Inclusão de estudantes com diferenças funcionais: a construção de um currículo cultural da educação física no Cieja

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Martins, Aline Toffoli
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-31102017-121309/
Resumo: O paradigma da inclusão é um tema que vem sendo sistematicamente debatido no âmbito da legislação educacional brasileira desde a década de 1990. Porém, após quase trinta anos de políticas públicas de incentivo à inclusão das pessoas com deficiência nas escolas regulares, ainda nos deparamos com discursos que questionam sua legitimidade. Atualmente, a diretriz política educacional é a da inclusão escolar, muito embora a produção científica referente às experiências escolares, assim como as práticas administrativas e pedagógicas no chão da escola revelem que os valores da integração ainda permeiam o ideário educacional, indicando que há um descompasso entre as políticas públicas e as práticas educacionais. Entendemos que tais contradições, para serem compreendidas, implicam a reflexão sobre o lugar social das chamadas pessoas com deficiência aqui denominadas como pessoas com diferenças funcionais. Lugar social que supõe discussões sobre a produção da anormalidade, de corpos normofuncionais e dos processos educacionais. Por sua vez, a Educação Física tem sido concebida a partir de perspectivas historicamente fundamentadas em princípios elitistas, excludentes, classificatórios e monoculturais. Neira e Nunes (2009) têm discutido sobre o currículo cultural da Educação Física. O objetivo foi acompanhar a produção do currículo em ação de Educação Física, fundamentado nos princípios do currículo cultural do componente, a fim de compreender seus efeitos no processo de inclusão escolar de pessoas com diferenças funcionais em um Centro educacional integrado de jovens e adultos Cieja. O recorte estabelecido foi o da modalidade de Educação de jovens e adultos/as em uma escola da rede pública de ensino do município de São Paulo, em que acompanhamos, por um ano e meio, a professora de Educação Física, a professora da sala de recursos multifuncionais e seus/suas estudantes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, inspirada na etnografia. A experiência de campo constituiuse a partir da observação participante das aulas de Educação Física, de entrevistas semidirigidas com docentes e de grupo focal com estudantes, sendo todo o material registrado em um diário de campo. Concluímos que o currículo cultural da Educação Física abre possibilidades educacionais junto ao segmento populacional em foco ao reconhecer as diferenças entre os/as estudantes, estabelecendo uma ética das práticas corporais como manifestações da cultura. Foi possível apreender uma experiência de ressignificação das possibilidades de expressão e aprendizagem das pessoas com diferenças funcionais, em um paradigma que rompe com o capacitismo na Educação Física, posto que possibilitou o acolhimento dessa população de uma forma mais justa e alinhada a princípios democráticos. Entretanto, mesmo nesse campo teóricoprático, quando a discussão incide sobre as pessoas com diferenças funcionais, foram percebidos aspectos de ambiguidade, pois, em muitos momentos, há prejuízo de leituras de cunho social e cultural da realidade, com retomada de perspectivas de caráter orgânico. Na produção de conhecimento relativa aos Estudos Culturais, é incipiente o impacto da discussão sobre a produção social das diferenças funcionais, a organização desse grupo como movimento reivindicatório e as suas manifestações culturais. Nesse sentido, as teorias Crip apresentam-se como elementos fundamentais para fazer avançar os estudos comprometidos com a ruptura do ideário normofuncional de corpo.
