Entre ritos, escolhas e estratégias de mudança: as dinâmicas do processo orçamentário no município de São Paulo (2003 a 2022)
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2024 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-27082024-082521/ |
Resumo: | O orçamento público, entendido como instrumento político de definição da agenda política de um governo, é construído de maneira contínua e dinâmica durante sua implementação. Nesse sentido, as alterações do orçamento são primordialmente explicadas por dinâmicas relacionadas à formação da agenda governamental, que não é integralmente representada pelo orçamento aprovado, e responde a dinâmicas econômico-financeiras, organizacionais e político-eleitorais. A tese discute como, diferentemente do que sugerem o senso comum e parte da literatura, as escolhas alocativas do governo se distribuem durante todo o processo orçamentário, não se restringindo à etapa de planejamento, e como a agenda de prioridades definida em conjunto pelos Poderes Executivo e Legislativo é alterada, de maneira muitas vezes unilateral, mas mediante prévio consentimento entre ambos. Apesar de as alterações orçamentárias envolverem escolhas alocativas que, muitas vezes, não foram submetidas à discussão com o Legislativo, os vereadores se beneficiam da possibilidade de alterar o orçamento para contemplar a indicação de emendas parlamentares durante o ano. A tese assume as premissas de que o orçamento público corresponde a um sistema complexo adaptativo e envolve atores dotados de racionalidade limitada, e dialoga com as teorias do incrementalismo, do equilíbrio pontuado e do feedback de políticas públicas. O recorte geográfico da pesquisa corresponde ao município de São Paulo, com foco nos setores de educação, saúde, cultura e subprefeituras, selecionados como casos de estudo a partir de seus níveis de discricionariedade da despesa e níveis de dificuldade para gastar. A abordagem metodológica é classificada como multimétodos. Três hipóteses são analisadas, segundo as quais o padrão de alterações de orçamento varia conforme (1) características do processo orçamentário, (2) características da burocracia e dos setores de políticas públicas, e (3) características da agenda político-eleitoral. A análise evidenciou comportamentos antecipados e adaptativos dos atores às mudanças do orçamento e do contexto econômico-financeiro, calcados num planejamento intensamente repetitivo e inercial, verificando-se casos em que as despesas são, de forma recorrente, subdimensionadas na proposta orçamentária e suplementadas durante a execução do orçamento. Alguns setores de políticas públicas têm maior chance de alteração orçamentária durante o ano e se diferenciam quanto à capacidade de gastar recursos e obter suplementações, o que está relacionado ao perfil de sua burocracia. Também se evidencia a influência do ciclo político-eleitoral sobre a frequência das alterações orçamentárias por ano, destacando-se a atuação dos vereadores por meio da indicação de emendas parlamentares. A tese identificou, ainda, um padrão de equilíbrio pontuado entre as alterações de orçamento de alguns setores, relacionando-as com mudanças na agenda política do governo após a elaboração do orçamento. Como resultado geral, corrobora-se o argumento de que a agenda política governamental não é perfeitamente representada na lei orçamentária anual, pois o processo orçamentário é contínuo, dinâmico e sujeito a mudanças e pontuações. |
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Entre ritos, escolhas e estratégias de mudança: as dinâmicas do processo orçamentário no município de São Paulo (2003 a 2022)Between rites, choices and strategies for change: the dynamics of the budgetary process in the city of São Paulo (2003 to 2022)Budget executionBudget policiesExecução orçamentáriaGovernançaGovernanceOrçamento públicoPolítica orçamentáriaPolíticas públicasPublic budgetPublic policyO orçamento público, entendido como instrumento político de definição da agenda política de um governo, é construído de maneira contínua e dinâmica durante sua implementação. Nesse sentido, as alterações do orçamento são primordialmente explicadas por dinâmicas relacionadas à formação da agenda governamental, que não é integralmente representada pelo orçamento aprovado, e responde a dinâmicas econômico-financeiras, organizacionais e político-eleitorais. A tese discute como, diferentemente do que sugerem o senso comum e parte da literatura, as escolhas alocativas do governo se distribuem durante todo o processo orçamentário, não se restringindo à etapa de planejamento, e como a agenda de prioridades definida em conjunto pelos Poderes Executivo e Legislativo é alterada, de maneira muitas vezes unilateral, mas mediante prévio consentimento entre ambos. Apesar de as alterações orçamentárias envolverem escolhas alocativas que, muitas vezes, não foram submetidas à discussão com o Legislativo, os vereadores se beneficiam da possibilidade de alterar o orçamento para contemplar a indicação de emendas parlamentares durante o ano. A tese assume as premissas de que o orçamento público corresponde a um sistema complexo adaptativo e envolve atores dotados de racionalidade limitada, e dialoga com as teorias do incrementalismo, do equilíbrio pontuado e do feedback de políticas públicas. O recorte geográfico da pesquisa corresponde ao município de São