneously. Children spend most of their time confined in closed spaces, having little contact with nature. Family time is very limited and there is virtually no interaction with the community and other social contexts. Their lives is predominantly collective, making children subject to over-regulation and little individual attention. Finally, peer group socialization is constantly supervised, with little room for independent conflict solving, which can hinder the development of their initiative, creativity and moral autonomy. In a broader social context, full-time schooling seems to be part of a social project for childhood that takes into account the needs and demands of adults, in a society marked by excessive workloads, consumerism, gender inequality, disregard for private and community life and devaluation of childhood. This situation exposes that safety and education, in a sense of preparing children for the future comes first, to the detriment of childhood peculiarities (such as play, leisure and fantasy), which allows us to conclude that, in a full-time schooling routine, childhood is lived only part-timeBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCaetano, Luciana MariaViana, Marcos Alan2021-09-30info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-03122021-162403/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-12-06T13:00:20Zoai:teses.usp.br:tde-03122021-162403Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-06T13:00:20Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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A partir da década de 1990 podemos dizer que as crianças brasileiras estão passando mais tempo nas escolas (em relação às gerações anteriores), tendo em vista a diminuição da idade escolar obrigatória, o aumento do calendário letivo e, especialmente, a expansão da escolarização em tempo integral, que é uma das propostas mais enfatizadas e recorrentes na área de educação. Contudo, apesar de se tratar de uma prática que implica em alterações significativas no cotidiano das crianças, ainda encontramos poucas pesquisas e reflexões sobre o assunto no campo da psicologia. Tendo em vista este panorama, foi realizada uma pesquisa do tipo survey com a proposta de descrever as principais características da infância na educação em tempo integral, destacando a rotina das crianças, os papéis da escola e da família e o desenvolvimento moral. A pesquisa foi desenvolvida com base em dois procedimentos: 1) Estudo quantitativo, baseado em questionários fechados; 2) Investigação qualitativa, baseada em entrevistas abertas. Os participantes foram 95 escolas públicas e privadas, 63 professores, 132 pais e 125 crianças de 6 a 12 anos de ambos os sexos. Os dados foram tratados com base na estatística descritiva e análise de conteúdo. A reflexão sobre os resultados nos permitiu inferir que, apesar da escola em tempo integral ser importante no sentido de proteção da criança e aprendizagem de conteúdos diferenciados, a infância neste contexto é basicamente marcada por um ritmo de vida fragmentado, com excesso de atividades agendadas e pouco tempo livre para brincar e criar espontaneamente. As crianças permanecem a maior parte do tempo confinadas em espaços fechados, tendo pouco contato com a natureza. O convívio com a família fica bastante restrito e praticamente não ocorre interação com a comunidade e outros contextos sociais. Há o predomínio de uma vida essencialmente coletiva, fazendo com que as crianças fiquem submetidas a um excesso de regras e recebam pouca atenção individual. E, por fim, a socialização entre pares é constantemente supervisionada, havendo pouco espaço para a resolução de conflitos sem a interferência adulta, o que pode prejudicar o desenvolvimento da iniciativa, da criatividade e da autonomia moral. Num contexto social mais amplo, a educação em tempo integral parece se inserir num projeto social de infância voltado para as necessidades e demandas do mundo adulto, numa sociedade marcada pelo excesso de trabalho, pelo consumismo, pela desigualdade de gênero, pelo descaso com a vida privada e comunitária e pela desvalorização da infância. Esse quadro repercute na priorização da segurança da criança e sua formação (preparação para o futuro), deixando em segundo plano as peculiaridades da infância presente (o brincar, o ócio e a fantasia), o que nos permite concluir que, na rotina de uma educação em tempo integral, a infância acaba sendo parcial |
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