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Atualmente, a diretriz política educacional é a da inclusão escolar, muito embora a produção científica referente às experiências escolares, assim como as práticas administrativas e pedagógicas no chão da escola revelem que os valores da integração ainda permeiam o ideário educacional, indicando que há um descompasso entre as políticas públicas e as práticas educacionais. Entendemos que tais contradições, para serem compreendidas, implicam a reflexão sobre o lugar social das chamadas pessoas com deficiência aqui denominadas como pessoas com diferenças funcionais. Lugar social que supõe discussões sobre a produção da anormalidade, de corpos normofuncionais e dos processos educacionais. Por sua vez, a Educação Física tem sido concebida a partir de perspectivas historicamente fundamentadas em princípios elitistas, excludentes, classificatórios e monoculturais. Neira e Nunes (2009) têm discutido sobre o currículo cultural da Educação Física. O objetivo foi acompanhar a produção do currículo em ação de Educação Física, fundamentado nos princípios do currículo cultural do componente, a fim de compreender seus efeitos no processo de inclusão escolar de pessoas com diferenças funcionais em um Centro educacional integrado de jovens e adultos Cieja. O recorte estabelecido foi o da modalidade de Educação de jovens e adultos/as em uma escola da rede pública de ensino do município de São Paulo, em que acompanhamos, por um ano e meio, a professora de Educação Física, a professora da sala de recursos multifuncionais e seus/suas estudantes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, inspirada na etnografia. A experiência de campo constituiuse a partir da observação participante das aulas de Educação Física, de entrevistas semidirigidas com docentes e de grupo focal com estudantes, sendo todo o material registrado em um diário de campo. Concluímos que o currículo cultural da Educação Física abre possibilidades educacionais junto ao segmento populacional em foco ao reconhecer as diferenças entre os/as estudantes, estabelecendo uma ética das práticas corporais como manifestações da cultura. Foi possível apreender uma experiência de ressignificação das possibilidades de expressão e aprendizagem das pessoas com diferenças funcionais, em um paradigma que rompe com o capacitismo na Educação Física, posto que possibilitou o acolhimento dessa população de uma forma mais justa e alinhada a princípios democráticos. Entretanto, mesmo nesse campo teóricoprático, quando a discussão incide sobre as pessoas com diferenças funcionais, foram percebidos aspectos de ambiguidade, pois, em muitos momentos, há prejuízo de leituras de cunho social e cultural da realidade, com retomada de perspectivas de caráter orgânico. Na produção de conhecimento relativa aos Estudos Culturais, é incipiente o impacto da discussão sobre a produção social das diferenças funcionais, a organização desse grupo como movimento reivindicatório e as suas manifestações culturais. Nesse sentido, as teorias Crip apresentam-se como elementos fundamentais para fazer avançar os estudos comprometidos com a ruptura do ideário normofuncional de corpo.The inclusion paradigm is a subject that has been systematically debated within the scope of Brazilian educational legislation since the 1990s. However, after almost thirty years of public policies to encourage the inclusion of people with disabilities in regular schools, we are still faced with speeches which question their legitimacy. Currently, the educational policy directive is that of school inclusion, although the scientific production referring to the school experiences, as well as the administrative and pedagogical practices on the school floor reveal that the values of integration still permeate the educational ideology, indicating that there is a mismatch between public policies and educational practices. We understand that these contradictions, to be understood, imply reflection on the social place of the so-called disabled people - here called people with functional differences. Social place that supposes discussions about the production of the abnormality, normofunctional bodies and the educational processes. In turn, Physical Education has been conceived from perspectives historically based on elitist, excluding, classificatory and monocultural principles. Neira and Nunes (2009) have discussed the cultural curriculum of Physical Education. In view of this context, our goal was to accompany the daily making of a curriculum-action of Physical Education, based on the principles of the cultural curriculum, n order to understand its effects in the process of school inclusion of people with functional differences in an integrated educational center for youth and adults Cieja. The established cut is the one of the modality of Education of young people and adults in a school of the public school of the city of São Paulo, where we accompany, for a year and a half, the Physical Education teacher, the teacher of the Room of Multifunctional resources and students. This is a qualitative research, exploratory in nature, inspired by ethnography. The field experience consisted of the participant observation of Physical Education classes, semistructured interviews with teachers and a focus group with students, all of the material being recorded in a field diary. We conclude that the cultural curriculum of Physical Education opens educational possibilities to the population segment in focus by recognizing the differences between the students, establishing an ethics of the corporal practices as manifestations of the culture. It was possible to perceive an experience of re-signification of the possibilities of expression and learning of people with functional differences, in a paradigm that breaks with the ableism in Physical Education, since it enabled the reception of this population in a fairer and aligned way with democratic principles. However, even in this theoretical-practical field, when the discussion focuses on people with functional differences, aspects of ambiguity have been perceived, since, in many instances, there is a loss of social and cultural readings of reality, with a resumption of character perspectives organic. In the production of knowledge related to Cultural Studies, the impact of the discussion on the social production of functional differences, the organization of this group as a protest movement and its cultural manifestations is incipient. In this sense, the Crip theories are presented as fundamental elements to advance the studies committed with the rupture of the normofunctional idea of body.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPAngelucci, Carla BianchaMartins, Aline Toffoli2017-08-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-31102017-121309/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-07-17T16:38:18Zoai:teses.usp.br:tde-31102017-121309Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-07-17T16:38:18Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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