Paulo, com foco nos setores de educação, saúde, cultura e subprefeituras, selecionados como casos de estudo a partir de seus níveis de discricionariedade da despesa e níveis de dificuldade para gastar. A abordagem metodológica é classificada como multimétodos. Três hipóteses são analisadas, segundo as quais o padrão de alterações de orçamento varia conforme (1) características do processo orçamentário, (2) características da burocracia e dos setores de políticas públicas, e (3) características da agenda político-eleitoral. A análise evidenciou comportamentos antecipados e adaptativos dos atores às mudanças do orçamento e do contexto econômico-financeiro, calcados num planejamento intensamente repetitivo e inercial, verificando-se casos em que as despesas são, de forma recorrente, subdimensionadas na proposta orçamentária e suplementadas durante a execução do orçamento. Alguns setores de políticas públicas têm maior chance de alteração orçamentária durante o ano e se diferenciam quanto à capacidade de gastar recursos e obter suplementações, o que está relacionado ao perfil de sua burocracia. Também se evidencia a influência do ciclo político-eleitoral sobre a frequência das alterações orçamentárias por ano, destacando-se a atuação dos vereadores por meio da indicação de emendas parlamentares. A tese identificou, ainda, um padrão de equilíbrio pontuado entre as alterações de orçamento de alguns setores, relacionando-as com mudanças na agenda política do governo após a elaboração do orçamento. Como resultado geral, corrobora-se o argumento de que a agenda política governamental não é perfeitamente representada na lei orçamentária anual, pois o processo orçamentário é contínuo, dinâmico e sujeito a mudanças e pontuações.Public budget, understood as a political instrument for defining a governments political agenda, is constructed in a continuous and dynamic manner during its implementation. In this sense, budgetary changes or rebudgeting are primarily explained by dynamic processes related to the formation of the governmental agenda, which is not fully represented by the approved budget, and responds to economic-financial, organizational, and political-electoral dynamics. This work discusses how, differently from what is suggested both by common sense and by part of the literature, allocative choices are distributed throughout the budgetary process, not restricted to its planning stage, and how the agenda of priorities defined jointly by the Executive and Legislative Powers is changed, often unilaterally, but with prior consent between both. Although budgetary changes involve allocation choices that were often not submitted for discussion with the Legislature, councilors benefit from the possibility of changing the budget to include the indication of parliamentary amendments during the year. This work assumes the premises that public budget corresponds to a complex adaptive system and involves actors endowed with bounded rationality, and dialogues with incrementalism, punctuated equilibrium theory and policy feedback theory. The geographic scope of the research corresponds to the municipality of São Paulo, focusing on the education, health, culture, and regional administration sectors, selected as case studies based on their levels of discretionary spending and levels of difficulty in spending. The methodological approach is classified as multimethod. Three hypotheses are analyzed, according to which the pattern of budgetary changes varies according to (1) characteristics of the budgetary process, (2) characteristics of the government and public policy sectors, and (3) characteristics of the political-electoral agenda. The analysis highlights how actors behave and respond in anticipated and adaptive manners to changes in the budgetary and economic-financial context, based on intensely repetitive and inertial planning. In some cases, on a recurring basis, expenses are undersized in the budgetary proposal and then supplemented during the budgetary execution. Some public policy sectors have a greater chance of having their budgets changed during the year, and they differ in terms of their ability to spend resources and obtain supplementary allocations, which is related to the profile of their bureaucracy. The influence of the political-electoral cycle on the frequency of budgetarychanges per year is also evident, which highlights the role of councilors through the indication of parliamentary amendments. This work also identifies a pattern of punctuated equilibrium of budgetary changes in some sectors, relating them to changes in the governments political agenda after the approval annual budget is approved. As a general result, this work corroborates the argument that governments political agenda is not perfectly represented in the annual budget, as the budgetary process is continuous, dynamic, and subject to changes and punctuations.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPMarques, Eduardo Cesar LeãoPeres, Ursula DiasGodoy, Samuel Ralize de2024-03-11info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-27082024-082521/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-08-27T11:43:03Zoai:teses.usp.br:tde-27082024-082521Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-08-27T11:43:03Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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